Discurso golpista perde influência entre cristãos, diz ONG

Relatório de grupo de monitoramento formado por católicos e evangélicos cita que conteúdo político e informações falsas perderam tráfego nas bolhas conservadoras

por Vitória Silva sab, 03/12/2022 - 15:37
Ricardo Stuckert/Divulgação Evangélicos com Lula e Alckmin Ricardo Stuckert/Divulgação

Um novo relatório elaborado pela Casa Galileia, organização que reúne pesquisadores e promove iniciativas plurais para o público cristão, divulgou diferentes perspectivas do alcance que tem tido o discurso bolsonarista nas bolhas conservadoras. O foco do último estudo, que foi divulgado pelo Uol, foi a narrativa utilizada por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) para tentar impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

De acordo com os pesquisadores, esses discursos perderam força nas redes evangélicas nos últimos meses. A tática inclui notícias falsas como uma suposta fraude às urnas e até mesmo uma doença grave que Lula teria escondido da mídia e que poderia impedi-lo de cumprir o futuro mandato. 

O monitoramento apontou uma mudança nos conteúdos compartilhados pelas redes da extrema-direita evangélica, que agora publica mensagens de cunho mais religioso, deixando de lado a política. As eleições foram o tema principal das publicações de páginas e perfis ligados ao grupo na reta final da campanha eleitoral.  Ao todo foram analisadas mais de três mil postagens no Facebook, Instagram e Youtube de 308 perfis.  

“A extrema-direita evangélica segue denunciando a perseguição e a censura aos cristãos por parte do presidente eleito Lula e do ministro Alexandre de Moraes [do Tribunal Superior Eleitoral], desmobilizando as narrativas de fraude eleitoral ou de apoio às manifestações golpistas”, aponta o documento. 

Todos contra Moraes 

Apesar da mudança do conteúdo, ainda são encontradas mensagens em apoio aos atos golpistas que acontecem na frente dos quartéis desde o dia 30 de outubro. “É importante destacar que, apesar desses vídeos permanecerem concentrando números consideráveis de visualizações, os vídeos de conteúdos políticos nos canais evangélicos foram pouco mais de 10% na lista dos maiores engajamentos da semana”, cita um outro trecho. 

No rol das postagens que têm como tema a política, o foco se tornou o ministro presidente do Superior Tribunal Eleitoral, Alexandre de Moraes. O pastor Silas Malafaia foi um dos que mais publicou conteúdo contra o magistrado, reiterando a tese falsa de fraude eleitoral. “[Ele] Voltou a chamar Moraes de ditador da toga e sugeriu que os ministros do TSE pedissem demissão”, diz o texto.  

As decisões do ministro quanto a desmonetização de canais propagadores de fake news também têm um amplo espaço nos grupos, que apontam estar havendo censura no Brasil, ignorando que a incitação de golpe militar é crime contra o Estado Democrático de Direito. A mais recente desinformação veiculada pelas redes da extrema-direita evangélica é a suposta doença de Lula, que não teria condições de se tornar mandatário. 

 

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