Zambelli buscou Delgatti para fingir insegurança das urnas

Proposta foi feita junto à promessa de cargo no Governo Bolsonaro, mas não teve sucesso pois relação do hacker com a deputada se tornou pública

por Vitória Silva qui, 17/08/2023 - 10:54
Edilson Rodrigues/Agência Senado Walter Delgatti durante depoimento à CPMI Edilson Rodrigues/Agência Senado

O hacker Walter Delgatti, conhecido por operar a "Vaza Jato", iniciou seu depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro nesta quinta-feira (17). Preso desde 2 de agosto por ser o principal suspeito de uma invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele começou a oitiva dando detalhes de sua relação com a deputada federal Carla Zambelli (PL) e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Respondendo à relatora Eliziane Gama (PSD) sobre uma reunião acontecida em 9 de agosto de 2022, na sede do Partido Liberal (PL), junto à Zambelli e ao presidente Valdemar Costa Neto, Delgatti alegou que foi oferecido duas propostas de participação na campanha de apoio a Bolsonaro. A primeira ideia foi do hacker funcionar como "garoto propaganda" do antigo governo e se infiltrar em uma entrevista com figuras da esquerda, para "jogar" a ideia de que a urna eletrônica é violável.

A segunda proposta foi para que Delgatti, na cerimônia do 7 de Setembro, simulasse uma invasão à urna. Isso aconteceria em frente à população, para "provar" que era possível computar um voto e a urna imprimir um voto diferente. A urna usada na simulação seria emprestada pela Ordem de Advogados do Brasil (OAB), segundo o hacker. As duas propostas teriam sido a pedido de Jair Bolsonaro.

“O Duda disse que o ideal era eu fazer uma entrevista com a esquerda e de forma espontânea, eu falar sobre as urnas, dizer que eram frágeis. Essa foi a proposta inicial, que não ocorreu porque o meu encontro [com Zambelli] saiu na mídia e aí cancelaram. A segunda ideia era pegar uma urna da OAB e eu mostrar à população que é possível acessar a urna, que era possível apertar um voto e imprimir outro. [...] A ideia do Duda não era criar um código-fonte do TSE, mas um fake”, respondeu Delgatti. 

Reunião de 9 de agosto de 2022

Duda, a quem Walter se refere, é Duda Lima, publicitário de Jair Bolsonaro. Nessa reunião, de 9 de agosto, houve dois momentos de conversa. O primeiro com Delgatti, os advogados de Delgatti, Valdemar Costa Neto, Zambelli, e os irmãos e marido de Zambelli. Duda Lima não participou do primeiro momento, pela manhã.

O publicitário chegou para a segunda parte, às 15h, para discutir o aspecto técnico da campanha de marketing. Após um desentendimento entre Carla e os advogados do hacker, a segunda reunião aconteceu apenas com Duda, Carla Zambelli e Walter Delgatti.

“O assunto era bem técnico, até que o Valdemar entrou em contato com o Duda e agendou a outra reunião com o ‘marketeiro’ da campanha. Acredito que o Valdemar não tinha conhecimento técnico [para dar seguimento à reunião sozinho]. Voltei às 15h, mas no meio tempo, os advogados tiveram um desentendimento com Carla Zambelli e foram embora, eu fiquei só”, completou o depoente. 

A relação com Zambelli

Sob depoimento, o hacker Walter Delgatti expôs uma nova versão sobre seu primeiro encontro com a deputada federal Carla Zambelli. Em julho de 2022, uma foto da dupla chegou à internet e levantou especulações sobre a relação da parlamentar com o investigado. Em sua fala, o hacker alegou que a foto foi feita a seu pedido e que apenas trocou números de telefone com a aliada.

A foto foi registrada na saída do hotel Village Inn Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em 28 de julho. Delgatti teria ido ao local para buscar um amigo, foi apresentado à Zambelli e trocou contato no intuito de saber sobre propostas de emprego. O hacker chegou a assessorar as redes da deputada e recebeu R$ 3 mil pelo serviço, que foi suspenso após Zambelli ser impedida judicialmente de usar as redes.

"Ela [Zambelli] disse que me daria uma oportunidade de trabalho na campanha do presidente Jair Bolsonaro. Estive em Brasília, conheci o presidente e em Brasília fui trabalhar nas redes sociais dela. Houve pagamentos, ela me enviou senha dos sites e das redes, mas depois uma decisão do Alexandre de Moraes suspendeu as redes dela e eu não continuei trabalhando”, alegou.  

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