Um resumo de sociologia para você que vai fazer o Enem

Os professores Everaldo Júnior e João Pedro Holanda destacam sociólogos e temáticas importantes para a prova

por Nathan Santos dom, 21/10/2018 - 10:04
Pixabay Disciplina será cobrada na parte de Ciências Humanas do Enem Pixabay

“Uma abordagem que passa muito por temas como cultura, ideologia, movimentos sociais, democracia e que prioriza a interpretação para saber se o aluno está fazendo a leitura de mundo correta. Também há abordagem da cidadania e do mundo do trabalho, que são temas que precisam ser vistos de forma clara pelos alunos”.

A análise do professor de sociologia Everaldo Júnior, com mais de 30 anos de experiência, diz respeito ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nos dias 4 e 11 de novembro, milhões de estudantes de todo o Brasil deverão encarar o processo seletivo que, entre inúmeras áreas do conhecimento, discute questões de Humanas. Sociologia, claramente, precisa de uma atenção especial dos candidatos.

Em entrevista ao LeiaJá, o professor explicou nos mínimos detalhes alguns assuntos e pensadores que são cobrados na prova. Sobre correntes sociológicas, por exemplo, o Everaldo Júnior destaca cinco tópicos: Organicismo Positivista, Teoria do Conflito, Formalismo, Behaviorismo Social e Funcionalismo.

O docente, contudo, reforça que também é necessário compreender sociologicamente as afirmações de grandes pensadores. Confira, a seguir, a explanação do professor de sociologia:

Karl Max

De acordo com o professor, Karl Max é o mais revolucionário pensador sociológico. Ele vai conceber a sociedade dividida em duas classes: os capitalistas, que detém as posses dos meios de produção; e o proletariado, cuja única posse é a força de trabalho vendida ao capital. “Max prende-se aos interesses entre o capital e o trabalho. Ele coloca que a luta de classes é o motor da história. Max é um defensor do comunismo, que seria, segundo ele, a última a fase da sociedade humana”, acrescenta o professor de sociologia.

Émile Durkheim

O pensador está inserido na segunda metade do século 19 até 1917. É considerado o fundador da escola francesa de sociologia. “Utilizava a pesquisa empírica. Para ele, a sociedade era um organismo que funcionava como um corpo, em que cada órgão tinha uma função. O estado matinha o equilíbrio e a harmonia. As classes sociais não seriam as determinantes dos conflitos. Só ocorreriam se as instituições não respondessem harmonicamente os anseios da sociedade. Quando ele fala em desequilíbrio utiliza o termo anomia”.

Max Weber

Segundo o professor de sociologia, o pensador era um intelectual alemão que fala muito da ação social, comportamento humano no qual os indivíduos se relacionam de maneira subjetiva. “Cujo o sentido é determinado pelo comportamento alheio”, aponta. 

Michel Foucault

“Dedicou-se à reflexão entre poder e conhecimento. Vai propor uma análise da sociedade com base disciplinar do cotidiano e estudar vários programas sociais, dentre eles o sistema penitenciário. Ele também vai abordar a sexualidade. Além disso, para Foucault, todas as instituições procuram disciplinar os indivíduos, como nas famílias, na escola, nas prisões, trabalho. Nesse sentido, ele diz que vivemos em uma sociedade que nos disciplina”, explica o professor Everaldo Júnior.

Possibilidade – Para o professor de sociologia, o pensador Zigmun Bauman tende a ser abordado no Enem 2018. “Gostaria de destacar como provável nome a ser abordado na prova deste ano, haja vista que sua grande obra "Modernidade líquida" lançado no ano 2000, traz uma análise muito interessante sobre a sociedade capitalista desde a sua origem na revolução industrial do século XVII até os nossos dias. O polonês Bauman faleceu em 2017”, argumenta o professor.

Para Zigmun Bauman, no começo do capitalismo industrial havia uma modernidade sólida marcada pela estabilidade e previsibilidade. “Já com o fim dos Estados Nações e o surgimento das multinacionais, esse cenário começa a mudar bruscamente e as mudanças e incertezas tomam conta no que ele chama de ‘modernidade líquida’ completada com o surgimento da internet e suas tecnologias. Outro ponto abordado é a questão de gênero no centro do debate e a precarização do mundo do trabalho”, explana Everaldo Júnior. De acordo com Bauman, o homem deve reinventar-se, assim como a própria sociedade, para sobreviver a esse cenário.

Fera, atenção para conceitos

De acordo com o professor de sociologia João Pedro Holanda, o Enem investe em temáticas sociais em suas questões. Dessa forma, o docente orienta que os candidatos estudem e compreendam conceitos relevantes para a sociedade. Acompanhe, a seguir, a explicação do professor:

Sociologia da cultura

O conceito “Cultura” tem sido ressignificado constantemente ao longo do desenrolar das Ciências Humanas. Podemos sintetizar o debate teórico na expressão antropológica que afirma a cultura em oposição ao que é natural. Ou seja, a cultura é o que torna o ser humano um ser humano, e, portanto, tão diferente dos demais animais. Temos a capacidade de imaginar, produzir, generalizar, criar normas, valores e materiais que são de suma importância no nosso processo de adaptação ao mundo. No fim das contas, a resumimos como um conjunto de ideias, práticas e objetos, socialmente transmitidos que possibilitam às pessoas se adaptar a seus ambientes, resolvendo problemas concretos. Apesar de existirem repertórios culturais diferentes, não há povo sem ou com menos cultura. O ser humano é em si, um ser cultural.

Apesar de cultura ser o oposto de natureza, estamos tão inseridos na nossa realidade cultural, que mal notamos que ela é criação humana e tendemos a naturalizá-la. Ao enxergamos outra cultura, algo que não é “eu”, notamos que somos realmente preenchidos por esta construção social-histórica. Se a partir do estranhamento da cultura alheia, nós a inferiorizarmos, menosprezarmos e a excluirmos, estamos comentando uma atitude denominada Etnocentrismo. O Etnocentrismo é a base da maioria dos preconceitos, tais quais o racismo e a xenofobia. O relativismo cultural e a alteridade, ou seja, a capacidade de compreender os signos culturais alheios a partir das dinâmicas sociais dos outros, e não das nossas, é a resposta antropológica a esse tipo de problema.

Outros conceitos importantes nos estudos culturais:

Hibridismo cultural: o processo de “mistura”, junção de diferentes matrizes culturais;

Sincretismo: conciliação de diferentes doutrinas ou posturas. Fusão de diferentes elementos em uniões;

Apropriação cultural: é a adoção de alguns elementos específicos de uma cultura por um grupo cultural diferente;

Ressignificação cultural: atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo;

Patrimônio cultural: os bens “de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

Gênero 

As relações de gênero são as relações sociais de poder entre homens e mulheres, em que cada um tem seu papel social que é determinado pelas diferenças sexuais. O conceito “gênero” surge da necessidade de se ultrapassar a concepção do determinismo biológico, que apregoa diferenças meramente físicas entre homens e mulheres. Dessa forma, a partir dos anos 70, passa-se a considerar “gênero” toda diferença social e cultural entre homens e mulheres, e “sexo” toda diferença biológica, natural.

Este tipo de relação desigual construído socialmente é comum até mesmo no espaço escolar, que apenas reforça os preconceitos e privilégios de um sexo sobre outro e ajuda na construção da identidade sexual das meninas e dos meninos, utilizando-se da disciplina, do cerceamento e da violência simbólica como instrumento para orientar a conduta das crianças segundo seu gênero.

O conceito de gênero aqui enfatizado está ligado diretamente à história do movimento feminista contemporâneo, um movimento social (ação de caráter coletiva e organizada), usualmente remetido ao século XIX e que propõe a igualdade nas relações entre mulheres e homens através da mudança das ordenações jurídicas, além dos valores, de atitudes e comportamentos humanos.

Com a Revolução Francesa acentuam-se as diferenças entre homens e mulheres, em que elas, apesar de participarem ativamente ao lado dos homens do processo revolucionário, não tiveram as conquistas estendidas a seu sexo. A declaração de direitos trouxe benefícios apenas para os homens, o que pirou a situação da mulher. Assim o movimento feminista ganha características da prática de ação política organizada.

Em nosso país somente, a partir dos anos 1980, as feministas passaram a utilizar o termo “gênero”. Grandes partes dos discursos de algum modo englobam as questões de sexualidade (aquilo que se refere ao direcionamento do prazer), estabelecendo distinções entre gênero e sexualidade, ou entre identidades de gênero e identidades sexuais. Atualmente alguns estudiosos estão buscando um aprimoramento das análises, acentuando as distinções acerca das questões de gênero e sexualidade. Devemos, portanto, sempre levar em consideração o campo social e as relações de poder, dessa forma, as questões relacionadas a gênero estão sempre associadas a valores culturais e a construções históricas, já que não são estáticas e permanentes. “Ser mulher” e “Ser homem” são conceitos e compreensões que mudam de tempos em tempos e de sociedades para sociedades.

Sociologia do Trabalho 

De modo sintético, e para direcionar o seu estudo para a prova do Enem, podemos dizer que a Sociologia do Trabalho e da Produção é um ramo da sociologia cuja intenção central é estudar os fenômenos sociais relacionados aos mundos do trabalho, isto é, os sujeitos (os trabalhadores e o patronato) nos ambientes de trabalho (fábricas, empresas, sindicatos estruturados...) e as relações macro-estruturais (sistemas produtivos, relações sociais de trabalho, desemprego estrutural, políticas de governo...) que estejam relacionados direta ou indiretamente aos mundos do trabalho e da produção, bem como as formas de atuação do trabalhador não especificamente no seu local de trabalho, mas por conta das suas condições de trabalho (reinvindicações, greves, formação de partidos...).

O trabalho é, na verdade, uma necessidade natural e essencial do ser humano, sem a qual nós não existiríamos. Diferentemente dos outros animais que se adaptam passivamente ao meio ambiente, que já nascem sabendo viver, o ser humano atua sobre ele de forma ativa, consciente, obtendo os bens materiais necessários para sua sobrevivência e existência. É pelo trabalho que o ser humano se humaniza e também humaniza a natureza. O trabalho é, portanto, a ação consciente, deliberada do ser humano sobre a natureza. O trabalho criou condições para o ser humano ir além dos limites da sua própria natureza, isto é, possibilitou que ele se emancipasse da natureza. Ele não deixa de ser um animal, de pertencer à natureza, mas não mais de forma tão determinada como os outros. Trabalhar é uma atividade eminentemente humana, porque é consciente, deliberada e com um propósito, uma finalidade. Ela pode ter como fim a criação de bens materiais que supram as necessidades humanas de sobrevivência (moradia, alimentação, proteção), ou necessidades culturais e psíquicas (arte, educação, entre outras). Resumidamente o trabalho é a atividade ou ação que necessita de capacidades físicas e mentais, destinada a satisfazer as necessidades humanas.

Provas

Em 4 de novembro, primeiro dia do Enem, os feras enfrentarão questões de Ciências Humanas, Linguagens e redação. Já no dia 11, segundo e último dia de provas, os estudantes terão quesitos de Ciências da Natureza e matemática. Os portões dos locais de prova serão abertos ao meio dia e fechados 13h. De acordo com a organização do Exame, o início será às 13h30. O horário de Brasília deve ser respeitado; os candidatos precisam ficar atentos porque o Enem terá quatro fusos horários diferentes.

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