Blatter acusa EUA e Inglaterra por crise
Durante o Congresso da Fifa em Zurique, ele se recusou a aceitar a responsabilidade pela crise
O presidente Joseph Blatter fez um apelo por "unidade" nesta sexta-feira, durante o Congresso da Fifa em Zurique, e se recusou a aceitar a responsabilidade pela crise. Nas próximas horas, ele concorre a um quinto mandato no comando da entidade. Mas nunca seu reinado esteve tão ameaçado. E ele usou seu discurso para atacar os Estados Unidos e a Inglaterra por estarem questionando a Fifa, lembrando o processo de escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022.
"Gostaria de compartilhar essa responsabilidade com vocês, federações, e com o comitê executivo", disse Blatter aos delegados de 209 países. "Precisamos fortalecer as fileiras e ir adiante", lamentou. "Vamos recolocar a Fifa nos trilhos", disse.
Blatter insistiu que foi ele quem estabeleceu regras para tentar controlar o comportamento dos cartolas. E ele garantiu que existe uma divisão de poderes dentro da entidade. "Mas não podemos controlar todos fora da Fifa", disse. Ele também alertou que cabe às confederações regionais agir para se reformarem. "Só assim poderemos ter maior controle. Em nenhum país um tribunal pode agir sozinho", insistiu.
Blatter ainda tentou explicar a "explosão" financeira da Fifa nos últimos anos e que transformou a entidade em uma potência. "É o casamento do esporte com a televisão que fez a Fifa explodir, atraindo parceiros comerciais", disse. "Sem eles, não estaríamos aqui".
Na investigação realizada pela Justiça norte-americana, são justamente esses contratos que foram alvos de propinas recebidas por muitos cartolas. O dirigente da Fifa, porém, deixou claro pela primeira vez hoje em mais de 30 anos na entidade que a federação é, de fato, "uma empresa, uma grande empresa". Ele ainda citou João Havelange, seu ex-chefe.
"Meu predecessor me disse: você criou um monstro", disse Blatter. "Não é assim, Mas a Fifa se transformou em uma grande empresa e as federações nacionais são os acionistas", declarou.
Blatter ainda atacou os Estados e a Inglaterra em seu discurso, declarando que se Rússia e Catar ão tivessem sido escolhidos sedes das Copas do Mundo de 2018 e de 2022, respectivamente, a "história seria diferente".
"Se outros dois países tivessem emergido do envelope, acho que não teríamos esses problemas hoje. Mas não podemos voltar no tempo. Nós não somos profetas. Nós não podemos dizer o que teria acontecido", declarou.
Desde a escolha das duas sedes em 2010, a Fifa vive uma crise. A Inglaterra ganhou apenas dois votos naquela oportunidade e foi humilhada. Os norte-americanos, mesmo com o ex-presidente Bill Clinton pedindo votos, também foram derrotados pelo Catar.
Mas a situação do suíço é delicada. O opositor de Blatter, Ali bin Hussein, garantiu à reportagem que está otimista que os fatos dos últimos dias e as detenções de cartolas mudem votos de membros da entidade.
Blatter, porém, usou seu discurso para fazer um apelo aos 209 eleitores. "Convoco vocês a um espírito de equipe, de unidade", disse. "Não vai ser sempre fácil. Mas estamos aqui para atacar os problemas. Esses problemas não se solucionam em um dia", insistiu.
Na última quinta-feira, a Uefa deixou claro que poderia até mesmo abandonar a Fifa se Blatter fosse eleito, no que seria o maior cisma no futebol mundial moderno. Michel Platini, presidente da entidade, apelou ao suíço para que renuncie. Mas Blatter se recusou.
O cartola suíça está na Fifa desde 1976 e, a partir de 1998, ocupou sua presidência. Mas acredita que não terminou ainda sua "missão". "Os eventos dessa semana foram uma verdadeira tempestade. Foi colocado em dúvida até mesmo a realização do congresso. Mas estamos aqui", declarou Blatter.
Falando como se fosse o real candidato de oposição, o cartola fez questão de elogiar os 209 membros e apelar por seus votos. "Vocês tem o poder de mudar a cara da Fifa. É um poder que não se pode comprar", disse. "Vamos buscar soluções", declarou.
"Vivemos um momento difícil", declarou. Mas tentou minimizar, alertando que não seria "inédito". "Os eventos jogaram uma sombra no futebol. Mas vamos tentar tirá-la e decidindo que não podemos aceitar que a Fifa seja levada a isso. Os que estão por trás disso tudo e os suspeitos são indivíduos. Não é a entidade como um todo. São indivíduos que esqueceram que o futebol é baseado em um jogo de equipe e com fair-play", declarou.
Garantindo que existia "transparência total para a imprensa" na Fifa, Blatter teve seu discurso interrompido por manifestantes. Um grupo pedia a exclusão de Israel na entidade por supostas violações contra o futebol palestino.
VOTOS - Em uma das primeiras decisões desta sexta-feira, o Brasil foi eleito para escrutinar votos de algumas das decisões da Fifa durante o dia. Na quinta, o presidente da CBF, Marco Polo del Nero, abandonou o evento e retornou ao Brasil. Em Zurique, é a Federação de Futebol do Ceará que representa a CBF e que votará em seu nome. Mas a posição de Del Nero no Comitê Executivo da entidade ficará vaga.