Óleo no Janga: sem proteção, jovens se atiram ao mar

Vestindo apenas bermudas, garotos ignoram riscos à saúde e tentam auxiliar no recolhimento do material tóxico

por Marília Parente qua, 23/10/2019 - 19:35

 Quando moradores da região iniciaram o trabalho espontâneo de limpeza, pela manhã, não havia EPI's disponíveis. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

No fim da manhã desta quarta-feira (23), o óleo que já se alastra há pelo menos 55 dias no litoral nordestino chegou à praia do Janga, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Na tentativa de recolher o material do mar, jovens do bairro estão entrando no mar, sem nenhum tipo de proteção. Voluntários presentes na área tentam convencê-los a utilizar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), como botas, luvas e máscaras. Morador do bairro, Williams Silva, se expõe ao óleo desde o fim da manhã, quando ficou sabendo da chegada da substância. Vestido apenas uma bermuda para banho, o jovem tem as costas e os braços cobertos de óleo.

“Graças a Deus, o óleo está duro, dá para a gente pegar e jogar dentro do saco. A gente está sabendo dos riscos, mas agora não tem como fazer nada, já melou”, comenta. Outro voluntário, André Reias afirma que também chegou cedo ao local, quando não havia nenhum tipo de EPI disponível. “A situação estava difícil até duas horas da tarde. Depois disso, os voluntários vieram e trouxeram os equipamentos, mas a gente já estava sujo”, lamenta.

Williams retirou óleo de dentro do mar vestindo apenas uma bermuda. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

De acordo com o coordenador da Defesa Civil do Paulista, Laurindo Neto, o Conselho Tutelar foi acionado para conter a presença de crianças e adolescentes no local. “Estamos buscando isolar a área, mas a população está agindo no calor da emoção, retirando o óleo com as próprias mão. Queremos identificar os voluntários com pulseiras e cadastrar no plano de contingência aqueles que querem trabalhar com consciência, utilizando os equipamentos de proteção”, destaca.

Riscos

Segundo a presidente do Conselho Federal de Química (CFQ), Sheylane Luz, hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA) presentes no petróleo bruto e seus derivados pertencem a um grupo de compostos orgânicos semi-voláteis que estão entre os compostos mais tóxicos do óleo nesse estado e podem causar sérios problemas de saúde, como câncer. Sheylane ressalta ainda que, a intoxicação por HPAs pode ocorrer por diferentes vias, como a pele ou a ingestão das substâncias. Assim, a entrada no mar para limpeza é desconselhada mesmo com uso de luvas e botas. “Por possuírem baixo peso molecular, alguns HPAs podem ser solubilizados em água, aumentando os riscos de contaminação, ou seja, apenas indivíduos devidamente treinados e com equipamentos e vestimentas seguras podem manusear esses compostos”, informa.

Entrada no mar, mesmo com a utilização de luvas e botas, é desaconselhada pelo Conselho Federal de Química. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

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