Cazaquistão realiza eleições legislativas sem oposição
As primeiras pesquisas oficiais serão divulgadas à noite
O Cazaquistão realiza, neste domingo (10), eleições legislativas com o partido no poder favorito, na ausência da única formação de oposição autorizada neste país autoritário da Ásia Central.
As assembleias de voto abriram às 7h (22h00 de sábado no horário de Brasília) e encerrarão às 20h. As primeiras pesquisas oficiais serão divulgadas à noite.
O presidente Kasim-Jomart Tokayev, de 67 anos, prometeu reformas políticas desde sua eleição há dois anos com o apoio de seu antecessor, Nursultan Nazarbayev, que renunciou inesperadamente em 2019 após quase três décadas no poder.
Nas sombras, Nazarbayev, de 80 anos, conserva uma influência considerável e funções-chave, como a presidência do poderoso partido Nur Otan.
O partido tem 800.000 afiliados no Cazaquistão, uma ex-república soviética com 19 milhões de habitantes.
Além do Nur Otan, quatro outros partidos participam das eleições deste domingo que renovarão a câmara baixa do Parlamento. Nenhum deles é hostil ao poder.
O Partido Nacional Social Democrata (NSDP), que se declara de oposição, anunciou em novembro que não participaria das eleições em sinal de "protesto".
A filha de Nursultan Nazarbayev, Dariga Nazarbayeva, de 57 anos, é candidata pelo partido Nur Otan. No ano passado, foi destituída da presidência do Senado.
Seu afastamento, sem explicação oficial, foi atribuído a uma decisão do presidente Tokayev e foi interpretado como um sinal de uma possível luta política entre este último e o clã Nazarbayev.
Mas Kasim-Jomart Tokayev frequentemente cobre seu mentor e predecessor com elogios, além de defender suas decisões estratégicas. E os dois homens apareceram juntos, em novembro, em um congresso em Nur Otan.
Graças à sua riqueza em minerais e hidrocarbonetos, o Cazaquistão é um país próspero e mantém boas relações com o Ocidente e seus vizinhos: China e Rússia.
De acordo com o Banco Mundial, o PIB do Cazaquistão deve cair 2,5% em 2020, a primeira recessão do país em duas décadas, devido à crise do coronavírus.
- "Espetáculo estéril" -
Em um Estado governado pelo autoritarismo desde sua independência em 1991, existem poucas vozes críticas expressando descontentamento.
Nas últimas três eleições, o partido NSDP não conseguiu entrar no Parlamento. Este ano decidiu boicotar as eleições.
O ex-oligarca e opositor no exílio Mukhtar Abliazov pediu votos para o NSDP e após essa formação se retirar da corrida eleitoral pediu o voto para o partido pró-governo Ak Jol, com o objetivo de enfraquecer a maioria no poder.
De acordo com a oposição, as autoridades pressionaram os ativistas da oposição que faziam campanha para Ak Jol, incluindo impondo multas pela distribuição de folhetos.
De acordo com o cientista político cazaque Talgat Mamiraimov, as eleições deste domingo são "um espetáculo estéril".
O líder histórico Nazarbayev quer apenas "garantir seus interesses políticos e econômicos" através do partido Nur Otan, diz o especialista.
Na capital Nur-sultan, ex-Astana rebatizada em homenagem ao ex-presidente do Cazaquistão, Madiyar diz que não vai votar.
"Não acho que a votação vá mudar muitas coisas", disse à AFP a estudante de 18 anos, que não quis revelar seu sobrenome.
Sonia Sartayeva, aposentada, não sabe se vai votar devido à temperatura congelante (-30ºC) que atinge a capital esta semana e aos riscos do novo coronavírus.