Um grupo de manifestantes invadiu, nesta quarta-feira (5), a sede da prefeitura de Almaty, a capital econômica do Cazaquistão, em meio a protestos sem precedentes após o aumento dos preços do gás.
Segundo um jornalista da AFP no local, a polícia usou granadas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra uma multidão de milhares de pessoas, mas não conseguiu conter sua entrada no prédio.
A polícia informou que mais de 200 pessoas foram detidas durante os protestos neste país da Ásia Central, deflagrados pelo aumento dos preços do gás liquefeito de petróleo (GLP). Ele é muito usado como combustível no oeste do Cazaquistão.
O Ministério do Interior anunciou que as detenções aconteceram por "perturbação da ordem pública" e que os manifestantes bloquearam estradas e tráfego. De acordo com a mesma fonte, 95 policiais ficaram feridos.
Milhares de pessoas foram às ruas em Almaty e na província ocidental de Mangystau, contra o "aumento injusto", considerando-se as enormes reservas de energia do país. O Cazaquistão é um grande exportador de petróleo e gás.
Na tarde desta quarta-feira, correspondentes da AFP em Almaty testemunharam alguns homens de uniforme policial jogando seus escudos e capacetes no chão e abraçando os manifestantes.
"Passaram pro nosso lado", gritava uma mulher.
Estes policiais se recusaram a falar com a AFP.
Manifestações não previamente autorizadas pelas autoridades são proibidas no Cazaquistão, uma antiga república soviética autoritária, mas também a principal economia da Ásia Central.
O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, destituiu seu governo nesta quarta-feira e declarou estado de emergência como resposta aos protestos.
Uma ordem postada no site presidencial diz que Tokayev aceitou a renúncia do gabinete do primeiro-ministro Askar Mamin. Até a formação de um novo, o vice-primeiro-ministro Alikhan Smailov vai liderar o governo interinamente.
O estado de emergência decretado por Tokayev entrou em vigor nesta quarta e irá até 19 de janeiro. Implica a imposição de um toque de recolher das 23h às 7h.
Mais cedo, o presidente havia se dirigido à população em um vídeo postado nas redes sociais. Nele, pediu "prudência" e que "não cedam a provocações".
Os serviços de WhatsApp, Telegram e Signal foram cortados à noite no Cazaquistão, um país de 19 milhões de habitantes.
- "Fora o velho" -
O movimento contra o aumento do preço do gás começou no fim de semana na cidade de Khanaozen, no coração da região ocidental de Mangystau, antes de se espalhar para Aktau, nas margens do Mar Cáspio, e Almaty.
A televisão noticiou nesta quarta-feira que o diretor de uma usina de gás na região de Mangystau foi demitido por ter "aumentado o preço do gás sem motivo".
Em Almaty, jornalistas da AFP viram a polícia dispersar uma multidão de 5.000 pessoas com gás lacrimogêneo.
Os manifestantes gritavam pela "renúncia do governo" e "fora o velho", em alusão ao ex-presidente Nursultan Nazarbayev, mentor de Tokayev.
Na terça-feira (4), o presidente tuitou que as autoridades decidiram reduzir de 120 para 50 tengues (0,11 dólar) o preço do litro do GLP em Mangystau para "garantir a estabilidade do país". A medida não apaziguou os protestos.
Pequenas marchas e prisões também foram relatadas na capital Nursultan (antiga Astana). A localidade foi rebatizada em homenagem a Nursultan Nazarbayev, que liderou o país desde a independência soviética até 2019, quando nomeou Tokayev como seu sucessor.
Nazarbayev, de 81 anos, mantém forte controle do país como presidente do conselho de segurança e "Líder da Nação", uma função constitucional que lhe garante privilégio político e imunidade na Justiça.
Embora protestos espontâneos e não autorizados sejam ilegais no Cazaquistão, uma lei foi aprovada no ano passado para amenizar algumas restrições à liberdade de reunião.
Potência na região, a Rússia pediu nesta quarta-feira um "diálogo" no Cazaquistão.
"Somos a favor de uma solução pacífica para todos os problemas dentro da estrutura legal e constitucional e por meio do diálogo, e não por meio de tumultos de rua e violação das leis", declarou o Ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado.