Tensão em Mianmar, onde ONU condena repressão
As forças de segurança birmanesas dispersaram nesta sexta-feira (26) em Yangon centenas de manifestantes que exigiam o retorno da democracia e a libertação de Aung San Suu Kyi, em um novo dia de tensões após o golpe de Estado no país.
Mianmar continua mergulhada em uma onda de protestos, com manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas, desde que os militares tomaram o poder em 1º de fevereiro.
A enviada da ONU a Mianmar, Christine Schraner Burgener, condenou "energicamente" as recentes ações da junta militar, inclusive seu "inaceitável" uso da força letal, disse nesta sexta à Assembleia Geral da ONU, reunida em sessão especial sobre a situação neste país do sudeste asiático.
A polícia e o exército intervieram com rigor em algumas localidades, mas em Yangon, a capital econômica, até agora tinham conseguido dispersar os protestos com importantes contingentes, sem o uso excessivo da força.
No entanto, nesta sexta, os agentes da tropa de choque foram ao encontro dos manifestantes, embora a maioria deles estivesse sentada no chão e repetisse lemas a favor da democracia.
Seis manifestantes foram detidos, entre eles um jornalista japonês independente, que "levou um golpe na cabeça com um cassetete, mas usava um capacete", relatou o assistente do jornalista no Facebook.
Os manifestantes ergueram barricadas com mesas e arame farpado para barrar a intervenção policial.
"O fracasso da ditadura é a nossa causa, nossa causa!", gritavam os manifestantes.
- Polícia atira pedras -
Também houve protestos em Mandalay, a segunda cidade mais populosa do país.
Milhares de pessoas se concentraram no centro da cidade, muitas vestidas de branco e usando máscaras e chapéus vermelhos, cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.
Ao final do protesto, a polícia usou estilingues para atirar pedras contra os manifestantes. Cinco deles ficaram feridos, um deles gravemente, informou o médico Thet Htay.
Em Yangon, o clima está tenso desde a quinta-feira, quando foi autorizada uma concentração pró-militar em uma região do centro da cidade que no geral fica vetada às manifestações.
O número de mortos desde o golpe de Estado subiu para cinco e são 720 os detidos desde então, segundo uma associação de ajuda aos presos políticos, inclusive um economista australiano, Sean Turnell, assessor de Aung San Suu Kyi.
De acordo com o jornal estatal Mirror Daily, as forças de segurança usaram granadas de dispersão e atiraram munição real para o alto para dispersar os protestos.
- "Reverter essa situação inadmissível" -
Enquanto a tensão permanece nas ruas de Mianmar, a comunidade internacional continua denunciando o uso da força por parte da junta militar.
"Não há justificativa para as ações dos militares e devemos continuar pedindo para reverter essa situação inadmissível, esgotando todos os canais bilaterais e multilaterais para voltar a encaminhar Mianmar no rumo da democracia", disse nesta sexta a enviada da ONU a Mianmar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em videoconferência.
Além disso, o embaixador birmanês na ONU, Kyaw Moe Tun, expressou uma oposição categórica aos militares e exigiu o fim do golpe de Estado.
"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para pôr fim imediatamente ao golpe militar", disse, com voz embargada, à Assembleia Geral.
A União Europeia e os Estados Unidos já tinham aumentado a pressão sobre a junta com o anúncio no começo desta semana de novas sanções econômicas contra líderes do governo militar.