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Iranianos contrários ao regime da República Islâmica lembram neste sábado(16) o primeiro aniversário da morte sob custódia de Mahsa Amini e ativistas denunciam uma nova onda de repressão para impedir uma retomada dos protestos.

Amini, uma curda iraniana de 22 anos, morreu em 16 de setembro de 2022 após ter sido detida por supostamente violar o código de vestimenta para mulheres. Sua família afirma que ela morreu por um golpe na cabeça, mas as autoridades negam.

A morte desencadeou uma onda de protestos por semanas nos quais muitas mulheres tiraram o véu islâmico em desafio à liderança do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

Os protestos perderam força após uma repressão que causou 551 mortes de manifestantes, segundo o organização Iran Human Rights (IHR), e mais de 22.000 detenções, segundo a Anistia Internacional. Sete homens foram executados por casos vinculados às manifestações.

Os ativistas afirmam que a repressão se intensificou com a proximidade do aniversário, especialmente contra pessoas próximas às vítimas.

A ONG Human Rights Watch indicou que familiares de ao menos 36 pessoas assassinadas ou executadas foram interrogados, detidos, perseguidos ou condenados à prisão no último mês.

- "Forças repressivas" destacadas -

As duas jornalistas que acompanharam o caso mais de perto, Niloofar Hamedi e Elahe Mohammadi, estão presas há quase um ano. Nazila Maroufian, que entrevistou várias vezes o pai de Mahsa, Amjad Amini, foi presa em diversas ocasiões.

Amini disse à imprensa estrangeira que queria organizar uma homenagem pelo aniversário em sua cidade natal, Saqez, no oeste do Irã, onde há uma grande população curda.

Segundo a ONG Hengaw, o governo enviou forças de segurança adicionais para Saqez e outras cidades no oeste que poderiam tornar-se focos de conflito durante o fim de semana.

A organização denunciou neste sábado que "forças repressivas" estão posicionadas em torno da casa da família Amini em Saqez.

- Irã "redobra a repressão" -

O Parlamento tramita um projeto de lei conhecido como "Apoio à cultura do hijab e da castidade" que prevê sanções muito mais severas para o descumprimento do código de vestimenta.

Sara Hossain, presidente da missão da ONU que investiga a repressão no Irã, disse que o país "redobra a repressão e retaliação contra os seus cidadãos".

A Anistia Internacional acusou Teerã de ter cometido "crimes ante o direito internacional para erradicar qualquer desafio ao seu controle férreo do poder".

Os Estados Unidos, o Reino Unido, a União Europeia, o Canadá e a Austrália anunciaram sanções contra autoridades e entidades iranianas, nas vésperas do aniversário da morte de Amini.

O Irã criticou as "ações e declarações intervencionistas e as ridículas e hipócritas" demonstrações de apoio ao movimento de protesto, nas palavras do porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani.

Desde o primeiro dia em que os manifestantes foram às ruas de São Paulo para protestar contra o reajuste das tarifas do transporte público, em 2013, houve repressão por parte da Polícia Militar. A partir dali, as ações policiais para conter e até impedir as manifestações de rua ganharam força e diversos níveis de sofisticação.

“A gente não pode deixar de entender junho de 2013 como um marco no processo de criminalização das lutas sociais”, defende Raísa Cetra, coordenadora da organização não governamental Artigo 19, com foco na liberdade de expressão. Para ela, falta no país o entendimento das manifestações como parte importante da democracia. “As ruas sempre foram vistas, para vários setores políticos, como ameaça. Inclusive para setores progressistas”, diz.

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Assim, os protestos por direitos acabaram, segundo ela, sendo entendidos como uma ação de desestabilização política. “Ali, não houve a leitura de quem era o inimigo de fato e se entendeu que era a população que estava reivindicando por direitos. Naquele momento as pessoas estavam na rua por educação, por um transporte seguro, por saúde pública.”

Naquele momento as forças de segurança em diferentes níveis, em todo o país, se preparavam para a realização dos megaeventos esportivos – a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Você já estava em um processo de mudança da atuação das tropas de choque, isso é fato”, enfatiza Acácio Augusto, que coordena o Laboratório de Análise em Segurança Internacional e Tecnologias de Monitoramento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A grande violência usada contra os manifestantes foi, segundo Augusto, um dos fatores que mobilizaram a solidariedade de diversos setores da sociedade, proporcionando o crescimento dos protestos.

“O estopim propriamente dito foi muito mais a violência policial do que o transporte”, enfatiza o coordenador.

Apesar da rejeição às formas de repressão empregadas, com a prisão de centenas de pessoas e o uso indiscriminado de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, o especialista avalia que os modelos de ação continuaram a ser aprimorados nos meses e anos seguintes. Após a jornada de protestos contra o aumento, vieram manifestações contra os gastos excessivos nas obras de preparação para a Copa do Mundo. “O primeiro ato contra a Copa eles vão aplicar o Caldeirão de Hamburgo, que é o isolamento de uma parte dos manifestantes com cordão policial. Acho que tem uma questão forte ligada à mudança de como a polícia passa enfrentar esses protestos”, diz.

Esse mesmo tipo de tática seria empregado, de acordo com Augusto, para manifestações semelhantes nos anos seguintes, como os protestos dos secundaristas contra a reorganização escolar, em São Paulo, em 2016. “Você tinha no máximo 200 estudantes secundaristas caminhando na [Avenida] Paulista, cercados pela polícia por todos os lados. A ideia de envelopar a manifestação vem daí. Com a tática muda, uma das características da manifestação autônoma é não ter carro de som, sem liderança explícita. Você tem as faixas e todo mundo no mesmo nível na rua. A resposta da polícia para essas manifestações era envelopar”, conta.

As vítimas

As ações violentas da polícia marcaram de forma definitiva a vida de algumas pessoas, como o fotógrafo Sérgio Silva. Na repressão ao ato de 13 de junho de 2013, na Rua da Consolação, ele perdeu a visão do olho esquerdo ao ser atingido por uma bala de borracha. As cenas daquele dia foram um ponto de virada na opinião pública e para vários meios de comunicação, que passaram a se pronunciar abertamente a favor das manifestações.

“É um dia que, com toda a certeza, jamais esquecerei”, conta Silva. O fotógrafo diz que parte dos manifestantes realmente fazia depredações no calor do momento, mas não consegue acreditar que essas ações justifiquem a forma como as forças policias agiam. “O que tinha ali eram jovens revoltados, alguns focados na pauta do aumento da tarifa, outros por outros motivos também. E a polícia agia de maneira desproporcional”, avalia.

Essas ações chegavam, segundo Silva, a afetar o trabalho da imprensa. “Nós tivemos muitos e muitos colegas que passavam por revistas que ultrapassavam o limite da abordagem policial e impedia que esses policiais trabalhassem”, relata.

O fotógrafo tenta uma reparação na Justiça pelo ferimento sofrido durante a repressão. Após ter o pedido negado em duas instâncias na Justiça de São Paulo, uma apelação ao Supremo Tribunal Federal determinou que a solicitação seja reconsiderada pelo tribunal estadual. “Eu estou a todo instante tendo que provar para o estado de São Paulo que eu tomei um tiro disparado pela polícia e perdi a visão”, reclama a respeito da forma como os magistrados têm tratado o seu caso.

Segundo ele, as alegações do governo estadual é que não há provas de que ele foi efetivamente atingido por uma bala de borracha. “Podem ter sido muitos outros objetos, como, por exemplo uma bola de futebol, a cabeça de um manifestante. Essas foram as palavras que eu ouvi nessa última audiência”, diz sobre a situação que classifica como absurda.

No mês seguinte, em 14 de julho, no Rio de Janeiro, a violência policial se tornaria um tema de mobilização social depois do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza. Ele nunca mais foi visto após ser levado por policiais militares para a base da Unidade de Polícia Pacificadora na favela da Rocinha. Durante os anos seguintes, o desaparecimento de Amarildo que, foi torturado e morto pelos agentes do Estado, foi alvo de diversas manifestações.

Em agosto de 2022, a  Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu manter a condenação do estado do Rio de Janeiro ao pagamento de pensão e de indenização por danos morais no valor de R$ 500 mil para a companheira e cada um dos filhos do pedreiro.

“É uma resposta importante do Judiciário, para mostrar para o Estado que ele tem que saber recrutar os seus agentes, se não ele é responsabilizado”, disse o advogado que defende os interesses da esposa e filhos de Amarildo, João Tancredo.

Segundo ele, apesar da concessão da indenização, os trâmites para que o dinheiro chegue efetivamente à família devem demorar pelo menos três anos. Na próxima terça-feira (6), o STJ deve ainda julgar um recurso para que a mãe de criação e a sobrinha do pedreiro também sejam contempladas.

O advogado criticou o tempo para que houvesse reparação à família. “Lamentável o tempo que esse processo demorou. É um processo simples, onde uma pessoa é retirada da sua casa, torturada e desaparecem com ela, por agentes do Estado que foram condenados. O tempo que ficou no STJ, foram três anos. Isso é muito ruim. Justiça que tarda, é justiça que falha.”

Militante do Movimento Passe Livre de Brasília, Paique Duques Santarém diz ainda que, além da repressão policial, os ativistas sofreram diversas calúnias, como as de que receberiam financiamento de agentes estrangeiros

“Essa repressão aos movimentos sociais de rua enfraqueceu não só nós, mas outros movimentos sociais de rua. Esse enfraquecimento foi um enfraquecimento da luta popular e da participação social na política”, diz.

Anos Bolsonaro

Com a chegada da extrema-direita ao poder, Raísa Cetra avalia que o cenário e retrocessos no direito à manifestação foram ainda maiores. “O que a gente viu nos anos de bolsonarismo é uma série de novas ferramentas de repressão e criminalização da luta popular, sobretudo passando por estratégias de silenciamento, desmobilização e tentativa de que as pessoas não fossem para as ruas”, analisa sobre os impactos da chegada de Jair Bolsonaro à Presidência em 2018.

“O uso de crimes contra a honra para criminalizar manifestantes foi uma ferramenta usada durante o bolsonarismo que a gente não via de maneira tão sistemática antes. Então, a gente teve muita gente presa por escrever ‘fora Bolsonaro’ em cartazes ou falar preposições contrárias ao governo em manifestações”, exemplifica.

Para a especialista, esse é “um outro formato de repressão que está mais próximo à censura do que aquela mobilização de um aparato repressivo enorme contra manifestantes”. Nesse sentido, Raísa acredita que as ações de repressão aos protestos dos últimos anos se aproximaram do período da ditadura militar (1964-1985), provocando medo na população, que deixa de se manifestar por temer represálias.

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Histórias da repressão no regime militar de 1964 no Pará são resgatadas no "Relatório Final Paulo Fontelles Filho" que será apresentado em sessão solene nesta sexta-feira, 31 de março, no auditório João Batista, na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), às 10 horas. O documento é formado por uma coleção de três obras, divididas em Tomos I, II e III, e apresenta distintas dimensões sobre os Direitos Humanos e a Ditadura Civil-Militar.

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O Tomo I apresenta os antecedentes históricos da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e a luta pela criação da Comissão Estadual da Verdade do Pará (CEV-Pará). O primeiro documento também faz uma breve contextualização da política paraense.

Já o Tomo II contempla a imprensa paraense na ditadura. Enquanto o Tomo III é composto por um capítulo que trata de Ditadura e Gênero, relacionado ao debate sobre Justiça de Transição (situação atual, sugestões para efetivação nacional, repercussões no Estado do Pará e as recomendações).

Segundo o deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), a Comissão Estadual da Verdade foi instalada a partir de lei estadual enviada pelo Executivo. “Ela foi designada legalmente para investigar e levantar o contexto do regime militar em território paraense e seus significados para a construção e formação democrática no exercício da cidadania paraense”, explica o parlamentar.

A Comissão, que foi instalada em 1° de setembro de 2014, desenvolveu investigações em três frentes. Foram as Comissões Estaduais da Verdade do Jornalista, da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Camponesa.

“Ela desenvolveu atividades que foram desde oitivas (que são atos extrajudiciais em que testemunhas e acusados são ouvidos sem a presença de advogado) com ex-governadores, ex-deputados, como também líderes sindicais cassados no período da ditadura, com torturados políticos do período da ditadura. Foram também levantadas informações da imprensa do período”, diz Carlos Bordalo sobre a Comissão.

Vítimas do regime

As informações investigadas pela CEV-Pará estão reunidas nos três volumes do Relatório Final da Comissão da Verdade e Memória do Estado do Pará. Esse é o último documento oficial que narra, com detalhado registro documental, as graves violações aos direitos humanos cometidas durante o regime militar na Amazônia paraense.

Histórias como a de Virgílio do Sacramento, liderança rural assassinada nos anos 80, do escritor e jornalista Benedito Monteiro, das ex-presas políticas Isa Cunha e Hecilda Veiga e o assassinato do deputado estadual João Batista estão entre os casos violentos do período que constam na obra.

A data escolhida para o lançamento do Relatório marca os 59 anos do golpe militar de 1964. Para além do dia do evento, o título também carrega grande significado. “O ativista político Paulo Fonteles Filho (morto em 2017) junto com o doutor Egídio Sales Filho, que também já faleceu, foram os dois expoentes maiores da mobilização e da construção do projeto da Comissão Estadual da Verdade”, explica o deputado Bordalo.

“Homenagear Paulo Fonteles Filho é homenagear esse esforço, mas também a tradição, a luta deste ativista e do seu pai Paulo Fonteles”, continua o parlamentar. O pai do ativista que dá nome ao Relatório Final foi assassinado por pistoleiros em 1987 por conta das lutas políticas em prol dos camponeses e da reforma agrária no Pará.

Fio da História

O presidente da Comissão de Direitos Humanos explica ainda a importância de que documentos como o Relatório Final cheguem ao conhecimento da sociedade. “Cada vez que um acontecimento histórico vai se distanciando das gerações presentes é muito importante que esse fio condutor histórico seja oferecido para as gerações do presente compreenderem e entenderem os significados da história”, diz o deputado.

A publicação do documento, de acordo com Carlos Bordalo, é uma maneira de fazer com que as memórias dos chamados “Anos de Chumbo” não sejam esquecidas e evitem que propostas ditatoriais virem realidade novamente. “É fundamental que a memória e a justiça sejam constantemente relembradas para que nunca mais se repitam etapas sombrias, nebulosas”, completa o parlamentar.

O deputado ainda acrescenta a necessidade do apoio ao regime democrático. “Sem democracia não é possível construir justiça social; não é possível pensar-se num país menos desigual, no respeito aos direitos fundamentais, porque qualquer projeto que tem que se viabilizar fora da democracia é antagônico à ideia de uma sociedade plural, democrática, de uma sociedade que lida bem com a sua própria diversidade”, diz Bordalo.

A publicação do Relatório foi feita pela Imprensa Oficial do Estado do Pará (IOEPa), por meio da Editora Pública Dalcídio Jurandir, com recursos de emenda parlamentar do deputado estadual Carlos Bordalo e da ex-deputada estadual Marinor Brito. Os 300 exemplares impressos serão enviados com prioridade para as Bibliotecas Públicas do Estado e para outras de referência nacional. A obra estará disponível na íntegra, para o público em geral, no site do Poder Legislativo do Estado e da Sociedade Paraense de Direitos Humanos.

Por Maria Clara Passos, Victor Sampaio e Beatriz Rodrigues (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

 

Um grupo de seis pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e da Universidade de Brasília (UnB) divulgou nesta segunda-feira (20) pesquisa sobre a resistência de servidores federais às iniciativas antidemocráticas do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. As ações tiveram uma série de implicações para os órgãos públicos e, portanto, para o atendimento à população. Segundo o estudo, o governo aumentou o uso de instrumentos formais de repressão aos funcionários públicos e testou estratégias em certas organizações para replicá-las em outras, em caso de sucesso.

Publicado na Revista Brasileira de Ciência Política, o documento diz que os servidores saíram à frente, em um primeiro momento, pois contavam com a vantagem de conhecer a máquina pública. Nessa fase, o presidente da República e indicados agiam a partir das estratégias chamadas informais e coletivas, como são classificadas, entre outras atitudes, as críticas públicas a servidores.

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Já entre os instrumentos formais de repressão estão os processos administrativos disciplinares (PAD). Com dados obtidos na Controladoria-Geral da União (CGU), os pesquisadores demonstram que, entre 2019 e 2021, foram abertos 171 PADs, uma média de 57 por ano. De 2014 a 2018, antes do governo Bolsonaro, o total foi de 128, uma média de 25,6 por ano.

O governo também fortaleceu o processo de militarização das instituições, que começou em órgãos ambientais, e diminuiu a autonomia dos servidores, com ferramentas como a Nota Técnica 1.556/2020, da CGU. A nota permitia que a administração pública federal adotasse punições contra servidores que fizessem, em redes sociais ou outros meios virtuais, críticas ao órgão ao qual estivessem subordinados. O entendimento é de que tinham de cumprir um “dever de lealdade”. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Verde (PV) contestaram a medida, levando a questão ao Supremo Tribunal Federal.

Outro instrumento de repressão foi transformar servidores em "bodes expiatórios", uma vez que serviam de exemplo para mostrar o que aconteceria com os colegas caso se opusessem às ordens. Em relação a experimentos que o governo federal fez para verificar se obteria êxito com determinadas estratégias, os pesquisadores citam a restrição ao acesso do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), de gestão de documentos e processos.

As estratégias formais são aquelas ligadas à prática institucional, ao uso de mecanismos oficiais e legais, como decretos e instruções normativas. Segundo uma das pesquisadoras do estudo, a professora da FGV Gabriella Lotta, são usados os aparatos da burocracia contra a própria burocracia. "Seja porque você acaba com os instrumentos, seja porque dá outra interpretação para eles e os reverte contra o servidor. Foi isso que a gente acabou identificando: o uso da máquina pública, ou tentando destruí-la, ou tentando reverter sua tônica de atuação em prol desse projeto autoritário que o presidente Bolsonaro estava buscando fazer".

Por outro lado, existem as estratégias informais, que estão em interações cotidianas, como discursos, mensagens de texto e conversas informais. As estratégias também se dividem entre coletivas, quando atingem uma equipe, um setor ou organização, ou individuais. No início dos embates, os servidores optaram mais por manobras individuais, "especialmente de sabotagem e modificação do ritmo de trabalho (shirking). Essas prejudicavam as pautas governamentais de forma silenciosa e escondida, fora do radar da alta administração", destacam os autores do estudo. Os servidores também se organizaram coletivamente a fim de levar as denúncias para fora dos órgãos públicos, por meio de depoimentos, cartas e abaixo-assinados, o que também consiste em estratégia informal.

Assédio

A pesquisadora Michelle Morais de Sá e Silva, da Universidade de Oklahoma, dos Estados Unidos, é autora de um estudo publicado no livro Assédio institucional no Brasil: avanço do autoritarismo e desconstrução do Estado no qual reuniu relatos de servidores da administração federal. Em entrevista, ela explicou que seu trabalho não tinha a meta de destrinchar o assédio cometido pelo governo, e sim identificar os valores pessoais dos servidores da administração pública federal, mas acabou tomando esse rumo.

"Ao contar sobre suas trajetórias e atuação em temas de direitos humanos, as pessoas iam relatando situações muito difíceis, de depressão, perseguição, relatavam muito medo. Isso fez com que a gente buscasse uma reflexão sobre a necessidade de registrar esses processos", destaca.

Segundo ela, somente o fato de ver a instituição em que trabalhavam ser alvo de ataque foi motivo para servidores sentirem medo.

Afronta à educação

Um servidor da área técnica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) conversou, sob a condição de anonimato, com a reportagem da Agência Brasil, e relatou o que vivenciou no local. Ele afirma que os servidores, por terem estabilidade na função, impediram a prática de muitos abusos. "Isso era explícito. Aquela pessoa comissionada, que não era servidora, que estava ali de passagem, fazia tudo para implementar as diretrizes do presidente do Inep e, no limite, do governo federal. Toda a resistência que houve ali dentro foi do servidor estável, que tentava barrar essas decisões. E isso era feito em nível de reunião, de nota técnica, instrumentos em que a gente conseguia expor, com mais detalhes, as consequências do que estavam fazendo", diz.

O Inep é ligado ao Ministério da Educação e responsável pelo Enem. Durante o seu governo, o então presidente da República Jair Bolsonaro chegou a dizer que iria mexer nas provas do exame. Diante das ameaças, servidores do instituto chegaram a entregar cargos e buscar transferência ou licenças.

Para se proteger dos chefes, os servidores de carreira do Inep procuravam se amparar na Associação dos Servidores (Assinep). A Agência Brasil procurou a Assinep para obter mais detalhes sobre possíveis ações movidas pelos funcionários, a fim de responsabilizar chefias do período Bolsonaro. A entidade não respondeu ao contato.

Conflitos na segurança pública

Embora não seja servidor federal, o policial civil Pedro Paulo Chaves Mattos, conhecido como Pedro Chê, diz que ele mesmo não teve chefias em seu encalço, mas percebeu como as relações se modificaram com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Petista, ele comenta que colegas sofreram perseguições, inclusive institucionais, e chegaram a ser mandados para outros setores, contra sua vontade. Como resultado, atingiram muitos deles a autocensura, citada pelos pesquisadores no estudo, ou o adoecimento mental, segundo Mattos.

"Teve caso de delegado dizendo para uma escrivã que ela teria que chegar uma hora mais cedo do que os outros, porque votava em Lula. Claro que ela não poderia chegar uma hora mais cedo, porque a delegacia estaria fechada, mas isso faz parte de um jogo de chantagem e abuso. Tem outros colegas que são remanejados no olho do furacão, em delegacias que a gente sabe que não têm nenhuma simpatia, porque são de esquerda", exemplifica Mattos, que integra o Conselho Nacional de Policiais Antifascismo e atua no Rio Grande do Norte.

Uma colega transexual, servidora federal de uma das polícias, foi tirada do trabalho de campo e reposicionada em um cargo de setor administrativo, com a função de realizar atendimentos por telefone. Isso provocava constrangimento na policial, já que não era chamada pelo seu nome social, do gênero feminino. "Causou um dano emocional muito pesado, Ela era continuamente chamada de senhor, sistematicamente, todo dia. Há esse tipo de ataque, de pegar seu ponto fraco", frisa o agente.

Polarização e recuperação

Especialista em estudos sobre a burocracia, Gabriela Lotta argumenta que o objetivo agora deve ser o de reaver o que foi perdido, "desde documentos, informação, memória, procedimento", durante a última gestão do governo federal. "Acho que pouca coisa foi institucionalizada, que não permita uma reversão. Até porque o governo Bolsonaro, em termos de construção, fez muito pouco. A grande pauta foi a destruição", diz.

Para ela, há outra questão "muito delicada, muito sensível". "O governo Bolsonaro explicitou uma polarização, que talvez sempre estivesse ali e a gente não sabia, dentro da burocracia, mas que virou uma polarização quase inconciliável, neste momento. Acho que os ânimos estão muito aflorados, os servidores não conseguem mais trabalhar uns com os outros, tem muitas gente com problema de saúde mental, afastamento do trabalho por essas questões, desmotivada em ser engajada. Há um trabalho muito difícil aí, de reconstrução ou construção de uma unidade, que seja pró-missão organizacional, de construção de uma capacidade de trabalhar junto, que tem mais a ver com a dimensão de gestão de pessoas."

A pesquisadora, porém, não sugere uma solução. "Mas não tenho dúvida de que essa é uma coisa que tem que ser feita. Acho que o que é mais perigoso é a polarização dentro da burocracia, e menos ao projeto bolsonarista", complementa.

Outro lado

Procurada pela Agência Brasil, a assessoria de imprensa do ex-presidente Jair Bolsonaro disse, em nota, que os ministérios eram comandados por quadros técnicos.  "Diretores e altos cargos das empresas públicas e mistas eram ocupados por renomados executivos de mercado. A Secom [Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal] era liderada por um técnico com mais de 20 anos de atuação em mídia".

Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secom, que responde atualmente pela assessoria de Bolsonaro, disse ainda que "em todo processo de mudanças drásticas, grupos saem em defesa do seu espaço".

 

O Conselho de Direitos Humanos da ONU iniciará uma investigação sobre a repressão às manifestações desencadeadas no Irã pela morte da jovem Mahsa Amini, com o objetivo de reunir provas da violência para, eventualmente, processar os responsáveis.

Reunidos com urgência por iniciativa de Alemanha e Islândia, os 47 países-membros do mais alto órgão das Nações Unidas em matéria de direitos humanos decidiram, em uma votação, nomear uma equipe de investigadores de alto nível para esclarecer todas as violações de direitos humanos relacionadas com a repressão aos protestos no Irã.

A resolução foi aprovada por 25 votos a favor (entre outros de Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Argentina e México), seis contra (China, Venezuela, Cuba, entre outros) e 16 abstenções (incluindo Brasil e Catar), em uma reunião urgente do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra (Suíça).

"As autoridades iranianas não poderão realizar esta violenta repressão de maneira anônima; a comunidade internacional está observando", reagiu a embaixadora dos Estados Unidos, Michèle Taylor.

A ONG Anistia Internacional aplaudiu o que chamou de "resolução histórica", que representa "um passo importante para acabar com a impunidade".

Em pleno debate no Conselho, a agência de notícias iraniana Fars anunciou a detenção do jogador de futebol Voria Ghafouri, acusado de ter "insultado e manchado a reputação da seleção nacional" e de ter feito "propaganda" contra a República Islâmica.

Situação 'insustentável'

Durante as discussões, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, cujo pedido para visitar o Irã ainda não recebeu resposta, pediu a Teerã que "ponha fim" ao "uso desnecessário e desproporcional da força".

"A situação atual é insustentável", disse, antes de frisar aos jornalistas que é "importante que haja uma moratória sobre a pena de morte, que o governo ouça o que o povo tem a dizer e que se comprometa com um processo de reforma porque a mudança é inevitável".

Muitos diplomatas ocidentais também denunciaram a repressão aos protestos que, em dois meses, deixou ao menos 416 mortos, 51 deles crianças, segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega.

Esta onda de protestos contra o governo - que surgiu após a morte de Mahsa Amini, detida por não respeitar o uso do véu em público - alcançou uma magnitude sem precedentes desde a Revolução Islâmica de 1979.

Segundo o Relator Especial da ONU para o Irã, mais de 15.000 pessoas foram detidas.

A justiça iraniana já pronunciou seis sentenças de morte relacionadas às manifestações e anunciou esta semana a prisão de "40 estrangeiros" acusados de participar dos "motins" no Irã nestes dois meses.

Possibilidade de falar e ser ouvido

"'Mulher, vida, liberdade'. Com este slogan, tão simples e tão forte, os iranianos recordam, há mais de dois meses, os valores que defendem", declarou a embaixadora francesa, Emmanuelle Lachaussée.

"O povo iraniano está exigindo algo tão simples, algo que a maioria de nós toma como certo: a capacidade de falar e ser ouvido", disse a embaixadora americana, Michèle Taylor, enquanto membros de sua delegação exibiam fotos com os nomes das vítimas.

Falando com repórteres em Genebra antes da votação, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, incentivou os países que geralmente votam com o Irã a terem a coragem de se abster.

"Não sabemos se [esta resolução] pode salvar vidas amanhã. Mas o que sabemos com certeza é que vai significar justiça para o povo", enfatizou.

Esta missão de investigação internacional independente - que tem pouca possibilidade de viajar ao Irã - deverá recolher as provas da violência e preservá-las para que possam ser utilizadas em eventuais processos judiciais.

A representante iraniana enviada por Teerã, Khadijeh Karimi, acusou os países ocidentais de falta de "credibilidade moral" para criticar o Irã, denunciando as sanções dos Estados Unidos e dos países europeus.

As forças de segurança do Irã lançaram uma série de ataques contra estudantes universitários, prendendo dezenas de jovens. Segundo a União dos Estudantes e grupos de direitos humanos, os ataques às universidades se intensificaram nos últimos dias, após o fim do luto de 40 dias da morte de Mahsa Amini, assassinada sob custódia da polícia moral do Irã, em setembro. O caso desencadeou oito semanas de protestos contra o regime.

Repressão

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A União dos Estudantes do Irã documentou mais de 40 prisões de estudantes universitários e está coletando relatórios de detenções e invasões de universidades por forças de segurança em todo o país em seu canal Telegram.

A ONG Hengaw para os Direitos Humanos, com sede na Noruega, que monitora a situação em áreas curdas no Irã, disse que o destino de dezenas de jovens presos na semana passada e dezenas de outros detidos pelas forças de segurança por participar de protestos anteriores permanece desconhecido.

Em 30 de outubro, a ONG Human Rights Watch estimou que pelo menos 308 estudantes haviam sido detidos desde o início dos protestos.

Pelo menos 50 pessoas morreram e cerca de 300 ficaram feridas no Chade, nesta quinta-feira (20), em enfrentamentos entre policiais e manifestantes que protestavam contra a permanência dos militares no poder.

Em diversas cidades do país africano, entre elas N'Djamena, a capital, e Moundou, a segunda maior, os manifestantes saíram às ruas para denunciar o prolongamento do período de transição para o sistema democrático.

Os enfrentamentos deixaram "cerca de 50" mortos e "mais de 300" feridos, segundo o primeiro-ministro do Chade, Saleh Kebzabo.

No início desta semana, a plataforma de oposição Wakit Tamma e o partido Os Transformadores convocaram a população a se manifestar contra o governo.

Esses dois grupos boicotaram o processo de diálogo nacional que, no início de outubro, atrasou em dois anos a transição para eleições "livres e democráticas" e abriu caminho para uma candidatura do general Mahamat Idriss Déby Itno, que tomou o poder há um ano e meio à frente de uma junta militar.

Após os protestos desta quinta, o primeiro-ministro anunciou a suspensão de "qualquer atividade pública" de diversos partidos e organizações de oposição e decretou o toque de recolher das 18h às 6h, até o "restabelecimento total da ordem" em N'Djamena, Moundou, Doba e Koumra.

Pela manhã, colunas de fumaça preta podiam ser vistas na capital e era possível ouvir o barulho de disparos de bombas de gás lacrimogênio. Barricadas foram erguidas em muitos bairros de N'Djamena e as principais vias de circulação da cidade foram bloqueadas, constataram os correspondentes da AFP.

"Uma manifestação proibida se transformou em uma insurreição", disse o porta-voz governamental Aziz Mahamat, acusando os manifestantes de atacar "edifícios públicos".

- 'Uma mudança no poder' -

"Vim me manifestar para denunciar este diálogo de fachada que perpetua um sistema e reivindicar uma mudança no poder. Em 31 anos, não vimos nenhuma mudança positiva em nosso país", declarou à AFP Abass Mahamat, de 35 anos.

A ONU lamentou "o recurso à força letal contra os manifestantes" e pediu às autoridades de transição "garantias de segurança e à proteção dos direitos humanos".

O presidente da Comissão da União Africana (UA) e ex-primeiro-ministro do Chade, Moussa Faki Mahamat, condenou a repressão e pediu a ambas as partes que "privilegiem as vias pacíficas para superar a crise".

O general Deby, de 38 anos, tomou o poder em abril de 2021, depois que seu pai, Idriss Deby Itno, morreu em uma operação contra rebeldes após três décadas dirigindo o país com mão de ferro.

A junta militar dissolveu o parlamento e o governo e prometeu "eleições livres e democráticas" após uma transição de 18 meses, renovável apenas uma vez.

A história do Chade independente, que foi uma colônia francesa até 1960, está marcada por golpes de Estado, tentativas de golpe e rebeliões.

As jovens estudantes iranianas realizam manifestações esporádicas, nas quais retiram o véu, para protestar pela morte de Mahsa Amini, desafiando a forte repressão dos protestos que realizaram por quase três semanas no Irã.

Esta jovem iraniana de origem curda de 22 anos morreu em 16 de setembro, três dias depois de ter sido presa pela polícia da moral por supostamente violar o rígido código de vestimenta feminino, que inclui o uso de um véu sobre a cabeça.

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Uma onda de indignação agitou o país e o movimento de protesto se tornou o mais importante desde as manifestações de 2019 contra o aumento do preço da gasolina.

Ao menos 92 pessoas morreram desde 16 de setembro, segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. Por sua vez, as autoridades iranianas informaram 600 mortos, incluindo 12 agentes de segurança.

Mais de mil pessoas foram detidas e 400 já foram libertadas, segundo as autoridades.

No último fim de semana, um grupo de estudantes se reuniu e foi encurralado pela polícia antidistúrbio em um estacionamento subterrâneo da Universidade de Tecnologia de Sharif. Em seguida, foram presos.

Desde então, grupos de estudantes muito mais jovens, muitas vezes meninas do ensino médio, assumiram os protestos que consistem em retirar os véus e gritar palavras de ordem contra o governo.

Um vídeo verificado pela AFP mostra meninas jovens com a cabeça à mostra gritando "morte ao ditador", em alusão ao guia supremo Ali Khamenei, na segunda-feira em uma escola de Karaj, ao oeste da capital Teerã.

Outro grupo gritava "Mulher, vida, liberdade", enquanto se manifestava na rua.

"São cenas verdadeiramente extraordinárias. Se essas manifestações conseguirem algo, será graças a essas estudantes", declarou Esfandyar Batmanghelidj, do portal de informação e análise Bourse&Bazaar.

- Adolescente morta -

Desde o início do movimento de protesto, o governo iraniano intensificou a repressão prendendo os apoiadores das revoltas mais prominentes e impondo duras restrições ao acesso às redes sociais.

Na madrugada de terça-feira para quarta-feira, o cantor de pop Shirvin Hajipour - que foi detido depois de divulgar uma música a favor dos protestos que se tornou um sucesso viral - foi libertado sob fiança.

Ao mesmo tempo, as autoridades judiciais iranianas abriram uma investigação sobre a causa da morte de uma adolescente, supostamente assassinada durante uma manifestação.

A violenta repressão das manifestações no Irã gerou uma onda de condenação em todo o mundo e manifestações em apoio às mulheres iranianas em uma dezena de países.

Depois que Estados Unidos e Canadá anunciaram sanções, a União Europeia anunciou na terça-feira a intenção de impor "medidas restritivas" para protestar "pela forma em que as forças de segurança responderam às manifestações".

O Irã acusou diversas vezes as forças estrangeiras de atiçar os protestos. Em seus primeiros comentários públicos desde a morte de Mahsa Amini, o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou na segunda-feira os principais inimigos do Irã, Estados Unidos e Israel, de terem fomentado os incidentes.

Nesta quarta-feira, o Irã convocou o embaixador britânico Simon Shercliff para expressar seu protesto pela "interferência" do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido em assuntos internos do país, por suas críticas à forma em que as autoridades reagem aos protestos.

O Irã tem protestos em pelo menos 46 cidades do país, com a televisão estatal sugerindo que ao menos 41 pessoas tenham morrido em meio às manifestações dos últimos dias. As manifestações ocorrem desde 17 de setembro, com a contagem a partir de declarações oficiais em ao menos 13 mortos, além de mais de 1.200 manifestantes presos.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou neste domingo, 25, que convocou o embaixador britânico para protestar contra o que descreveu como atmosfera hostil criada pela mídia em língua farsi sediada em Londres. Teerã também criticou agências de notícias e convocou o embaixador da Noruega no país para protestar contra recentes declarações do presidente do Parlamento norueguês, Masud Gharahkhani.

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O estopim dos protestos foi a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, detida pela polícia da moralidade do país e morta enquanto estava sob custódia das autoridades. Confrontos entre manifestantes e as forças de segurança continuavam a ocorrer.

Amini foi detida pela polícia em Teerã por supostamente estar com seu véu islâmico muito frouxo sobre a cabeça. A polícia afirma que ela morreu por um ataque cardíaco e que não sofreu maus-tratos, mas sua família coloca a versão em dúvida. A morte da jovem gerou forte condenação de países do Ocidente e da Organização das Nações Unidas.

Houve, porém, também manifestações a favor do governo em várias cidades do Irã neste domingo. Milhares participaram de um ato na Praça da Revolução (Enghelab), e algumas autoridades estiveram presentes, entre eles o porta-voz do gabinete de governo, Ali Bahadori Jahromi.

Manifestantes pró-democracia bloquearam nesta sexta-feira (31) as ruas de Cartum, a capital do Sudão, em protesto pela violência estatal que ontem deixou cinco mortos e provocou reprovação da comunidade internacional.

Os participantes do protesto ergueram barricadas nas estradas do distrito de Burri, no leste de Cartum, e também em Cartum Norte, utilizando pedras, galhos de árvores e pneus, informou um jornalista da AFP.

O Sudão está afundado em uma crise desde o golpe de Estado do general Abdel Fattah al Burhan em 25 de outubro, o mesmo dia em que o primeiro-ministro Abdalla Hamdok foi afastado e preso.

Após um acordo com os militares, Hamdok voltou ao cargo em 21 de novembro, mas os protestos continuaram.

Durante as manifestações de ontem, que reuniram milhares de pessoas em Cartum e cidades vizinhas, as autoridades cortaram as telecomunicações no país e reprimiram os protestos com disparos de munição real e bombas de gás lacrimogênio.

Além disso, a imprensa denunciou que foi alvo de ataques e assédio. Nesta sexta-feira, dois jornalistas do canal de televisão saudita Asharq foram liberados após permanecerem detidos por várias horas, segundo o próprio canal.

Segundo um sindicato de médicos pró-democracia, quatro manifestantes morreram a tiros em Omdurman, cidade-gêmea a Cartum. Hoje, uma quinta pessoa morreu no hospital após não resistir aos ferimentos.

Até agora, a repressão iniciada há dois meses já deixou 53 mortos, de acordo com esse mesmo sindicato, que também denunciou ontem que os agentes de segurança impediram a passagem de ambulâncias e retiraram um ferido a força de dentro de um desses veículos.

No contexto da violenta repressão de quinta-feira, o ministro interino da Saúde, Haitham Mohammed, renunciou hoje do cargo, denunciando ataques contra médicos e hospitais.

Um membro civil recentemente nomeado para o Conselho Soberano no poder, Abdel Baqi Abdel Qader, também assinalou hoje que deixará o cargo.

Mais de 500 civis morreram em ações das forças de segurança desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro em Mianmar, e os grupos rebeldes armados ameaçam aderir aos protestos contra a junta militar caso persista a repressão violenta.

Ignorando as críticas e sanções ocidentais, os generais birmaneses prosseguem com a repressão brutal, em uma tentativa de frear os protestos e greves pró-democracia que abalam o país país desde o golpe que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi.

Um total de 510 pessoas, incluindo muitos estudantes e adolescentes, morreram por tiros de policiais e militares nos últimos dois meses, de acordo com a Associação de Ajuda aos Presos Políticos (AAPP).

A ONG afirma que o número de vítimas "é provavelmente muito maior", sobretudo porque centenas de pessoas continuam desaparecidas.

Diante do banho de sangue, vários grupos rebeldes ameaçaram nesta terça-feira (30) usar suas armas contra a junta.

"Se as forças de segurança continuarem matando civis, vamos colaborar com os manifestantes e adotaremos represálias", afirma uma declaração conjunta, assinada, entre outros, pelo Exército de Arakan (AA), um grupo armado com milhares de homens e recursos importantes.

- "Risco de guerra civil" -

"A situação corre o risco de virar uma guerra civil total", declarou à AFP Debbie Stothard, da Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH).

"A junta não quer ceder em nada e os manifestantes, que até agora foram pacíficos em sua maioria, estão tentados a pedir ajuda das facções armadas para obter proteção", completa.

Desde a independência de Mianmar em 1948, vários grupos étnicos entraram em conflito com o governo central para conseguir mais autonomia, acesso aos recursos naturais do país ou a uma parte do lucrativo tráfico de drogas.

Nos últimos anos o exército estabeleceu um cessar-fogo com alguns grupos e até chegou a retirar o AA de sua lista de organizações terroristas.

Mas no fim de semana passado, a junta militar executou ataques aéreos no sudeste do país contra um dos maiores grupos armados de Mianmar, a União Nacional Karen (KNU), depois que esta facção assumiu o controle de uma base militar e matou vários soldados.

Estes foram os primeiros ataques do tipo na região em 20 anos. Quase 3.000 pessoas fugiram da violência para a vizinha Tailândia, segundo organizações locais.

Mas as autoridades tailandesas as rejeitaram, disse à AFP a ativista dos direitos humanos Karen Hsa Moo.

"Afirmaram que deveriam retornar para casa porque não havia combates", disse a ativista, que citou novos ataques na segunda-feira à noite.

Ela afirmou que a Tailândia também está bloqueando o acesso das organizações humanitárias, incluindo o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados).

Tanee Sangrat, porta-voz do ministério das Relações Exteriores da Tailândia, negou as informações. "Seguiremos atendendo os que estão no lado tailandês, enquanto avaliamos a evolução e as necessidades no local", disse.

A polícia tailandesa informou que interceptou 10 pacotes com 100 granadas e 6.000 cartuchos destinados à cidade fronteiriça de Tachileik.

- "Greve de lixo" -

Ao mesmo tempo, os protestos contra o golpe continuam em todo o país com novas táticas de resistência.

Nesta terça-feira foi convocada uma "greve de lixo", com pedidos para que os moradores joguem os resíduos de suas casas nas ruas e bloqueiem os cruzamentos das rodovias.

Em Yangon, a capital econômica do país, algumas estradas estavam repletas de lixo de todo tipo, além de cartazes com frases como "Precisamos de democracia".

O número de mortes aumentou consideravelmente nos últimos dias.

Ao menos 107 civis, incluindo sete menores de idade, morreram no sábado, Dia das Forças Armadas birmanesas.

Na segunda-feira foram organizados os funerais das vítimas do fim de semana, com milhares de pessoas. Muitos fizeram a saudação de três dedos, um sinal de resistência.

- Divisões na comunidade internacional -

Em resposta à repressão, o governo dos Estados Unidos anunciou a suspensão imediata do acordo sobre comércio e investimento concluído em 2013 com Mianmar, até que um governo "eleito democraticamente" seja restaurado.

A França denunciou a "violência cega e mortal" do regime e exigiu a libertação de "todos os presos políticos", incluindo Aung San Suu Kyi, que está detida em um local secreto e sem comunicação.

As autoridades do Reino Unido pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que acontecerá na quarta-feira a portas fechadas.

Os militares birmaneses, no entanto, deram pouca atenção aos protestos e sanções ocidentais, aproveitando as divisões da comunidade internacional.

China e Índia se recusaram a condenar formalmente o golpe.

A Rússia mantém laços estreitos com a junta militar. O vice-ministro da Defesa, Alexander Fomin, acompanhou no sábado o desfile anual das Forças Armadas birmanesas.

O Kremlin expressou preocupação com o "crescente" número de mortos, mas declarou que Mianmar continua sendo um "aliado confiável e parceiro estratégico" com o qual deseja fortalecer suas relações militares.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu à comunidade internacional "maior unidade" e "maior compromisso" para pressionar a junta.

Um manifestante foi morto nesta sexta-feira (5) em Mianmar, a última vítima até o momento da repressão da junta militar ao movimento pró-democracia, enquanto o Conselho de Segurança da ONU deve se reunir a portas fechadas em Nova York para tentar encontrar uma solução à crise que se agrava a cada dia.

Apesar do medo de represálias, protestos ocorreram em várias cidades do país nesta sexta.

Um grupo de várias centenas de engenheiros manifestou-se nas ruas de Mandalay, a segunda maior cidade de Mianmar, gritando "libertem nossa líder!" e "não trabalhem para o exército!".

Um homem de 26 anos que ajudava nas barricadas erguidas na cidade para desacelerar o avanço das forças de segurança morreu após ser baleado no pescoço, disseram equipes médicas à AFP.

A morte ocorre dois dias após o dia mais letal da repressão, com pelo menos 38 vítimas fatais de acordo com a ONU, enquanto cenas das forças de segurança atirando nas multidões e imagens de corpos ensanguentados circulam nas redes sociais.

Em Yangon, a capital econômica do país, o distrito de San Chaung foi, como nos dias anteriores, palco de um enfrentamento, pacífico em sua maior parte, com a polícia: os manifestantes se protegendo atrás de barricadas improvisadas construídas com pneus velhos, sacos de areia e arame farpado.

Na cidade de Bago, a nordeste de Yangon, um pequeno grupo saiu em passeata com os três dedos erguidos em sinal resistência, brandindo cartazes que diziam "não aceitaremos o golpe militar".

De acordo com a polícia local, nove birmaneses se refugiaram na Índia na quarta-feira, incluindo três policiais que disseram às autoridades do estado de Mizoram (leste), na fronteira com Mianmar, que estavam fugindo para não ter que participar da repressão em seu país.

- Canais do exército no Youtube fechados -

A Junta tem procurado evitar que informações sobre a repressão sejam publicadas. Desta forma, aumentou o número de cortes da Internet e baniu o Facebook, de longe a rede mais popular no país.

Mas vídeos ao vivo e imagens vazam diariamente, e a própria Junta sofreu banimento na internet nesta sexta, quando o YouTube anunciou que havia fechado vários canais militares.

Muitas partes do país também sofreram cortes de energia nesta sexta-feira, embora não esteja claro se esta foi uma medida deliberada, já que o país tem infraestrutura pouco confiável. Diversas agências governamentais atribuíram as interrupções a uma "falha do sistema".

Mas, apesar dos protestos internacionais cada vez mais fortes, a Junta parece mais determinada do que nunca a extinguir a contestação em Mianmar desde o golpe de Estado que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi.

Em um relatório divulgado quinta-feira, Thomas Andrews, um especialista independente comissionado pela ONU, ressalta que "mesmo que o futuro de Mianmar seja determinado por seu povo, a comunidade internacional deve agir urgente e decisivamente para apoiá-lo".

O relator especial das Nações Unidas recomenda, portanto, ao Conselho de Segurança, que se reúne a portas fechadas hoje para discutir a situação neste país, "impor um embargo global sobre as armas", como já faz os europeus e Canadá, e pedindo ainda "sanções econômicas específicas" contra os generais birmaneses.

- 54 civis mortos -

Pelo menos 54 civis foram mortos desde o golpe de Estado, de acordo com a ONU.

Entre eles, quatro menores de idade, incluindo um adolescente de 14 anos, segundo a ONG Save the Children.

Também há dezenas de feridos.

O exército, por sua vez, relatou a morte de um policial. Procurado, não respondeu a várias solicitações da AFP.

"O uso de força letal (...) mostra quão pouco as forças de segurança temem ser responsabilizadas por seus atos", disse Richard Weir, da ONG Human Rights Watch.

"Continuaremos a agir contra a Junta", alertou, por sua vez, o porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, Ned Price, em um tuíte após o anúncio de novas sanções americanas na quinta-feira.

China e Rússia, tradicionais aliadas do exército birmanês, não condenaram oficialmente o golpe de Estado, considerando a crise como "um assunto interno" do país.

A ex-líder birmanesa Aung San Suu Kyi, já processada por violar obscuros regulamentos comerciais e sanitários, foi acusada nesta segunda-feira (1°) de dois outros crimes, enquanto o país permanece sob tensão após o dia mais mortal de repressão desde o golpe de Estado.

A prêmio Nobel da Paz foi processada hoje por violar uma lei de telecomunicações e por "incitar a desordem pública", disse à AFP o advogado Nay Tu, membro de sua equipe de defesa, após a audiência, na qual Aung San Suu Kyi participou por videoconferência.

Ela já havia sido acusada de importar ilegalmente walkie-talkies e violar as restrições ao coronavírus, motivos considerados estranhos por observadores internacionais.

Fora de comunicação desde sua prisão, ela está "aparentemente com boa saúde", disse seu principal advogado, Khin Maung Zaw, que viu sua cliente por videoconferência pela primeira vez e que ainda não teve permissão para se encontrar com ela. Uma nova audiência está marcada para 15 de março.

As novas acusações surgem um dia após um dia particularmente sangrento de repressão.

Pelo menos 18 pessoas morreram no domingo, de acordo com as Nações Unidas, com base em "informações confiáveis".

A AFP conseguiu confirmar, a partir de fontes independentes, dez mortos, mas alguns relatos falam de um número de vítimas superior ao anunciado pela ONU.

Apesar do medo de represálias, os manifestantes voltaram às ruas nesta segunda-feira.

Perto da famosa prisão de Insein, em Yangon, as forças de segurança atiraram contra os manifestantes que protestavam contra as prisões do dia anterior, de acordo com uma transmissão ao vivo nas redes sociais.

No momento, não foi possível determinar se os tiros foram disparados com munição letal ou com balas de borracha.

"Estamos unidos", gritavam os manifestantes.

Em outras partes da capital econômica, alguns manifestantes ergueram barricadas improvisadas com pedaços de madeira, sofás e bambus.

A polícia disparou balas de borracha na tentativa de dispersar alguns deles, segundo a mídia local, que reportou vários feridos.

Após quase um mês de mobilização pró-democracia com manifestações diárias e uma campanha de desobediência civil, a resposta das autoridades foi especialmente sangrenta no domingo.

- "Munição letal" -

Três manifestantes foram mortos em Dawei, no sul do país, após serem alvos de "munição letal", segundo um socorrista.

Moradores saíram às ruas da cidade costeira na manhã desta segunda-feira para colocar flores vermelhas e acender velas em frente aos retratos das vítimas.

"O exército birmanês é uma organização terrorista", disse o proeminente ativista Thinzar Shunlei Yi no Facebook.

O exército não respondeu aos pedidos de comentários da AFP, mas a mídia estatal advertiu no domingo que "medidas severas serão inevitavelmente tomadas" contra "multidões anárquicas".

Cerca de 30 manifestantes morreram desde o golpe de Estado de 1º de fevereiro, de acordo com a AAPP, uma ONG que ajuda presos políticos.

O exército afirma que um policial foi morto enquanto tentava impedir uma manifestação.

O uso de armas letais pela polícia e pelo exército contra manifestações pacíficas, em sua maioria, gerou uma nova onda de protestos internacionais.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, condenou no Twitter a "violência abominável das forças de segurança birmanesas".

"O uso de força letal (...) e as prisões arbitrárias são inaceitáveis", declarou, por sua vez, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres.

Dias antes, o embaixador birmanês na ONU, Kyaw Moe Tun, rompeu com os generais golpistas, pedindo o "fim do golpe militar" e o "retorno do poder do Estado ao povo". Ele foi destituído pela Junta.

Os numerosos protestos internacionais e o anúncio de sanções por parte dos Estados Unidos e da União Europeia não foram capazes de influenciar os militares.

"O mundo deve intensificar sua resposta. Palavras de condenação são bem-vindas, mas não são suficientes", comentou o relator especial da ONU, Tom Andrews, explicando que nesta segunda publicaria uma lista de opções que proporá ao Conselho de Segurança.

- Centenas de prisões -

Enquanto isso, as ondas de prisões continuam. Mais de 1.100 pessoas foram presas, acusadas ou condenadas desde o golpe, de acordo com a AAPP.

Uma mídia oficial relatou 571 prisões apenas no domingo.

Nos últimos dias, vários jornalistas foram presos, incluindo um fotógrafo da agência Associated Press.

O país vive uma onda de manifestações e uma campanha de desobediência civil desde o golpe que derrubou Aung San Suu Kyi.

As últimas revoltas populares, de 1988 e 2007, foram reprimidas com sangue pelo exército, que permaneceu no poder por quase 50 anos desde a independência do país em 1948.

As forças de segurança birmanesas dispersaram nesta sexta-feira (26) em Yangon centenas de manifestantes que exigiam o retorno da democracia e a libertação de Aung San Suu Kyi, em um novo dia de tensões após o golpe de Estado no país.

Mianmar continua mergulhada em uma onda de protestos, com manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas, desde que os militares tomaram o poder em 1º de fevereiro.

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A enviada da ONU a Mianmar, Christine Schraner Burgener, condenou "energicamente" as recentes ações da junta militar, inclusive seu "inaceitável" uso da força letal, disse nesta sexta à Assembleia Geral da ONU, reunida em sessão especial sobre a situação neste país do sudeste asiático.

A polícia e o exército intervieram com rigor em algumas localidades, mas em Yangon, a capital econômica, até agora tinham conseguido dispersar os protestos com importantes contingentes, sem o uso excessivo da força.

No entanto, nesta sexta, os agentes da tropa de choque foram ao encontro dos manifestantes, embora a maioria deles estivesse sentada no chão e repetisse lemas a favor da democracia.

Seis manifestantes foram detidos, entre eles um jornalista japonês independente, que "levou um golpe na cabeça com um cassetete, mas usava um capacete", relatou o assistente do jornalista no Facebook.

Os manifestantes ergueram barricadas com mesas e arame farpado para barrar a intervenção policial.

"O fracasso da ditadura é a nossa causa, nossa causa!", gritavam os manifestantes.

- Polícia atira pedras -

Também houve protestos em Mandalay, a segunda cidade mais populosa do país.

Milhares de pessoas se concentraram no centro da cidade, muitas vestidas de branco e usando máscaras e chapéus vermelhos, cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

Ao final do protesto, a polícia usou estilingues para atirar pedras contra os manifestantes. Cinco deles ficaram feridos, um deles gravemente, informou o médico Thet Htay.

Em Yangon, o clima está tenso desde a quinta-feira, quando foi autorizada uma concentração pró-militar em uma região do centro da cidade que no geral fica vetada às manifestações.

O número de mortos desde o golpe de Estado subiu para cinco e são 720 os detidos desde então, segundo uma associação de ajuda aos presos políticos, inclusive um economista australiano, Sean Turnell, assessor de Aung San Suu Kyi.

De acordo com o jornal estatal Mirror Daily, as forças de segurança usaram granadas de dispersão e atiraram munição real para o alto para dispersar os protestos.

- "Reverter essa situação inadmissível" -

Enquanto a tensão permanece nas ruas de Mianmar, a comunidade internacional continua denunciando o uso da força por parte da junta militar.

"Não há justificativa para as ações dos militares e devemos continuar pedindo para reverter essa situação inadmissível, esgotando todos os canais bilaterais e multilaterais para voltar a encaminhar Mianmar no rumo da democracia", disse nesta sexta a enviada da ONU a Mianmar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em videoconferência.

Além disso, o embaixador birmanês na ONU, Kyaw Moe Tun, expressou uma oposição categórica aos militares e exigiu o fim do golpe de Estado.

"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para pôr fim imediatamente ao golpe militar", disse, com voz embargada, à Assembleia Geral.

A União Europeia e os Estados Unidos já tinham aumentado a pressão sobre a junta com o anúncio no começo desta semana de novas sanções econômicas contra líderes do governo militar.

O governo indiano se prepara para impor novas regras estritas nas redes sociais americanas, as quais acusa de desequilíbrio no tratamento de conteúdos polêmicos.

O confronto do governo indiano com o Twitter e com o Facebook continua, com a entrada em vigor de novas regras em três meses. Elas obrigarão as redes sociais, os serviços de transmissão on-line e os serviços de notícias digitais a eliminarem em 24 horas qualquer conteúdo que provoque uma reclamação por parte de um indivíduo, ou de uma organização.

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Também terão de revelar a origem de um "tuíte, ou mensagem maliciosa", se um tribunal indiano, ou o governo, assim exigirem.

Para defender esta medida, Ravi Shankar Prasad, ministro de Tecnologias da Informação, lembrou que o Twitter se recusou a retirar mensagens relacionadas às manifestações violentas de agricultores em Nova Délhi em janeiro, mas agiu de outra maneira durante o ataque ao Congresso dos Estados Unidos por parte de ativistas pró-Trump em Washington, 20 dias antes, eliminando as contas.

"Quando o Congresso dos Estados Unidos, no Capitólio, é atacado, as redes sociais apoiam a ação policial. Mas em um ataque violento contra Lal Qila (Forte Vermelho, em Délhi) há dois pesos e duas medidas", disse, classificando essa política como "inaceitável".

O ministro se referiu às manifestações de 26 de janeiro passado, dia de feriado nacional na Índia. Nessa data, os protestos contra as reformas agrícolas desencadearam distúrbios em toda capital, e os agricultores invadiram o Forte Vermelho, símbolo da independência indiana.

Após o incidente, o governo nacionalista hindu ordenou ao Twitter que apagasse centenas de contas e tuítes que apoiavam as manifestações. O Twitter suspendeu algumas contas permanentemente e bloqueou brevemente outras, para a frustração do governo.

Sob as novas regras que serão impostas, as redes sociais também deverão designar um "agente encarregado da regularização das reclamações", ambos com sede na Índia.

Em paralelo, um "órgão de autorregulação" liderado por um funcionário designado pelo governo terá a autoridade de alertar, ou de censurar, uma plataforma, obrigá-la a apresentar desculpas, ou incluir uma "advertência", ou uma "cláusula de isenção de responsabilidade", em relação ao conteúdo.

A junta militar governante em Mianmar continuou a intensificar sua repressão aos protestos em massa contra o golpe neste domingo (14), com prisões noturnas e ameaças contra quem abriga os ativistas.

O período democrático de 10 anos do país terminou abruptamente há quase duas semanas com a tomada do poder pelos militares, que derrubaram e prenderam a chefe de governo Aung San Suu Kyi.

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No domingo, pelo nono dia consecutivo, milhares de birmaneses foram às ruas.

Em Yangon, principal cidade do país, eles se reuniram em vários locais, inclusive perto do famoso templo Shwedagon, para exigir o retorno da democracia e a libertação de sua líder.

O conselho liderado pelo general Min Aung Hlaing publicou uma lista de sete dos ativistas que buscam ativamente promover os protestos.

"Se você encontrar algum dos fugitivos mencionados ou se tiver alguma informação sobre eles, dirija-se à delegacia de polícia mais próxima", disse um comunicado à mídia estatal no domingo.

Desde o início do movimento, os militares já prenderam cerca de 400 políticos, ativistas e civis, entre jornalistas, médicos e estudantes.

- Poderes de emergência para as forças de segurança -

Presa novamente em 1º de fevereiro, a chefe de governo não foi vista desde então, embora seu partido diga que ela estava "bem de saúde", mantida incomunicável em uma residência em Naipyidó, capital administrativa de Mianmar.

No sábado, Min Aung Hlaing concedeu poderes de emergência às forças de segurança, que podem conduzir buscas domiciliares sem mandado ou deter pessoas por curtos períodos sem permissão de um juiz.

A situação em Mianmar foi alvo de inúmeras condenações internacionais nas últimas duas semanas, mas elas não tiveram efeito sobre os militares.

A Junta afirma ter assumido o poder de acordo com a Constituição e ordenou aos jornalistas do país que parassem de falar sobre isso como um "governo golpista".

"Alertamos (...) jornalistas e meios de comunicação para não escreverem com o objetivo de causar desordem pública", disse o Ministério da Informação em nota enviada ao clube de correspondentes estrangeiros no sábado.

Também pediu aos jornalistas que sigam a "ética da mídia" ao noticiar os eventos no país.

Houve manifestações de solidariedade aos birmaneses na vizinha Tailândia, que abriga uma grande comunidade de trabalhadores imigrantes do país, assim como nos Estados Unidos, Japão e Austrália.

Mas os aliados tradicionais do exército birmanês, incluindo a Rússia e a China, pedem que não se interfira nos "assuntos internos" de Mianmar.

A mobilização contra o golpe de Estado não diminui em Mianmar e nesta sexta-feira (12) uma multidão voltou às ruas, apesar do aumento das detenções de opositores por parte da junta militar.

As novas sanções dos Estados Unidos contra os generais não parecem ter efeito sobre os militares.

Mais de 250 pessoas foram detidas desde o golpe de Estado de 1° de fevereiro contra o governo civil de Aung San Suu Kyi, segundo uma ONG de ajuda aos prisioneiros políticos. As detenções atingiram autoridades locais, deputados, membros da Comissão Eleitoral e ativistas. O medo de represálias é muito presente no país.

Na terça-feira, a polícia abriu fogo contra os manifestantes e deixou vários feridos. Uma mulher, atingida por um tiro na cabeça, está em condição crítica.

Nesta sexta-feira, as forças de segurança usaram balas de borracha para dispersar brutalmente um protesto no sul do país. Ao menos cinco pessoas foram detidas.

Apesar da repressão, milhares de pessoas voltaram às ruas para exigir a libertação dos detidos, o fim da ditadura e a abolição da Constituição de 2008, muito favorável ao exército.

Em Yangon, a capital econômica do país, jogadores profissionais de de futebol e torcedores se uniram aos protestos, com camisas vermelhas, a cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

"Não compareçam ao trabalho", "Nossa revolta tem que vencer", gritaram os professores em Miek (sul). Em Naypyidaw, a capital administrativa, os manifestantes tocaram as buzinas de suas motos e fizeram a saudação com três dedos um gesto de resistência.

Dezenas de milhares de birmaneses participaram nos protestos na última semana, uma mobilização inédita desde a "Revolução do Açafrão" de 2007.

Policiais, controladores aéreos, professores, profissionais da saúde e muitos funcionários públicos estão em greve.

O comandante da junta militar, Min Aung Hlaing, fez uma advertência contra os funcionários em greve. Ele anunciou "ações eficazes pelo não cumprimento de suas obrigações (...) incitados por pessoas sem escrúpulos".

De modo paralelo, 23.314 prisioneiros, incluindo 55 estrangeiros, serão libertados e outros devem ter a pena reduzida, informou o jornal estatal Global New Light Of Myanmar. Os detalhes da medida não foram divulgados.

As grandes anistias de prisioneiros para liberar espaço em estabelecimentos superlotados são frequentes e anunciadas em datas importantes do calendário birmanês. Esta sexta-feira é feriado no país.

Ming Yu Hah, da Anistia Internacional, chamou a iniciativa de "espetáculo paralelo para desviar a atenção dos abusos diários cometidos pelas autoridades militares contra os direitos humanos".

A situação no país continua no alvo da comunidade internacional.

Washington bloqueará os ativos e as transações comerciais nos Estados Unidos de 10 comandantes militares ou militares da reserva, considerados responsáveis pelo golpe de Estado, entre eles Min Aung Hlaing.

Mas os generais birmaneses não possuem grandes ativos nos Estados Unidos, ou ao menos não como em Singapura, e este tipo de medida não evitou que junta permanecesse no comando do país por muitos anos, afirmam analistas.

Reino Unido e União Europeia também ameaçaram adotar sanções.

Nesta sexta-feira, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU celebrará uma sessão extraordinária sobre Mianmar. A posição da China e da Rússia, apoios tradicionais do exército birmanês na ONU, estará no centro da reunião.

- "Falsas informações" -

Ao mesmo tempo, gigantes da internet - como Facebook, Google e Twitter - criticaram um projeto de lei sobre a segurança virtual que permitirá à junta militar proibir sites e obrigar as redes sociais a transmitir dados dos usuários.

O Facebook anunciou que reduziria a visibilidade do conteúdo procedente do exército, por "continuar divulgando falsas informações" após a tomada de poder.

A plataforma, principal meio de comunicação para milhões de birmaneses, afirmou as autoridades não poderão solicitar a retirada de publicações.

O exército questiona as legislativas de novembro, vencidas por ampla maioria pela LND. Os observadores internacionais não constataram problemas.

Os generais temiam a redução de sua influência após a vitória de Aung San Suu Kyi, caso ela decidisse modificar a Constituição.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1991, que segundo seu partido está bem e em prisão domiciliar em Naypyidaw, continua sendo venerada em seu país, apesar das críticas internacionais por sua passividade diante dos abusos contra a minoria muçulmana dos rohingyas.

A Receita Federal realiza, nesta quinta-feira (10), uma operação de repressão contra produtos eletrônicos que entram no país de forma irregular e são comercializados em uma rede de venda de consoles de videogames, que atua nos maiores shoppings centers da Região Metropolitana do Recife.

Estima-se uma apreensão de cerca de R$ 500 mil em equipamentos eletrônicos, especialmente smartphones e videogames. Acessórios falsificados de celular também serão apreendidos na operação. 

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No total, serão sete alvos fiscalizados na operação, que contará com a presença de 36 auditores-fiscais e analistas-tributários da Receita Federal. 

Os alvos já vinham sendo investigados pela Receita Federal, após os sócios da empresa terem mercadorias apreendidas em Foz do Iguaçu, um dos principais pontos de entrada de mercadorias irregulares no país, além de ter sido constatada uma movimentação financeira acima dos valores declarados pela empresa.

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (4) a Operação Toca da Onça para reprimir a pedofilia na internet e o estupro de vulneráveis, depois de ter sido informada pela Interpol sobre a realização de um fórum na deep web (parte da internet acessada clandestinamente) no qual foram publicadas cenas de estupro de duas crianças. Aparentemente as crianças estariam em um bairro da zona leste da capital paulista, segundo a PF.

De acordo com a PF, o suspeito é um homem brasileiro, de aproximadamente 40 anos de idade, casado, e sem filhos, que teria praticado os atos contra os filhos de uma parente, crianças de três e cinco anos. Até o momento não há suspeita da participação da esposa do detido e nem da mãe das vítimas. As investigações apuram se as fotos eram vendidas ou trocadas na deep web.

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“Com o aprofundamento das investigações verificou-se que o abusador se valia da convivência íntima com as crianças para encontrar oportunidades para estuprá-las, filmá-las e divulgar os arquivos em fórum da deep web frequentado por pedófilos”, informou a PF.

O crime de publicação de imagens de pornografia infantil prevê pena de três a seis anos de reclusão, já o de estupro de vulneráveis prevê de oito a 15 anos de prisão.

O secretário de Justiça americano, William Barr, defendeu na terça-feira (28), o envio de agentes federais para reprimir os protestos em Portland, no Oregon, e rebateu acusações de que a medida tenta impulsionar a campanha de reeleição do presidente Donald Trump, em má situação nas pesquisas eleitorais.

Em audiência na Comissão de Justiça da Câmara, Barr rejeitou acusações da oposição democrata de que o governo sufoca protestos pacíficos contra o racismo e a brutalidade policial. Ele classificou os atos de Portland como "um ataque ao governo de Estados Unidos".

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Barr também rejeitou as acusações de que queira favorecer Trump politicamente, mesmo quando isso signifique propor uma sentença mais leve de prisão de Roger Stone, consultor político e amigo pessoal de Trump, que teve um pedido de pena de prisão abrandada por Barr.

"Depois da morte de George Floyd, manifestantes violentos e anarquistas fizeram protestos para causar estragos e destruição sem justificativa", afirmou o secretário.

A morte de Floyd, asfixiado por um policial branco em Minneapolis, no final de maio, provocou fortes protestos antirracistas nos EUA e inúmeros pedidos por uma reforma policial. No geral, as manifestações perderam força, mas ainda há atos ocorrendo pelo país, principalmente em Portland, uma cidade progressista governada por democratas.

"Aceitar tacitamente a destruição e a anarquia é abandonar os princípios básicos do estado de direito que deveriam nos unir em um momento politicamente dividido."

A audiência marcou o primeiro depoimento de Barr à Comissão de Justiça da Câmara desde que assumiu o cargo, em fevereiro de 2019. Na semana passada, o órgão interno de supervisão do próprio departamento iniciou investigações sobre a resposta federal aos protestos de Portland e de Washington.

Neste mês, o governo Trump enviou agentes armados para a maior cidade do Oregon, muitos deles com equipamentos de combate, depois de semanas de protestos contra a polícia e o governo - na segunda-feira, Trump decidiu reforçar a tropa local com mais cem homens.

Os democratas dizem que a intervenção é uma manobra política para mostrar que Trump é o candidato da "lei e da ordem", um lema que ajudou na sua eleição em 2016.

No entanto, os protestos em Portland se tornaram maiores desde a chegada dos agentes federais e autoridades locais e do Estado acusaram Barr de ter uma reação exagerada. "O presidente quer imagens para seus anúncios de campanha, e parece que estão sendo entregues conforme foram solicitadas", disse o deputado democrata Jerry Nadler. (Com agências internacionais)

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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