Temendo despejo, moradores de ocupação protestam no Recife

Decisão federal que proibiu o despejo durante a pandemia perde validade no próximo dia 30 de junho. Enquanto isso, moradores da ocupação Leonardo Cisneiros estão há um ano sem respostas sobre a própria moradia

por Vitória Silva ter, 17/05/2022 - 14:03

 

Moradores da ocupação Leonardo Cisneiros, no Centro do Recife, protestaram na tarde desta terça-feira (17), após um ano cobrando respostas do poder público sobre regularização da moradia de cerca de 120 famílias que moram hoje no antigo prédio do INSS. O edifício abandonado, que fica na Rua Marquês do Recife, no bairro de Santo Antônio, foi ocupado em 17 de maio de 2021, exatamente um ano atrás.  

“Essa grande mobilização hoje é em comemoração de um ano da ocupação Leonardo Cisneiros. Ela é para cobrar política pública eficiente, principalmente do Governo Federal, que ainda não tomou uma posição em relação à doação do edifício. E também cobrar da Prefeitura do Recife políticas públicas de habitação. A gente não sabe qual a política implantada hoje em Pernambuco. São 120 famílias que não estão no prédio porque querem, mas porque precisam de moradia de qualidade”, afirma Jean Carlos, coordenador estadual do Movimento de Luta e Resistência Pelo Teto (MLRT).

O ativista esclarece também que o diálogo entre os ocupantes e a gestão municipal é bom, mas que diante da urgência, não há condições de estender a situação de irregularidade por mais tempo. “Nós temos tido um diálogo muito bom com a Prefeitura do Recife em relação à saúde, educação e vigilância sanitária, mas a gente está precisando de uma política efetiva, é a PCR e o Governo dizerem que vão pedir aquele prédio ao Governo Federal”, conclui. 

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Os manifestantes atearam fogo em pneus e bloquearam a passagem pela avenida Martins de Barros. O protesto foi um apelo à Prefeitura do Recife e ao Governo de Pernambuco, de quem os moradores solicitam intervenção desde o ano passado. Moradores temem despejo, uma vez que a decisão federal que assegurava a existência de ocupações em todo o país perde validade no próximo dia 30 de junho. 

De acordo com a decisão do ministro Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, a vigência da lei que barra despejos e desocupações em áreas urbanas e rurais em razão da covid-19 vai até o dia 30 do próximo mês. O prédio que hoje abriga a ocupação Leonardo Cisneiros é propriedade federal e precisaria de mediação das esferas municipal e estadual para viabilizar uma possível liminar de legitimação da moradia. 

“A gente queria ser visto. Queríamos que o poder público olhasse pra gente. Até porque, dia 30 acaba a lei e a gente tem medo de ser despejado. Se formos despejados, vamos pra onde? A luta é para que a gente consiga uma moradia digna. Aqui no Centro tem vários imóveis abandonados, que só servem como ponto de drogas, jogar lixo. A gente ocupou esse daí e a gente cuida dele”, compartilha Joseli Xavier, de 34 anos, pai de dois filhos e morador da ocupação. 

Atualmente, os filhos de Xavier ficam com a avó, em um outro bairro, para terem acesso à escola e poderem circular em maior segurança. O morador desabafa que a possibilidade de dividir a calçada com alguém o assusta: “É prometido que se vai resolver uma situação ou outra, mas é esquecido. Ainda bem que temos o movimento, mas é difícil. O medo é de dormir no dia 29 com um teto e no dia 30 amanhecer na rua. Até morar na rua não tem como, porque é tanta gente, que cada pedaço da rua tem um dono”. 

*Com informações de Jameson Ramos

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