Combates entre Israel e Hamas afundam civis no caos

Segundo ambos os lados, os combates entre soldados e milicianos palestinos concentram-se principalmente na região de Khan Yunis, em Jabaliya (norte) e na cidade de Gaza (norte)

dom, 10/12/2023 - 12:11

O Exército israelense travou batalhas ferozes neste domingo (10) com milicianos do Hamas na Faixa de Gaza e intensificou os seus ataques aéreos no estreito território, forçando centenas de milhares de pessoas a se aglomerarem em áreas cada vez menores.

Os Estados Unidos, que vetaram uma resolução da ONU a favor de um cessar-fogo em Gaza, aprovaram "urgentemente" a venda a Israel de cerca de 14 mil obuses para os tanques Merkava, utilizados na ofensiva contra o Hamas.

O movimento islamista, que governa Gaza, disse neste domingo que Israel lançou uma série de "ataques muito violentos" contra a cidade de Khan Yunis, no sul, e a estrada que liga essa cidade a Rafah, perto da fronteira com o Egito.

Segundo ambos os lados, os combates entre soldados e milicianos palestinos concentram-se principalmente na região de Khan Yunis, em Jabaliya (norte) e na cidade de Gaza (norte).

O Hamas continuou disparando foguetes contra Israel, mas o Exército afirma que a grande maioria foi interceptada pelo seu sistema antimíssil.

Pelo menos 17.700 pessoas, a maioria mulheres e menores de 18 anos, foram mortas por ataques israelenses em dois meses de combates no pequeno território, de acordo com os últimos números do Ministério da Saúde governado pelo Hamas.

Israel prometeu erradicar o Hamas após os ataques sem precedentes de 7 de outubro, quando os milicianos do grupo cruzaram a fronteira e mataram cerca de 1.200 pessoas e sequestraram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses.

Cerca de 137 reféns permanecem em Gaza, disse Israel no sábado.

Grupos de ajuda alertaram sobre a situação humanitária em Gaza, devido às doenças e à fome. "Não é apenas uma catástrofe, é apocalíptico", disse Bushra Khalidi, da Oxfam.

- Consequências "irreversíveis" -

O chefe militar de Israel, Herzi Halevi, apelou às suas forças para "pressionarem com mais força".

Imagens publicadas nas redes sociais no sábado mostram a bandeira israelense hasteada na "Praça Palestina", no centro da cidade de Gaza.

O assessor de segurança nacional, Tzachi Hanegbi, disse à televisão israelense que 7.000 "terroristas" morreram, sem especificar a origem do número.

O Exército israelense afirmou que 93 de seus soldados morreram na campanha.

Diante dessa situação, o secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou a "paralisia" das Nações Unidas diante da guerra e alertou que "a situação evolui rapidamente para uma catástrofe" que poderia ter consequências "irreversíveis para os palestinos" e para a região.

O Catar, principal mediador do conflito, afirmou que os esforços "continuam" para obter uma nova trégua e libertar mais reféns detidos em Gaza.

No final de novembro, um acordo de pausa de uma semana permitiu a libertação de 105 pessoas sequestradas em 7 de outubro em troca de 240 prisioneiros palestinos.

"Prefiro que os meus filhos sejam libertados através de negociações e não através de ações militares, porque temo que o exército os mate", disse Yechi Yehud à AFP durante uma manifestação em Tel Aviv para exigir a libertação dos reféns.

- Impacto "catastrófico" -

A intensificação dos combates terrestres e dos ataques aéreos em Gaza suscita receios crescentes na população civil, que tenta desesperadamente se proteger.

Quase 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, quase um milhão deles crianças, segundo a agência da ONU para a infância.

"Agora eles estão sendo empurrados cada vez mais para o sul, para lugares minúsculos e superlotados, sem água, comida ou proteção, com risco crescente de infecções respiratórias", alertou Adele Khodr, da Unicef.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que "o impacto do conflito na saúde é catastrófico".

Grande parte dos deslocados, impedidos de sair do território, transformaram Rafah em um grande acampamento.

Mais ao norte, na cidade de Gaza, um jornalista da AFP disse que milhares de pessoas se abrigavam em tendas improvisadas entre as paredes desabadas do hospital Al Shifa, que parou de funcionar e foi parcialmente destruído após um ataque israelense em novembro.

"Não importa para onde vamos, a morte nos persegue", disse à AFP Suheil Abu Dalfa, de 56 anos, cuja casa foi atingida por um projétil, que feriu seu filho.

- Deslocamento para o Egito -

O diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou em um artigo publicado no sábado no Los Angeles Times o deslocamento forçado de moradores de Gaza para o Egito.

"Se continuarmos neste caminho (…), Gaza deixará de ser uma terra para os palestinos", escreveu ele. Israel rejeitou a acusação, afirmando que "simplesmente não é verdade" que exista um plano para deslocar a população.

O conflito em Gaza também agravou os receios de uma conflagração regional.

Na Cisjordânia ocupada, mais de 260 palestinos foram mortos em confrontos com soldados ou colonos israelenses, segundo a Autoridade Palestina.

O Exército israelense afirmou que dois soldados foram feridos por foguetes disparados do sul do Líbano em direção ao norte de Israel. A aviação respondeu com ataques contra "alvos terroristas do Hezbollah", um movimento libanês.

No Mar Vermelho, uma fragata francesa derrubou dois drones procedentes de regiões do Iêmen controladas pelos rebeldes houthis, aliados do Hamas, que ameaçam interromper o tráfego nesta rota marítima estratégica.

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