Caso Roberto Jefferson divide apoiadores de Bolsonaro
Enquanto parte dos usuários das redes sociais condenou a violência, outra aplaudiu o fato de o ex-parlamentar resistir ao mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF
O ataque do ex-deputado Roberto Jefferson com granadas e tiros de fuzil contra agentes da Polícia Federal teve forte repercussão nas redes sociais e dividiu apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Enquanto parte dos usuários condenou a violência, outra aplaudiu o fato de o ex-parlamentar resistir ao mandado de prisão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Monitor de Redes Sociais do Estadão coletou mais de 1,28 milhão de menções ao caso Roberto Jefferson desde o início da tarde de domingo, 23 de outubro, até as 10h desta segunda-feira, 24. Cerca de 60% dos posts são negativos, segundo classificação automática da plataforma criada em parceria com a empresa Torabit; positivos e neutros somam 20% cada.
O ataque do ex-deputado a policiais foi um dos assuntos mais comentados do domingo na rede. O nome de Roberto Jefferson ficou em primeiro lugar dos trending topics do Twitter no Brasil entre 14h e 21h e no topo da lista mundial por cerca de três horas. Outros termos relacionados, como "Polícia Federal", "Bandido", "Granada" e "Bolsonaro apoia o crime", apareceram no top 10 de assuntos mais virais da plataforma.
De acordo com análise do professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado, em publicação no Twitter, a resistência armada de Jefferson contra policiais "desorientou a direita", que não soube como reagir adequadamente e foi superada pela mobilização da oposição - responsável por 55% dos tuítes nas quatro primeiras horas, contra 33% dos bolsonaristas.
"Bob Jeff deve ser tratado como bandido ou patriota? Estou confuso e preciso responder os ataques no WhatsApp", escreve um apoiador do presidente em um canal de Telegram ao qual a reportagem teve acesso.
No aplicativo de mensagens, também apareceram usuários dizendo que "se você se posicionar neste momento contra Roberto Jefferson, você está a favor de Alexandre de Moraes. Não existe meio termo" e questionando o fato de Bolsonaro ter repudiado não apenas a ação armada, mas as ofensas do petebista contra a ministra Carmen Lúcia.
No Twitter, houve ruído nas redes bolsonaristas antes do posicionamento de Bolsonaro sobre o assunto. A deputada Bia Kicis (PL-DF) chegou a postar um vídeo gravado pelo próprio Roberto Jefferson dizendo que não iria se entregar e tecendo críticas ao ministro Alexandre de Moraes. "Momento gravíssimo da nossa combalida democracia. PF cumpre ordem de prisão de Roberto Jefferson mas ele diz que não irá se entregar. Já houve tiroteio, como mostram as imagens".
Alguns usuários compartilharam o material com legendas como "nem todo herói usa capa" e "jamais cairei de joelhos por estes canalhas, cairei atirando".
Em sua primeira manifestação sobre o ocorrido, o pastor Silas Malafaia escreveu: "Vergonha total! Atentado contra a democracia! Mandar prender Roberto Jefferson por emitir opinião, mesmo que eu não concorde com elas, é o absurdo dos absurdos!". Depois, gravou um vídeo dizendo que não concorda com a ação violenta, mas questionando "o que seria mais grave", se a ofensa de Jefferson ou a atuação da ministra Carmen Lúcia.
Bolsonaro deu o tom nas redes às 13h40 de domingo, ao postar no Twitter que repudiava as falas e a ação armada de Roberto Jefferson contra agentes da Polícia Federal, "bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP". O posicionamento foi replicado nas redes da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), com a legenda "não existe crime de opinião no Brasil", e de outros políticos bolsonaristas, que questionam a validade das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Lamento as falas e repudio o episódio envolvendo o Sr. Roberto Jefferson. Tal estado de coisas acontece porque o sistema de freios e contrapesos não está funcionando", escreveu no Twitter o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos). O candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que lamenta o episódio e que "que nada justifica a violência".
Mais tarde, influenciadores e outros políticos repercutiram um vídeo no qual Bolsonaro dá a entender que teria mandado prender Roberto Jefferson e negativas do presidente de que teria relações de amizade com Jefferson. Em sabatina na TV Record, Bolsonaro se justificou dizendo que foi alvo de um processo movido por Jefferson contra ele em tribunal militar. Mais cedo, havia dito que não tinha fotos com Jefferson e foi desmentido nas redes e pela imprensa.
O ex-presidente Lula, adversário de Bolsonaro no segundo turno, compartilhou vídeo sobre o assunto. Opositores do presidente também subiram a tag "Bolsojeff" para reforçar ligações entre Bolsonaro e o aliado do PTB.