Grazziotin: "estamos focando em peças chaves do Senado"

De passagem por Olinda, a senadora do PCdoB deixou claro que os articuladores pró-Dilma deixaram "os trunfos" para reverter votos nesta reta final da análise do impeachment na Casa

por Giselly Santos sex, 12/08/2016 - 12:40
Chico Peixoto/LeiaJáImegens Grazziotin criticou a postura do PT quando Dilma mais precisou de apoio Chico Peixoto/LeiaJáImegens

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) negou, nesta sexta-feira (12), os rumores de que a base aliada teria entregado a luta contra o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT). Segundo ela, a fase de pronúncia no Senado, que resultou na aprovação do relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) por 59 votos a 21, não era foco dos aliados da petista, mas a reversão dos votos para o julgamento final, quando os parlamentares favoráveis a destituição de Dilma já vão ter uma perspectiva ampla de como será uma gestão comandada pelo presidente em exercício Michel Temer (PMDB). 

“Nós não teríamos condições neste espaço de tempo de tirar deles a maioria simples. Você está numa guerra, não pode mostrar antecipadamente as suas armas. Se você faz isso, dá espaço para os inimigos destruí-las. Esses números que estão postos não são reais, nem do lado deles, nem do nosso lado”, argumentou, durante um café da manhã com a imprensa em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR). “Nunca tivemos expectativa com esta fase. Quase que a gente pulou, por uma razão tática, de estratégia mesmo. Primeiro tivemos a admissibilidade, claro, tentamos fazer muita coisa, mas o clima já veio contaminado de lá [da Câmara] e dos acordos fresquinhos que Michel Temer, esse interino, fez com o parlamento”, acrescentou. 

Para a senadora, parte do agravamento do cenário também é culpa do PT, mas garantiu: “não jogamos a toalha e na carta ao Congresso vai ter a palavra golpe sim”. “Que o PT é problemático todo mundo sabe, mas não a este ponto [de jogar a toalha]. Ai já é muita intriga. Nós que não somos do PT, carregamos mais o ônus do que o bônus do governo sempre, tínhamos claro que naquele momento [do ajuste fiscal] ela estava fazendo uma inflexão, que ia de encontro ao nosso programa, mas era necessário para ver se salvava [o país] não é? Ou seja, garantia os dedos e deixam-se os anéis. Enquanto a gente estava lá o PT estava bombardeando”, disparou.

Na conversa, Grazziotin deixou a entender que os articuladores pró-Dilma no Senado têm trunfos, além da tão falada estratégia de convencimento, para utilizar nesta reta final de análise do processo. “Qualquer fato pode influenciar e sabem que a cada dia que passa a avaliação de Temer vai cair, e muito... Eles têm que manter os 54 [votos] e nós para tirar os 54 deles temos que arrumar seis. Com tudo isto que eles vêm fazendo, vocês tem ideia do que é criar um grupo de seis? O que move o político é a perspectiva de poder. Os senadores votaram porque eles acharam que se nós tínhamos não tínhamos votos para barrar a admissibilidade, mas se eles vislumbrarem o contrário?”, indagou a senadora, que está em Olinda para uma agenda de pré-campanha de Luciana Santos (PCdoB).

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Sob a ótica da senadora, se os aliados conseguirem mudar o pensamento de “algumas peças chaves, vários mudam”. “Tem o efeito manada”, salientou, pontuando que a intenção da interinidade é respaldada pelas afirmações do senador Romero Jucá (PMDB). “Ele que disse: precisa desta interinidade para fazer medidas que nenhum eleito consegue fazer e acabar com a Lava Jato”, frisou. “Se por um lado, eles dizem que Dilma perdeu a governabilidade e, isto é fato, pois eles fizeram com que isso acontecesse, por outro, verdade maior ainda, é que ele [Temer] não tem legitimidade, não só para continuar na cadeira, mas principalmente para aplicar o que ele está querendo fazer. O Michel já caiu na rede [da Lava Jato]. Se ele se efetiva no poder ele vai ter imunidade processual”, lembrou. 

Vanessa Grazziotin reconheceu ainda que Dilma perdeu a governabilidade, mas, segundo ela, isso aconteceu por causa do próprio parlamento que se deixou ser “levado pela postura pessoal” de Eduardo Cunha (PMDB). 

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