Governo trocou e-mails com empresa que denunciou propina
Segundo nova reportagem mdo jornal Folha de São Paulo, e-mails oficiais mostram reuniões marcadas com representantes da Davat Medical Supply
A denúncia de que o Governo Federal pediu propina para fechar contrato com empresa de vacinas contra a Covid-19 acaba de ganhar mais corpo. Segundo reportagem da Folha de São Paulo desta quarta-feira (30), e-mails obtidos pela reportagem mostram que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro negociou oficialmente a venda de vacinas com representantes da Davat Medical Supply. Um representante da empresa afirmou à Folha que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de assinar contrato.
As mensagens da negociação foram trocadas entre Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do ministério, Herman Cardenas, que aparece como CEO da empresa, e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador dela.
Ainda na terça-feira (29), Roberto Dias foi demitido do cargo. Além da acusação envolvendo pagamento de propina, o ex-diretor também foi mencionado no depoimento dos irmãos Luis Miranda (deputado pelo DEM-DF) e Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe de Importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, que denunciaram um suposto esquema de corrupção na pasta.
Segundo a reportagem, o próprio Dias enviou um email que mencionava a reunião ocorrida sobre o tema. Ele é apontado como o autor do pedido de propina. Um dos emails foi trocado às 8h50 do dia 26 de fevereiro deste ano, por meio do endereço funcional de Dias, "roberto.dias@saude.gov.br", e "dlog@saude.gov.br" —"dlog" é como o departamento de logística é chamado.
Na conversa, Cardenas informa da oferta de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca, citando Luiz Paulo Dominguetti Pereira como representante da empresa. "Fico no aguardo para ajudar a obter vacinas para seu país", diz.
Em entrevista à Folha, Dominguetti disse que jantou na noite anterior àquela manhã com Roberto Dias no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, em Brasília, quando ouviu, segundo ele, o pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina negociada.
"Ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo", afirmou. O contrato não foi assinado, segundo ele, porque a empresa se recusou a pagar a propina.
Outra mensagem reforça a versão de Dominguetti. Segundo ele, uma agenda oficial foi marcada na tarde do dia 26 no Ministério da Saúde com Dias para discutir a compra. O email foi enviado pelo departamento de Logística agendando o encontro às 10h50, pouco depois do email com a oferta feita.
Dias enviou um e-mail aos representantes no dia 1 de março. Na mensagem, ele diz que o governo brasileiro agradece a atenção da empresa em relação à necessidade do Brasil em obter vacinas. O ex-servidor também menciona uma reunião anterior entre eles e solicita um documento que vincule a Davati como representante da Astrazeneca no Brasil. Ele então acrescenta que, a partir disso, poderiam seguir adiante já que a proposta comercial da empresa parecia boa em relação a outras.
No dia 3 de março, Cristiano Alberto Carvalho, procurador da empresa, informou que o documento solicitado já foi enviado a Dias e seu então assessor, Marcelo Blanco.