Quanta coisa acontece em 365 dias? É tempo suficiente para a lua dar 12 voltas ao redor da terra, é o tempo de gestação de alguns tipos de baleia. Mas também é tempo suficiente para a deterioração da confiança do consumidor nos rumos da economia.
Tentando entender o que aconteceu (Copa, eleições, etc.)
No primeiro semestre a atenção de boa parte da população estava voltada para a “seleção”, a chegada dos times, a obras, os estádios, e as manifestações contra a copa. Passado o vexame dos “7X1“, se inicia um processo eleitoral antecipado, no qual predominou o marketing e os ataques pessoais, ficando a discussão de temas estruturais de lado.
Na economia durante esse período já surgiam indícios da necessidade de ajustes, mas governo e oposição se negavam a incorporar medidas de ajuste econômico claramente em seus discursos. As medidas econômicas de ajuste foram utilizadas por alguns partidos para atemorizar o eleitorado, alegando se o oponente vencesse o pleito, o país viveria um período de arrocho sem precedentes.
A margem da seara política a inflação estava em alta, consumo das famílias se contraía e o déficit nas contas públicas se ampliava. Mas o governo preferiu esperar o resultados das urnas para iniciar qualquer esforço de ajuste. Que fora outrora atribuído a possibilidade de uma vitória oposicionista.
Mal baixara a poeira das eleições e o governo adota medidas de ajuste. É válido notar que ajustes econômicos já foram realizados no Brasil no início de mandatos de vários governos, mas o ajuste promovido pelo governo foi realizado de forma intempestiva e sem uma preparação do ambiente econômico e político.
Não adentraremos na crise política, nas denúnicas da Petrobrás e etc., que também corroboraram para tal sentimento pessimista da população.
Esta retrospectiva nos ajuda a entender os dados abaixo:
| Abr/2014 (%) | Abr/2015 (%) | ||||
Melhor | Igual | Pior | Melhor | Igual | Pior | |
Finanças pessoais (-6 meses) | 37,82 | 54,49 | 6,09 | 16,75 | 65,22 | 18,04 |
Economia do Brasil (-6 meses) | 46,38 | 40,26 | 8,21 | 2,74 | 33,01 | 63,45 |
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau
Em abril de 2014 apenas 6,09% dos recifenses acreditavam que a situação de suas finanças pessoais era pior do que a de nov/13, já em abr/15 este percentual triplicou, atingindo 18,04%. Em relação ao ambiente econômico, apenas 8,21% dos entrevistados acreditavam que a situação da economia estava pior, já mês passado tal percentual saltou para 63,45%, valor 7,7 vezes maior. Ou seja, de maneira geral percebe-se que o contexto econômico atual é muito pior que o de nov/14.
Observando a expectativa do recifense em relação aos próximos 6 meses da economia, também se observa um cenário nada otimista. A tabela abaixo ilustra tal tendência.
| Abr/2014 | Abr/2015 | ||||
Melhor | Igual | Pior | Melhor | Igual | Pior | |
Finanças pessoais(+6 meses) | 62,32 | 32,37 | 2,58 | 33,92 | 51,13 | 11,9 |
Econoia do Brasil (+6 meses) | 57,62 | 25,84 | 11,24 | 8,05 | 38,81 | 50,72 |
Fonte: Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau
Em abr/14 apenas 2,58% dos entrevistados esperavam uma piora na sua situação financeira nos próximos 6 meses, em abril passado tal patamar havia atingido 11,9%. A mudança mais radical aconteceu na percepção sobre o futuro da economia brasileira. A série história do Índice de Confiança do Consumidor de Recife inferida pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau sempre apresentou o recifense como um povo extremamente otimista em relação aos rumos da economia, fato que pode ser observado no percentual de recifense que acreditava que a situação da economia iria melhorar em seis meses (57,62%) em abril de 2014, mas tal cenário se inverteu, na pesquisa de abr/15, 50,72% dos entrevistados acreditam que a situação da economia brasileira piorará em seis meses.
Tal inversão de sentimento do consumidor é muito ruim para a economia, pois consumidores menos confiantes gastam menos, o que afeta o ritmo de crescimento da economia. Tal queda na confiança é um componente crítico para um ciclo vicioso de: menos consumo, menos investimento, menos emprego e mais crise.