Tópicos | Eci Cavalcanti

Contrastando com a movimentação, muitas vezes, intensa do espaço, barulhos de carros de compras e conversas paralelas, ouve-se arranjos de músicas clássicas ou sacras nacionais e internacionais. No caminho que leva até o setor de luminárias do Atacado dos Presentes, unidade Torre, localizada na Zona Oeste do Recife, avista-se Eci Cavalcanti, de 74 anos, rodeado por seus inúmeros CDs e sentado em frente ao teclado. Trajando roupas sociais e de semblante que convida, mesmo sem dar uma palavra, a momentos de contemplação musical, Eci forma uma plateia rotativa.

Engana-se quem pensa que o talento para a música foi construído através de estudos na área. À reportagem, ele conta que é autodidata e os arranjos, que dão uma nova roupagem as músicas já conhecidas pelos ouvintes, são suas criações. Religioso, Eci também atribui o dom a Deus. A trajetória como músico começou ao lado dos irmãos, com que formou um trio e gravou os primeiros LPs. Ao todo, o músico reúne cerca de 19 CDs gravados e comercializados no centro de compras.

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Eci Cavalcanti com o seu teclado e Cd´s. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens

A parceria com o Atacado dos Presentes já dura alguns anos, tempo que Eci já nem faz mais questão de contabilizar. Antes de se fixar na unidade da Torre, onde está sempre nas terças, quintas e sábados a partir das 10h da manhã, ele se apresentou nas demais lojas da marca. “Quando eu comecei aqui nem era assim, era outra loja”, relembra.

Avô, casado e pai de três filhos, sendo um, nas palavras dele, especial, o artista, antes de iniciar na música, era comerciante. “Eu tinha uma loja, trabalhava com comércio. Mas, começou a não dar mais certo e acabei falindo”, conta ao LeiaJá. Antes de chegar até o Atacado dos Presentes, ele tocou em outros lugares, como o Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre. “Trabalhei por um tempo tocando no aeroporto, mas mudaram o meu horário, me colocaram de madruga. Eu não me agradei e resolvi sair”.

Eci com a esposa (camisa azul) e filhos. Foto: Arquivo pessoal

Para iniciar no estabelecimento, Eci conversou e apresentou seu material para os donos, a quem ele considera como “grandes amigos”. No início, o artista, além de tocar teclado, cantava. Em uma das apresentações cantando já no Atacado dos Presentes, ele relata que foi solicitado, por um dos clientes, a cantar uma música de Roberto Carlos. “Eu disse, calmamente, que não iria cantar aquela música. Mas ele continuou. Não cantei e, desde esse dia, eu apenas toco”.

Já fixo na unidade da Torre, o ex-comerciante se viu longe dos clientes nos últimos dois anos. Por fazer parte do grupo de risco e com o decreto de lockdown em Pernambuco, devido ao avanço da pandemia da Covid-19 no país, Eci precisou permanecer em casa. “Nesse tempo que fiquei em casa, eu consegui ficar mais tempo com o meu filho. Por esse lado foi bom”, admite.

Com a retomada, ele foi aconselhado pela filha, que é médica, a voltar às atividades de forma mais leve. Diante de tanta mudança, as vendas dos CDs já não eram muitas e o músico precisou se reinventar. “Eu percebi que os CDs já não estavam saindo como antes e que muita gente já não escuta mais no carro. Foi aí que eu tive a ideia de colocar as coletâneas em pendrives. Os clientes chegam aqui e têm essas opções. Tem gente que compra os discos para dar de presente, compra o pendrive para escutar no carro”.

Eci precisou se reinventar para manter as vendas e investiu nos pendrives. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Questionado sobre até quando pretende fazer música e se apresentar no Atacado dos Presentes, Eci Cavalcanti nem precisou pensar e já tinha a resposta. “Eu não penso em parar, não é algo que está nos meus planos. Mas, é claro que se eu não tiver mais condições, não vou insistir. Parar mesmo, fora dessa condição que falei, só quando Deus quiser”.

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