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O Sínodo de Bispos sobre a Família votou com ampla maioria um documento final de 94 parágrafos, que propõe "a integração" na Igreja dos divorciados que voltarem a se casar, após a análise de "caso a caso".

O texto foi entregue ao papa Francisco, que o divulgou ao público imediatamente.

Os 270 "padres sinodais", entre bispos e cardeais, que representam os bispos de todo o mundo, aprovaram a suspensão de várias proibições aos divorciados que se casarem novamente, entre elas a de serem padrinhos de batismo e de casamento.

Os padres sinodais insistem, contudo, em que é necessário um "discernimento", um exame "caso a caso", para autorizar o acesso aos sacramentos, como a comunhão e a confissão.

Com isso, os bispos fizeram algum movimento no sentido de uma Igreja mais acolhedora com os casais que vivem juntos, com os homossexuais e com os católicos em situação irregular, ecoando o pedido do papa argentino a favor de uma instituição que pare de julgar e de condenar.

Três parágrafos tiveram um consenso menor - sobretudo, os de número 85 e 86, dedicados a temas bastante sensíveis para a Igreja Católica. Superando a maioria mínima necessária de dois terços (177), os parágrafos 85 e 86 estão entre os menos votados, com 178 votos a favor e 80 contra.

Nesses parágrafos, os bispos sinodais propõem que "os batizados que tiverem se divorciado e voltado a se casar civilmente sejam reintegrados à comunidade cristã, na medida do possível, evitando gerar escândalo". O texto não especifica se poderão realizar a comunhão.

"Os divorciados que voltarem a se casar não devem se sentir excomungados e podem viver e envelhecer como membros vivos da Igreja, sentindo-a como uma mãe que acolhe sempre", acrescenta o texto.

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, lembrou que se trata de propostas dirigidas ao papa, que decidirá se será necessário elaborar um documento papal sobre a família.

"Não se pode negar que, em algumas circunstâncias, a responsabilidade (da crise do casal) pode ser menor, ou anulada (...) As consequências de alguns atos não podem recair sobre todos por igual", defendem os prelados, ao se referirem aos divorciados.

No encerramento do sínodo, o papa Francisco elogiou a liberdade de expressão que reinou ao longo das três semanas de trabalho e criticou abertamente "os métodos não de todo benévolos" empregados pelos setores conservadores contra suas propostas de reforma.

"Um sínodo 'sem vencedores nem vencidos', por não oferecer saídas concretas", resumiu o diretor da Religião Digital, José M. Vidal, analisando a votação.

"Como faz sempre, a Igreja buscou a comunhão. [...] Mantém-se em critérios gerais e em orientações genéricas", completou Vidal.

Decepção para alguns

O espinhoso tema da homossexualidade foi abordado em apenas um parágrafo, no qual se reitera que a Igreja "respeita" os homossexuais, condena qualquer "discriminação injusta" e se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

O restante desse parágrafo recomenda a Igreja a "acompanhar as famílias com um membro homossexual".

Para muitos dos presentes, tratar do tema da homossexualidade em uma reunião dedicada à família significou uma anomalia, enquanto para outros prelados, sobretudo africanos, o assunto continua sendo tabu.

"O que parece normal para um bispo de um continente pode ser estranho, quase um escândalo, para outro de outro continente", reconheceu o sumo pontífice.

Francisco decidiu convocar dois sínodos sucessivos sobre a família - um, em outubro de 2014, e o outro, em outubro de 2015 - para levar a Igreja a se atualizar frente às mudanças na sociedade moderna.

Na sexta-feira, em uma missa, o papa disse querer estimular a Igreja a "avaliar os tempos e a mudar com eles, permanecendo firme no Evangelho".

Sobre outro ponto importante, no Sínodo, os bispos reiteraram que a instituição aplicará "tolerância zero" em relação à pedofilia, comprometendo-se a colaborar "de forma estreita" com a Justiça.

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