Depois dos ex-ministros de Direitos Humanos, do Meio Ambiente e da Justiça, diversos titulares do Ministério da Educação em governos passados se reuniram nesta terça-feira, 3, para tecerem críticas conjuntas ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Empenhados em mobilizar uma oposição em frentes temáticas, os ex-ministros pegam embalo no discurso de que as pastas que ocuparam tratam de políticas de Estado e, portanto, não podem ser partidarizadas.
"Isso mostra que está surgindo um pensamento nacional, diferente do que o governo federal está fazendo. Não se trata apenas de questões partidárias, se trata de posições de Estado", afirmou ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o ex-ministro da Educação e ex-senador Cristovam Buarque, que trabalhou no primeiro governo Lula. "É uma maneira nova de se preocupar com os problemas nacionais acima dos partidos".
##RECOMENDA##Cristovam é um dos signatários do manifesto pela educação assinado hoje por seis ex-ministros da área, o mais recente documento a reunir ex-ocupantes de cargos públicos que se colocam contra as políticas de Bolsonaro. Além dele, subscreveram o documento Fernando Haddad (governos Lula e Dilma Rousseff), Aloizio Mercadante (Dilma), Renato Janine Ribeiro (Dilma), José Goldemberg (governo Collor) e Marcílio Higel (Itamar). Responsável pela Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza morreu em 2011. Outros ex-chefes da pasta alegaram incompatibilidade de agenda ou não retornaram a contatos.
Os ex-ministros que assinaram o documento dizem ver as políticas adotadas desde a Constituição de 1988 como um ciclo único, quebrado agora por Bolsonaro. "Nós percebemos que há esforços que não estão sendo feitos na direção correta. O esforço, na nossa área, está sendo feito em questões secundárias da educação, tais como filmar professores e tomar medidas completamente alheias ao que se entende por educação", comentou José Goldemberg, ministro da Educação de Fernando Collor e ex-reitor da USP.
Para Haddad, ministro por seis anos e meio e candidato derrotado por Bolsonaro na eleição presidencial do ano passado, há uma espécie de insatisfação generalizada com o atual governo.
"O alarme no Brasil já soou em várias áreas. Hoje mesmo tem uma manifestação de 11 ex-ministros da Justiça publicada na Folha de S.Paulo. O mesmo acontece na economia, na segurança pública, no meio ambiente, nas relações exteriores, nos direitos humanos e infelizmente não está sendo diferente na área da educação", disse, durante sua explanação ao lado dos colegas.
Precedentes
A fala de Haddad faz referência a um artigo conjunto divulgado nesta terça-feira, em que ministros da Justiça dos governos FHC, Lula, Dilma e Temer se manifestaram contrariamente à política de acesso a armas de Bolsonaro. "Independentemente dos partidos que estavam no poder e da orientação dos governos dos quais fazíamos parte, nosso compromisso sempre foi o de fortalecer avanços que consolidassem o Brasil como uma referência de regulação responsável de armas e munições para a América Latina e para o mundo", destacaram no texto, endossado por nomes como Aloysio Nunes Ferreira, Tarso Genro, José Eduardo Cardozo, Miguel Reale Jr. e Raul Jungmann.
Na área do meio ambiente, a reunião de ex-ministros ocorreu no começo de maio no mesmo auditório da realizada hoje pelos antigos responsáveis pela Educação. Eles acusaram a gestão Bolsonaro de causar o "desmonte" da agenda ambiental do País. Marina Silva, Sarney Filho e Rubens Ricupero foram alguns dos postulantes do documento. O atual ministro, Ricardo Salles, rebateu em nota os colegas. "O atual governo não rechaçou, nem desconstruiu, nenhum compromisso previamente assumido e que tenha tangibilidade, vantagem e concretude para a sociedade brasileira", respondeu Salles.
O grupo chamado de 'Comissão Arns' foi o pioneiro ao reunir ex-ocupantes de pastas para acompanhar políticas do governo Bolsonaro. Ele é um observatório para monitorar casos de violação de direitos humanos no País. De um total de 20 personalidades, seis foram ministros: Claudia Costin, José Carlos Dias, José Gregori, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Paulo Sérgio Pinheiro e Paulo Vannuchi.
Para o ex-ministro Aloizio Mercadante, que além da Educação chefiou também a Casa Civil e o Ministério da Ciência e Tecnologia, há movimentos semelhantes entre ex-ministros da Saúde, das Relações Exteriores, da Cultura e da própria C&T. "Eu acho que existe uma ampla frente democrática em defesa de políticas públicas que foram construídas a partir da Constituição de 1988 que foram agredidas", disse, à reportagem.