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"Um menino arretado, filho do finado Lampião, o cangaceiro mais temido do Nordeste, decide partir em uma jornada após a morte do avô. Ele, por outro lado, não deseja seguir o mesmo caminho que o pai, pois o seu maior sonho é se tornar o maior herói do nordeste". Essa é a sinopse do mangá "Oxente" (2018), produzido por Rhenato Guimarães, 30 anos, de São Paulo. Ele desenha desde a infância e sempre gostou de ler quadrinhos.

Com o passar dos anos, Guimarães começou a cultivar o desejo de se tornar autor e percebeu a oportunidade de adaptar a cultura nordestina no estilo dos quadrinhos japoneses, conhecidos como mangás. Por ser muito fã das histórias de "Naruto" (1999-2014), o autor assimilava o universo da obra com o sertão, e foi aí que nasceu o conceito de "Oxente". "Como nunca tinha visto nada parecido nas obras nacionais, resolvi ousar e criar um 'Naruto nordestino' e incluir o cangaço, que é a marca registrada do Nordeste", comenta.

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Rhenato Guimarães, criador da HQ "Oxente" (2018) | Foto: Arquivo Pessoal

No Brasil, o quadrinista independente precisa lidar com diversas barreiras, pois o público exige que as obras nacionais sejam mais coloridas e melhor estruturadas em comparação com as produções internacionais. "Se você não apresentar um produto de qualidade que se equipare as obras consagradas, já sofre restrição", afirma Guimarães. "Procuro fazer o melhor para apresentar algo bom e que cative o público no geral", complementa.

Apesar das exigências, os leitores tem abraçado as histórias que aprofundam os costumes nordestinos, com todo o seu folclore, traços cartunescos e o sotaque presente nos diálogos. "É bem inusitada a recepção do público com obras que valorizam essa cultura, ainda mais em estilo mangá", relata Guimarães.

Jaguar Pistoleiro

Jimmy Darwin, 41 anos, de Fortaleza (CE), também desenha desde a infância. Antes de criar o anti-herói nordestino Jaguar Pistoleiro, o quadrinista produziu os "Os Darwins" (2015), que conta a história de cinco irmãos que possuem habilidades paranormais. As HQs foram disponibilizadas na página do autor no Facebook.

Uma dia, Darwin desenhava ao som de Luiz Gonzaga (1912-1989) e percebeu que precisava criar algo que ilustrasse a região e realidade do Nordeste. Desse conceito, surgiu "Jaguar Pistoleiro" (2018), inspirado em histórias de homens pagos por políticos e empresários para se livrarem de seus desafetos.

O autor de "Jaguar Pistoleiro" (2018), Jimmy Darwin | Foto: Arquivo Pessoal

Baseado em histórias reais, o nome do anti-herói faz referência ao município do Ceará chamado Jaguaribe, que é famoso por ter sido o lar de um dos maiores pistoleiros do nordeste, Jaguar. "Imaginei um pistoleiro, conhecido pela alcunha de Jaguar, arrependido de sua vida bandida e vivendo em busca de redenção", descreve Darwin.

Com foco nos cearenses, a história de Jaguar Pistoleiro se passa na capital Fortaleza. Assim como outras HQs nacionais, a obra enfrenta a rejeição dos que acreditam que heróis só podem ser estadunidenses ou japoneses. "Não existe nenhum incentivo para esse tipo de trabalho, e nós quadrinistas temos que fazer tudo na raça. E também, o próprio povo brasileiro não é muito dado à leitura, e é preciso saber conquistá-los", relata Darwin.

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A princípio, "Jaguar Pistoleiro" foi recebido pelo público com certa resistência, mas após a primeira história ter sido divulgada, os leitores abraçaram a ideia. "A regionalização não cativou apenas os cearenses. Semana passada recebi a mensagem de um mineiro que leu, gostou, e ainda aprendeu um pouco mais sobre o Ceará", recorda o autor, que, ao usar o Instagram como ferramenta de divulgação, passou a receber mensagens e elogios de leitores de outros países.

A HQ "Jaguar Pistoleiro" está disponível de maneira gratuita.

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