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O programa Opinião Brasil, que vai ao ar toda segunda-feira pela TV Leia Já, está sendo exibido de forma diferenciada esta semana. Com foco no consumo de drogas, o programa exibe até amanhã (16) uma série que teve início nesta última quarta-feira (14). Apresentado pelo jornalista Álvaro Duarte, o especial “Crack, dinheiro, dependente e família” conta com a participação de especialistas no tema, ex-dependentes, personagens anônimos.

Nesta quinta-feira (15) você confere a abordagem sobre o usuário, com a presença do pedagogo e educador social do Grupo Ruas e Praças, Antônio José da Silva, do pastor e responsável pelo Grupo de Recuperação Dom Paulo Ruiz Garcia, Valdemar Santana e mais uma vez do médico psiquiatra, Marcelo Machado.

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O Grupo Ruas e Praças é uma Organização não Governamental (ONG) e atua no centro da cidade do Recife desde 1987. O objetivo da ONG é retirar das ruas, através de atividades lúdicas, meninos e meninas que tiveram seus sonhos destruídos pelas drogas. Através do programa, crianças e adolescentes são conduzidos para o Centro Educacional Vida Nova – Sítio Capim de Cheiro -, localizado no Município de Caaporã, na divisa do estado de Pernambuco com o estado da Paraíba. Lá, eles recebem alimentação, tratamento e conseguem recuperar os sonhos e desejos deixados para trás.

Seguindo pela mesma vertente está o Grupo de Recuperação Dom Paulo Ruiz Garcia. O projeto atende dependentes químicos – do sexo masculino – que não têm condições de custear uma internação. Conforme o reverendo Valdemar Santana, no grupo a dependência é tratada através do trabalho cristão e holístico. O tratamento é oferecido através do evangelho e da ciência.

Ainda no segundo programa, o psiquiatra Marcelo Machado detalhou os sintomas apresentados por dependentes químicos. De acordo com o médico, o primeiro sinal é a falta de interesse nas atividades. O usuário abandona a escola, o trabalho e começa a se afastar dos amigos. Em seguida, ele demonstra uma mudança de horário. Se ele normalmente realizava uma atividade durante o dia ele passará a realizá-la durante noite.

A família também deve estar atenta ao desaparecimento de objetos. No começo o dependente some com pertences pessoais e depois ele se desfaz dos objetos da casa. Outro sinal é a mudança do grupo de amigos. O usuário de drogas passa a se relacionar com pessoas de outros meios.

Apresentados esses sintomas, a orientação do especialista é que os familiares ou amigos recorram a uma unidade de saúde para realizar um exame taxológico. Caso o resultado seja positivo o ideal é fazer uma avaliação e, se necessário, recorrer à internação.

O primeiro bloco será exibido nesta quarta-feira (14) e tratará sobre os projetos criados, a nível nacional, para combater essa epidemia. Um dos mais recentes planos elaborados é o “Crack, é possível vencer!”, lançado em dezembro passado pelo Governo Federal. Com o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários, o projeto prevê investimento de R$ 3,92 bilhões com atuação articulada entre o governo federal, estado e município.

Família - Por fim, o último bloco do programa, que será exibido na próxima sexta-feira (16), tratará sobre o acompanhamento das famílias dos dependentes químicos. Os entrevistados foram o responsável pelo Grupo de Apoio Carismático, João Alberto Tenório, e a coordenadora do Grupo Amor Exigente, Rubia Goulart.

O Grupo de Apoio Carismático trata as pessoas com qualquer tipo de compulsão.  O trabalho é baseado nos Alcoólicos Anônimos (AA) e apóia tanto o doente quanto a família. Segundo João Alberto, o projeto consiste na participação onde cada um conta sua experiência de vida. O primeiro passo para o tratamento é a conscientização do problema. Dependentes e familiares devem assumir que precisam de ajuda. A partir do desejo da recuperação, a dependência é tratada e as famílias são restituídas.

Já o Grupo Amor Exigente orienta pais e familiares a lidarem com jovens ou adultos que sofrem de dependência química. O grupo promove encontros semanais divididos em três partes. Inicialmente é feita uma reflexão sobre a espiritualidade.  No segundo passo, os participantes discutem a situação que vivem nas suas famílias. Para finalizar, são instituídas metas semanais, para que seja analisado o que pode ser mudado. Os dois grupos oferecem apoio e tratamento de forma gratuita.

Cena 1 - No primeiro dia da série, ontem (14), o secretário de Defesa Social (SDS), Wilson Damázio, o médico psiquiatra, doutor Marcelo Machado e a gerente do programa Mais Vida da secretaria municipal de Saúde do Recife, Angélica Oliveira trataram do tema de uma forma geral. O secretário da SDS, que também esteve presente na reunião de lançamento do plano de enfrentamento ao crack, explicou as formas de atuação do projeto, no âmbito do Governo.

Na área de tratamento para dependentes químicos, Angélica Oliveira falou sobre o programa “Mais Vida”. Presente no município desde 2003, o projeto atende usuários de drogas lícitas e ilícitas nos Centros de Apoio Psicossocial em Álcool e Outras Drogas (CSPSad, distribuídos por todo o Recife. O “Mais Vida” ainda disponibiliza abrigo em albergues terapêuticos, uma unidade de desintoxicação, um centro de referência para mulheres e seis consultórios de rua.

O médico psiquiatra e especialista em dependência química, Marcelo Machado, participou da discussão esclarecendo as dúvidas sobre o processo de desintoxicação dos usuários de drogas.  Segundo o médico, o tempo de tratamento depende de inúmeros fatores, como o tipo de entorpecente consumido e o suporte social. O especialista explicou que os seis primeiros meses de abstinência são fundamentais para que o usuário consiga um bom sucesso nos demais dois anos de abstinência continuada. Ainda dentro deste bloco, apresentador e entrevistados debateram sobre o seguinte questionamento: “É possível vencer o crack?”.

Confira aqui.

 

 



O programa Opinião Brasil da semana é dedicado ao Dia Internacional das Mulheres. Para debater temas como sexualidade, machismo, mulheres no poder, entre outros, Álvaro Duarte recebe, no estúdio, a bióloga Elizângela Bezerra, a estudante de direito Monique Lima, e a aposentada Léa Lucas.

O programa foi marcado pelo bom humor das convidadas, com destaque para a alegria de Léa Lucas, uma senhora que faz do amor a melhor forma de se viver.

Confira o especial na íntegra.

 

Mulher

Lara

Klaus

 

Uma jovem de 26 anos que ousou ao escolher como profissão uma área ainda dominada por homens. E que se destaca pela qualidade do seu trabalho, fazendo sumir quaisquer preconceitos ou narizes torcidos assim que começa a tocar seus instrumentos. Se ainda somos acostumados a ver as mulheres apenas como musas inspiradoras, estranhando quando elas não estão à frente da banda cantando, estamos nos rendendo ao óbvio: elas podem ser sim ótimas instrumentistas, fugindo do lugar-comum que as prenderam por muito tempo à função de divas-cantoras.

A dedicação de Lara Klaus à música já fez dela uma referência local quando o assunto é percussão. E a instrumentista também é uma elogiada baterista. Seu trabalho já a levou a outros Estados brasileiros – que ela tem visitado com frequência para tocar – e até mesmo outros países. Hoje Lara Klaus integra as bandas de artistas como André Rio, Zé Manoel e o guitarrista Luciano Magno, e o respeito que tem conquistado colabora para uma aceitação real das mulheres como instrumentistas, função que elas têm exercido com cada vez mais frequência e propriedade.  

Quando você entrou para o mundo da música?

Comecei a estudar música aos oito anos, estimulada pelos meus pais. Minha irmã quis fazer balé, mas eu preferi música. Eu comecei tocando violão e fiz aula de teclado por vários anos. Aos 11, 12 anos comecei a me interessar pela bateria e meu pai comprou uma para mim. Na mesma época entrei no Conservatório de Pernambuco estudando violão e tendo a bateria como instrumento auxiliar, que eu estudava com o professor Maurício Chiapetta.

O fato das mulheres serem ainda exceção como instrumentistas no mercado musical influencia de alguma forma sua carreira?

As portas sempre estarão abertas pra quem acredita e, de alguma forma, se destaca no seu trabalho. Creio que consegui me inserir no meio musical após persistência, estudo e amor pelo que faço, motivos pelos quais eu sigo trabalhando, não apenas pelo fato de ser mulher.

O que significa ser mulher pra você em 2012? Fatores como maternidade ainda são determinantes, ou a vida profissional tem mais importância?

Esse privilégio cabe apenas a uma parte da população! A mulher, nos dias de hoje, é fator determinante para a evolução do mercado de trabalho e para o desenvolvimento da sociedade moderna. Sem perder, claro, seu papel importantíssimo de mãe, coisa na qual só pretendo pensar mais pra frente. Neste momento, sem dúvida, a carreira vem em primeiro lugar.

Que barreiras ainda precisam ser derrubadas para a superação dos preconceitos em relação à mulher?

Sinto que alguns homens ainda são meio receosos em trabalhar e dividir responsabilidades com as mulheres. Primeiro, devemos mostrar serviço, depois, seremos respeitadas. Mas isso também acabada acontecendo com todo mundo, independente do sexo.

Qual seu objetivo maior na vida e no trabalho?

Só sei que quero ir longe e pretendo trabalhar bastante pra isso.

 

Mulher

Esmeralda

Carmelita

Ela exerce uma das profissões mais masculinas nos dias de hoje. Conseguiu criar dois filhos vendendo bala no centro da cidade e, agora, com 50 anos, tem a responsabilidade de conduzir pessoas todo o dia e ainda impõe respeito ao volante. A motorista de ônibus, Esmeralda Carmelita da Silva, não leva a sério o preconceito ainda existente em sua profissão e já aprendeu a driblar as velhas piadas dos colegas de trabalho.

Ao passar pelas ruas do Recife, as pessoas se surpreendem ao se depararem com uma mulher no comando de um veículo de grande porte e com três batons no painel do veículo. Entre um sinal e outro, Esmeralda transforma o ônibus no lugar mais feminino da cidade. Passa batom e penteia o cabelo usando os espelhos do retrovisor e chama a atenção dos passageiros que sobem no transporte.

Como você ingressou nessa profissão, como foi o início da carreira?

“No começo foi muito trabalho duro. Arrisquei fazer a prova de motorista em outra empresa três vezes e não passei. Então tentei um emprego de cobradora de ônibus na empresa Globo e lá dentro da garagem, com ajuda de alguns amigos, eu aprendi a fazer manobras e a guiar um veículo tão grande e quando surgiu a oportunidade eu já estava preparada.”

 Você percebe preconceito dos colegas de trabalho e dos usuários de ônibus?

“Alguns passageiros têm reações positivas, outros nem tanto, mas percebo mais preconceito dos meus colegas de trabalho. Eles costumam ser discretos nos comentários, mas não deixo de notar alguns gestos e comportamentos quando estou dirigindo.”

O que te motiva a continuar nessa profissão?

“Meus sonhos me incentivam. Desde quando consegui tirar a minha primeira habilitação, meu sonho sempre foi dirigir veículos de grande porte e quando consegui passar na prova de uma empresa de ônibus sabia que era aquilo que eu queria fazer até me aposentar.”

Com essa rotina corrida, ainda sobra tempo para ser vaidosa?

Costumo usar o meu próprio ambiente de trabalho como um salão de beleza. Trago sempre minha nécessaire com batons, pente, perfume e ao longo do trajeto, entre uma pausa e outra, dou um jeitinho de me maquiar e pentear o cabelo. Em um ambiente tão masculino como esse, não posso deixar a minha vaidade de lado.

 

Mulher

Dona

Nilza

“A minha mãe nunca trabalhou na vida. Ela sempre dependeu dele (do pai). E aquilo ali me angustiava. De vê-la pedir e ele perguntar aquela clássica pergunta: ‘pra quê? ’. Aí eu disse: esse ‘pra quê’ não vai ter na minha vida”. 

 

A angústia que dona Adilza sentiu dentro de sua própria casa, enquanto adolescente, foi a motivação que a levou a buscar sua própria identidade e independência. Em meados da década de 60, quando em Barreiros, sua cidade natal, a sociedade patriarcal dominava e regia as famílias, ela optou por fazer seu próprio caminho.

Aos 23 anos Adilza Machado Freire, recém formada em técnico agrícola, mudou-se com sua família para a cidade. Seus pais, Iracema e Manoel, acreditavam que em Recife os cinco filhos teriam mais possibilidades de vencer na vida. A capital pernambucana oferecia a possibilidade de estudo e emprego para ela e pros seus irmãos. O sonho de Adilza era fazer odontologia, porém o curso de secretariado pareceu mais acessível, já ela tinha que trabalhar para garantir o sustento. O curso de odontologia necessitava de dedicação integral, enquanto  que o Secretariado a permitia mesclar estudo e trabalho.

Foi assim que trabalhando como secretaria na IBM Brasil, empresa localizada no centro do Recife, Adilza lutou por sua idependência. Comprou carro e apartamento. Nessa época ela tinha se apaixonado pelo homem que viria ser o pai de suas filhas. Para morar com ele, fez questão de que o apartamento fosse comprado por ela. Seria uma garantia de segurança para o futuro incerto. Aos 35 anos engravidou da primeira filha, Érica, e o relacionamento familiar era excelente. Na segunda gravidez se separou. Não aguentou conviver com o marido, que era alcoólatra. Sozinha e com duas meninas ela foi a luta e hoje se sente realizada.

A senhora veio de Barreiros, uma cidade pequena, numa época que as mulheres não se viam ainda como autossuficientes. Como você avalia isso?

Poucas pessoas em Barreiros saíam para estudar. Ficavam por lá, casavam, os filhos ficavam ali... e daquele marasmo da vida não saiam. Naquela época que eu vivi a independência era difícil. Hoje é mais fácil, você tem sua independência, ganha seu dinheiro. Todo mundo trabalha novo, os locais para trabalhar já estão mais abertos pras mulheres, não é difícil como meu tempo. Mas aí eu fui à luta pra vencer, eu não aceitava estar dependendo de ninguém.

A senhora contou que sonhava em ser independente. Como planejou sua vida?

Eu não queria depender de ninguém. Eu sempre fui à luta. Casamento de pedir não era pra mim. Eu queria ter. Então primeiro me estruturei, pra depois ter a pessoa, paquerar... Quando me estruturei, que eu podia ter minhas filhas, ser independente, qualquer filho que eu tivesse eu podia sustentar independente da outra pessoa ajudar ou não, eu podia manter as minhas filhas.

Quando eu me separei estava grávida de cinco meses da segunda filha. Eu disse ‘não dá mais’. Naquela época eu não entendia muito, mas Deus me ajudou e o levou pra Manaus. Eu me livrei dele estar na minha porta todo dia, me criando problemas. Na época morávamos os três. E eu com Fabíola na barriga. Ele tinha esse problema, bebia muito. Eu não bebo, nem fumo. Na minha casa não tem bebida. Não gosto de fumo, nem de bebida e ele fazia as duas coisas: bebia e fumava, chegava tarde. Eu não tinha a segurança, ele tinha muitos amigos, eu me via como segunda opção. No começo tudo era fácil, eram flores. Depois as flores começam a cair, os espinhos começam a nascer.

Depois que a senhora se viu sozinha. O que pensou?

Eu tinha duas filhas e me garantia. Eu sabia que poderia cuidar delas e sustentá-las. Dali pra frente era impraticável ter mais filho. Principalmente pela idade. Já fui ter filho madura pra eu poder ter direito, nasci no interior, numa vida muito presa. Eu não conhecia tudo, então eu precisava viver primeiro. Fui trabalhar, comprei carro, apartamento, fiz minhas economias para ter o meu lugar... fui trabalhando e vivendo. Então, quando ele se foi não podia me ver no mundo perdida, por mais que eu estivesse sem eixo. Eu tinha que olhar por mim e pelo que eu tinha. Se eu botei no mundo, eu tinha que assumir. Eu não ia num lado nem do outro da família buscar nada. Eu me virava com o que eu tinha.

Como foi pra senhora sustentar as duas filhas, sozinha? Teve alguma dificuldade?

Menina gasta muito mais do que menino. E ainda tive problemas na época de Collor, de meu dinheiro ficar retido e eu tive que me virar. Até bolo, empada. Eu fiz salgadinho e fui vender no Parque da Jaqueira com elas (as filhas) pequenas. Em alguns momentos batia a dúvida e eu pensava ‘será que dá ou não dá?’. Mas tinha que dar. Se não acreditasse em mim eu podia contar com quem? Não podia contar com ele. Felizmente tinha meu emprego e minha casa.

Hoje a senhora é aposentada. Goza de tranquilidade na vida. Está satisfeita e se sente feliz?

Isso pra mim é uma vitória. Hoje se me perguntarem "como é que a senhora se sente?", eu digo ‘realizadíssima. Por lutar, por ter duas filhas e hoje as duas estarem formadas. Fazer as coisas que elas quiseram fazer. Fizeram exatamente o que elas escolheram. Eu disse ‘cada uma vai fazer o curso que quer fazer e não aquilo que eu gostaria de ter feito. Eu preciso de profissionais realizadas e não frustradas’. Fiz secretariado porque eu tinha que ter como me sustentar. E elas não, cada uma fez aquilo que queria fazer. Criei minhas filhas com independência. Hoje eu digo pra elas: ‘Vocês primeiro trabalham, se autossustentam. Depois vocês casam’. Foi o que deu certo pra mim. Depender de pensão alimentícia pra mim era a pior coisa do mundo.

 

Mulher

Ana

Karina

 

Falta, impedimento, escanteio, pênalti e tiro de meta. Esses termos, entre outros do mundo futebolístico, passaram a fazer parte da vida de Ana Karina Marques, nos últimos dez anos. A árbitra de 32 anos, que atualmente apita o Campeonato Pernambucano, deixa de lado a timidez e a delicadeza e assume uma postura firme durante os 90 minutos de jogo – fora os acréscimos. Além do uniforme, apito e cartões amarelo e vermelho, ela não dispensa o batom e o lápis de olho antes de entrar em campo. Se pudesse, continuaria a usar brincos, mas os itens foram proibidos dentro das quatro linhas.

Todo jogador ou jogadora de futebol sonha em participar de uma Copa do Mundo. O mundial também é o alvo da juíza, que integra o quadro da Fédération Internationale de Football Association (Fifa). Antes disso, o próximo passo é apitar jogos dos campeonatos nacionais. Do desafio, ela não tem medo. Dá um cartão vermelho para o preconceito e segue mostrando ritmo e segurança na profissão que não é lá muito adorada pelos torcedores. Fora de campo, ela revela que os jogadores mantêm o mesmo respeito que o demonstrado durante o jogo. “Nunca levei nenhuma cantada. Devido a minha postura em campo, eles têm respeito”.

Você sempre gostou de futebol?
Na verdade, eu não acompanhava os campeonatos. Só via os jogos da Seleção Brasileira. Mas não tinha noção das regras. Falta, impedimento... Não fazia ideia da diferença de cada um. Diferente do que as pessoas pensam, eu nunca joguei futebol. Já joguei vôlei, mas futebol, nunca.

E como e por que você se tornou árbitra?
Tudo começou quando um colega de infância convidou a mim e ao meu irmão para fazer o curso. Resolvi arriscar e comecei o curso. Ao poucos, fui gostando e sempre recebia incentivo dos colegas de turma. Minha família também sempre me apoiou, inclusive meu irmão, que fez todo o curso, mas hoje não apita mais. De início, eu queria ser assistente, mas a demanda por juíza principal era grande, porque havia apenas duas - Maria Edilene e Andrea Amorim – e a Edilene estava se aposentando.

Como foi a sua estreia?
Foi uma roubada [risos]. O primeiro jogo foi em um campeonato amador na Iputinga. Foi uma prova de fogo. Um grupo de árbitros foi escalado para apitar o campeonato. Eu era a única mulher. Durante a partida, o jogador, puxou meu cabelo. Eu o expulsei e tive que me impor. Depois desse dia, fiquei pensando: “Isso não é para mim. Não vou apitar mais”. Minha família me ajudou a seguir em frente e hoje estou mais acostumada. Hoje, vejo que o campeonato amador me ensinou muito. É relativamente mais fácil apitar um jogo oficial, que há seguranças para agir quando for necessário. Nos jogos de várzea, isso não existe. Os jogos de várzea me deram coragem e ritmo.

O juiz não é muito admirado pela torcida, que geralmente pega no pé e xinga antes mesmo do início da partida. Como você lida com isso?
Eu já me acostumei. Futebol é assim mesmo. Um pode sair satisfeito e outro não. Entramos em campo querendo fazer o melhor. Nem sempre, todo mundo sai satisfeito. Da torcida recebo até elogios. Acho os torcedores criativos. Às vezes, fico rindo das coisas que os torcedores fazem. A resistência diante de uma árbitra tem diminuído, mas acredito que a imprensa e os torcedores se apegam demais aos erros. Quando acerta, não fez mais que a obrigação. Quando erra, as críticas são grandes. E se o erro for de uma mulher, a repercussão é maior.

Fora de campo, quem é Ana Karina Marques?
Eu sou uma mulher tímida [risos]. Tive que lutar muito para perder a timidez na vida profissional. Ou eu perdia a timidez ou não ia dar certo. Eu me sentia estranha, parecia outra pessoa. Mas me acostumei. Também não abro mão da minha vaidade. Hoje, consegui um uniforme um pouco mais feminino e uso sempre batom e lápis.

É certo que as mulheres são presença constante na música brasileira desde a construção como identidade e sonoridade únicas no mundo, a partir da segunda metade do século XIX. Essa presença, porém, determinada por fatores sociais e históricos, deu-se quase sempre do lado de fora da produção artística. As mulheres surgiram, ao longo da história, majoritariamente como musas, inspiração para autores e intérpretes homens.

Em diferentes fases, passando pela mulher inacessível e idealizada, eternizada nos versos de “Rosa”, de Pixinguinha, no começo do século XX, às responsáveis pelo sofrimento masculino nas canções "dor de cotovelo" das décadas de 1940 e 50; das musas da bossa nova, que despertavam inspiradas paixões platônicas, às divas – cantoras capazes de arrebatar a todos por sua beleza e força expressiva –, as mulheres sempre foram reféns do gênero e, mesmo quando musicistas de talento inegável, foram vistas antes de tudo como mulheres.

Até muito pouco tempo, o papel de instrumentista coube exclusivamente ao homem. A elas, o único instrumento permitido foi a voz, a partir da “época de ouro do rádio”, quando surgiram cantoras famosas nacionalmente, mas que interpretavam, com poucas exceções, canções escritas por homens.  Nas décadas de 1960 e 70, intérpretes femininas surgiram com toda força e muitas deixaram um legado importantíssimo para a musicalidade brasileira. Mas quando se trata de instrumentistas, é necessário muito conhecimento da história de nossa música e uma memória invejável para citar uma lista de mulheres.

Nos últimos anos, porém, também dialogando com fatores sociais e históricos, as mulheres têm cada vez mais assumido esse papel. Primeiro, elas começaram a invadir o mundo dos compositores e, aos poucos, vêm se inserindo na função de musicistas de apoio, tocando instrumentos diversos como os de sopro, de cordas e percussivos.

No Recife, uma instrumentista que se destaca é a percussionista Lara Klaus, de 26 anos. Lara, que começou a estudar música aos oito anos, tocando violão, ainda fez aulas de teclado por alguns anos antes de se interessar pela bateria, instrumento que a levou para a percussão. A musicista também se formou em licenciatura em música na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 2009 e, ultimamente, toca com André Rio, Zé Manoel e com o guitarrista Luciano Magno.

“Até hoje eu sou a única mulher na maioria dos grupos em que toco”, afirma Lara, que se profissionalizou em 2003, quando fazia parte da banda Malakaii. “E a expectativa em torno de mim, por ser mulher, às vezes parece ser maior”, comenta a instrumentista, que em seguida passou a acompanhar diferentes artistas na noite recifense, acumulando experiência e recebendo cada vez mais convites para diferentes trabalhos. “Tudo aconteceu muito naturalmente”, resume.

O amadurecimento artístico de Lara Klaus e o reconhecimento de seu talento já apontam para a construção de um trabalho próprio, em que ela surge como protagonista, acompanhada de excelentes músicos. “Tenho planos de gravar e quero pelo menos começar a produzir um disco ainda esse ano”, diz. Ela já tem a companhia de André Macambira, com quem vai para o Festival Espírito Mundo, realizado na Inglaterra, França e Espanha, para tocar e ministrar oficinas de percussão.

Conheça Lara Klaus e confira um pouco do seu talento tocando:

O crescimento da presença feminina entre instrumentistas não significa, porém, que o assunto ainda não seja um tabu para muitos músicos homens, como a aponta a contrabaixista Juliana Santos: “Eu já passei por muitas situações difíceis, já fui várias vezes subestimada”, relata. Juliana despertou para a música aos 10 anos, quando começou a aprender violão de maneira autodidata. O mergulho na musicalidade a fez estudar violão clássico no Centro de Educação Musical de Olinda - CEMO. Há seis anos, descobriu o baixo por motivos práticos (a quase inexistência de mercado local para violonistas clássicos) e se apaixonou pelo instrumento.

Juliana hoje é destaque no meio forrozeiro e já acompanhou artistas como Petrúcio Amorim e Alcymar Monteiro. Atualmente, integra a banda da cantora Nádia Maia e toca na noite e em orquestras de baile. “Eu vivo só de música”, afirma a baixista. Entre as situações difíceis que já teve que passar, ela conta uma no mínimo curiosa: “Chegaram a dizer que eu estava tocando em cima de um playback e a cantora me mandou fazer um solo para que as pessoas acreditassem que eu estava tocando mesmo”.

Outra musicista acostumada a ser exceção é a baterista Karine Vieira, de 27 anos. “Ainda sinto dificuldade por ser mulher. Infelizmente ainda é um meio masculino”, diz Karine, complementando: “A bateria é um dos instrumentos em que ainda há mais preconceito”. Com o11 anos de vivência musical, a baterista conta que desde pequena “batucava em tudo”, hoje ganha a vida tocando em orquestras de frevo e de baile, além da Times Band.

Se ainda há barreiras, elas vêm sendo quebradas com o reconhecimento óbvio da qualidade de muitas instrumentistas, a despeito de seu gênero. E as mulheres vão superando a necessidade de serem musas ou divas para estarem presentes na musicalidade brasileira. “Ultimamente a coisa tem ficado mais comum, as pessoas aceitam mais”, avalia a percussionista Lara Klaus. “Quebrou bem mais o preconceito”, corrobora a baixista Juliana Santos: “Pessoas que antigamente me subestimavam hoje me chamam [para tocar]”.

Assim como em várias áreas profissionais, as mulheres vêm ocupando seu lugar natural no mercado musical, provando que competência e talento inato para música não escolhem gênero. E que a qualidade da música não tem a ver com o sexo dos instrumentistas, mas com a sensibilidade que só os verdadeiros artistas possuem. “A mulher tem uma graciosidade diferente, mas musicalmente não há diferença”, resume a baterista pernambucana Karine Vieira.

Agradecimento:
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Há alguns anos era difícil encontrarmos, na sociedade, mulheres empreendedoras. O papel de criar e gerir o próprio negócio estava restrito aos homens. A figura feminina ficava de fora desse contexto. O preconceito que as mulheres sofreram, ao logo do tempo, foi um dos causadores dessa restrição. No entanto, grande parte desse cenário ficou para trás e muitas delas superaram essas dificuldades.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, atualmente, as mulheres estão buscando destaque no mercado empresarial assim como os homens. E, de fato, o quadro do empreendedorismo feminino mudou. Segundo o Sebrae, dos 21,1 milhões de pessoas que estão tomando conta de empreendimentos em estágio inicial ou com menos de 42 meses de existência no País, 49,3% são mulheres. Esses dados são da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010).
 
Para o orgulho nacional, a pesquisa revela que as brasileiras são umas das que mais empreendem no mundo. Segundo o estudo, a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) brasileira é de 17,5%. Esse percentual está acima da média histórica do Brasil (13,38%). A TEA é composta pela proporção de pessoas com idade entre 18 e 64 anos, que estão à frente de novas empresas.
 
O empreendedorismo feminino está crescendo em todo o mundo. Esse movimento se acentuou nas últimas décadas, especialmente devido à expansão do acesso à formação educacional de nível técnico e superior. Hoje, além dos tradicionais afazeres domésticos, elas querem se dedicar aos próprios negócios. Segundo o Sebrae, grande parte dos empreendimentos criados por mulheres são em pequenos negócios, nas empresas familiares e como profissionais liberais. A instituição também aponta que a figura feminina tem como principais características o conhecimento de mercado, a atenção ao planejamento e a capacidade para enfrentar os desafios do dia a dia.
 
Empreendedora da beleza
Mulher e beleza geralmente são sinônimos. E quando se juntam em um empreendimento, parece que as semelhanças se expandem ainda mais. Rosinha Leão, 43 anos, é um exemplo puro dessa mistura. Desde jovem, ela está envolvida com esse ramo. “Com 16 anos eu trabalhava num escritório e, ao mesmo tempo, vendia bijuterias”, conta Rosinha. No entanto, aquele tipo de comércio não expressava o objetivo de vida dela. “Eu queria algo mais. Também não queria trabalhar para ninguém”. Mais tarde, em um encontro com a sogra, veio o despertar para os negócios. “Fui almoçar com a minha sogra e vi o trabalho dela. Era com depilação. Na época, era muito caro. Passei um tempo aprendendo algumas técnicas e foi aí que descobri o que eu queria de verdade”, relata.
 
A empreendedora foi colocando em prática o que ela sabia sobre o serviço. “Fiz depilação em algumas amigas e elas adoraram. A clientela cresceu e eu comecei a atender nas residências das clientes”. O sucesso do trabalho foi tanto que ela começou a atender no salão de depilação da sogra. Ela conta que passou 10 anos no local e sempre estava atenta aos desejos dos clientes. “Escutava o que os eles queriam, e já começava a pensar em novos serviços”. Após esse período de trabalho, Rosinha resolveu investir em capacitação de técnicas de beleza. Daí por diante, ela abriu o próprio salão de estética, que até hoje fica localizado no bairro do espinheiro, no Recife. “O número de clientes aumentou consideravelmente, por issotive que contratar pessoas para trabalhar comigo. Procurei colocar vários serviços de beleza”, conta ela. O sucesso continuou firme, e a empresário investiu em outro salão, no mesmo bairro, incorporando ao negócio mais novidades do segmento. Ao todo, ela emprega atualmente mais de 20 pessoas. “Ainda tenho que administrar todo mundo. Mas, nem por isso, deixei de colocar a mão na massa”, revela.
 
A empreendedora já está firmada no mercado de beleza e se destaque no cenário empresarial. Inclusive, no início deste ano, ela foi uma das finalistas da edição estadual do Prêmio Mulher de Negócios. De acordo com Rosinha, ser uma mulher empreendedora é algo especial. “Ser mulher já é emocionante. É muito gratificante ver o resultado do nosso esforço”. Ela também destaca que para empreender, tanto o homem quanto a mulher, têm que ter coragem. “Eu acho que a vida é um risco. Empreender é um risco. Mas temos que ter confiança para realizarmos os nossos sonhos”, frisa Rosinha.
 
Tecnologia, mulher e empreendedorismo

As mulheres também estão por dentro dos avanços tecnológicos. É o caso da professora de biologia Vancleide Jordão. Com várias especializações, a professora conheceu o mundo tecnológico, mais especificamente a robótica, no ano de 1994, quando trabalhou em uma empresa do ramo. Foi um amor incondicional, que mais a frente se tornou um empreendimento. “A robótica surgiu na minha vida e eu gostei muito. Comecei trabalhando com pilhas e sucatas e logo viajei o mundo todo em eventos tecnológicos”, conta a professora.
 
Além de educadora, Vancleide se tornou uma empreendedora. Junto com outra professora de biologia, Vanja Jota, há cinco tiveram uma ideia. “A gente via a demanda de profissionais querendo trabalhar com tecnologia. Mas não bastava só computador. As crianças também precisavam brincar e estudar ao mesmo tempo. Assim criamos a Divertec, que é um espaço onde nós ensinamos a teoria da robótica e depois praticamos”, relata Vancleide.
 
A Divertec, que fica localizada no bairro de Casa Amarela, no Recife, se tornou um espaço educacional e de lazer, que atraiu a atenção de muitos estudantes. “Nós também temos brinquedos educativos, que fazem as aulas ainda mais prazerosas”, explica Vancleide. E não são apenas estudantes que frequentam a empresa, de acordo com a professora, profissionais fazem capacitação em robótica no local, que representa mais um dos serviços prestados no empreendimento. Atualmente, a Divertec já possui mais de mil clientes, além de prestar serviço em escolas que se interessam por tecnologia.
 
“A nossa alma educadora precisa investir na alma empreendedora. É ter coragem de realizar o que se pensa”, exalta Vancleide. A professora também conta que no mundo da tecnologia também há preconceito contra as mulheres, mas, ela explica como superar essa dificuldade. “A mulher sempre vai encontrar preconceito. No entanto ela tem que se capacitar e buscar especialização para se destacar”, aconselha a professora.
 
Perfil empreendedor
De acordo com Isabel Noblat, gerente de educação e orientação empresarial do Sebrae, “as mulheres são mais focadas do que os homens. Elas buscam oportunidades e fazem mais coisas ao mesmo tempo”. A gerente, no entanto, afirma que existem características comuns entre homens e mulheres, como planejar e acompanhar. Mesmo assim, Isabel destaca outro diferencial feminino. “A mulher tem uma capacidade muito grande de se adequar a mudanças. E esse é um forte diferencia.”, diz gerente.

Este ano, as mulheres comemoram os 80 anos da conquista do direito ao voto no Brasil. Quem viveu esse momento, de alguma forma, tem na memória a lembrança do sentimento que deu um novo brilho ao execício da cidadania no País. A dona de casa Celeste Colares Maia, 90 anos, sente orgulho dos bons tempos da busca consolidada.  “Lembro que me penteei, me arrumei e me maquiei. Fui com os meus pais, minha irmã Maria, meus irmãos João e Raimundo. Guiomar como era a mais nova dos irmãos só foi para nos acompanhar. Não esqueço jamais desse dia em que votei pela primeira vez. Era um papelzinho com os nomes dos candidatos e a gente marcava um "X" no nome do candidato escolhido. Hoje não voto mais porque não consigo sair de casa sozinha, mas quando votava sempre me arrumava toda ” afirma. 

Getúlio Vargas era o presidente que, em 24 de fevereiro de 1932, através do Decreto nº 21.076,  instituiu o Código Eleitoral Brasileiro. Segundo o texto, podiam votar livremente as casadas e as viúvas. As solteiras, apenas aquelas com renda própria - dois anos mais tarde tais restrições foram eliminadas.  Apesar da liberação do voto, até 1998 as mulheres ainda eram minoria no eleitorado brasileiro e somente em 2000 elas passaram a representar a maioria desse universo.  Já nas últimas eleições, em 2010, o número de mulheres aptas a votar superava o de homens em cinco milhões.

Em  2011 um novo marco histórico nas conquistas femininas foi registrado no país, com a eleição da  Dilma Rousselff à presidência da República, sendo a primeira mulher brasileira a assumir a presidência do Brasil. Sua vitória ocorreu no segundo turno contra José Serra (PSDB), com 56% dos votos válidos.  “A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um princípio essencial da democracia. Gostaria muito que os pais e as mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas e lhes dissessem: Sim, a mulher pode!”, disse Dilma após confirmada sua eleição. Este “Sim, a mulher pode!” Dilma ecoou em sua gestão ao nomear para cargos públicos estratégicos outras mulheres, especialmente em alguns dos ministérios. 

Para a PHD em Ciências Políticas e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alexandrina Sobreira, apesar das mulheres terem o que comemorar em 80 anos de voto, ainda há muito a ser conquistado. “Nosso espaço apesar de ter sido ampliado, especialmente dos anos 80 para cá, não fez crescer nossa representação nos poderes executivo, legislativo e judiciário, sendo um número ainda pequeno. Você vai às instituições do governo e encontra poucas mulheres ocupando cargos políticos”.

Dos congressistas, apenas 8,9% são mulheres. Nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais o percentual médio é de 12%. De acordo com Alexandrina Sobreira, o ideal seria que a representação feminina correspondesse a metade. “Assim como nos Estados Unidos a representação das mulheres deveria ser fifty fifty (cinquenta por cinquenta), meio a meio. Assim seria mais equilibrado”. Contudo, a Lei de Cotas brasileira determina  a participação mínima de 30%.



Presidentes na América Latina - Nos 33 países da América Latina, eleger uma mulher como presidente do país não é nenhuma novidade. Em 1974, a argentina María Estela Martínez de Perón, mais conhecida como “Isabelita” Perón, foi a primeira mulher a assumir o governo de um país, na região. Ela era vice-presidente na chapa do marido, Juan Domingo Perón, e com  a morte dele passou a ser presidente da Argentina.

Além da Argentina, que já teve duas mulheres no poder, e também do Brasil, agora com Dilma Rousseff, países como a Bolívia, Haiti, Nicarágua, Equador, Guiana, Panamá, Chile e Costa Rica também já elegeram mulheres para a presidência.  Hoje, na região ainda pode se ressaltar a Cristina Kirchner, eleita em 2007 e reeleita em 2011 na Argentina e a costarriquenha Laura Chinchilla, eleita em fevereiro de 2010.

“A presença de mulheres ocupando a presidência de países da América Latina significa que as pessoas desejam renovação. As mulheres têm a característica de serem mais agregadoras e conciliadoras, além de conseguirem executar várias tarefas ao mesmo tempo. Já os homens são monofocais, realizam uma ação por vez. A administração feminina também costuma ter uma característica importante porque as mulheres costumam fazer o monitoramento das ações, enquanto os homens preferem conferir apenas o resultado final”, observou a cientista política.

Mas Alexandrina faz ressalvas em relação a gestão feminina e afirma que a mulher deve ser firme nos seus propósitos de luta." Apelar para a fragilidade e apelo estético não são boas estratégias para líderes políticas. Outra prática que deve ser combatida é uma mulher ocupar um cargo político sem ter currículo para isso. Por exemplo, uma primeira dama de um município ocupar o cargo de secretária de ação social apenas por ser a mulher do prefeito”, avaliou.

Segundo ela, o voto é canal garantido de expressão silenciosa mais importante na vida de uma mulher, especialmente há 80 anos, quando ela ainda era sustentada por seu pai ou marido. Apesar de não usar a mesma frase da presidente do Brasil, “Sim, a mulher pode!”, a aposta da cientista para os próximos 80 anos de voto feminino, se afina com a de Dilma. “Foi através desse instrumento democrático que pudemos mudar parte de nossa trajetória política e minha aposta para os próximos 80 anos é que conseguiremos conquistar um espaço ainda maior na política e em outras áreas. O espaço que é justo: fifty fifty. Ou seja, espaços iguais ”, salientou.

Aline Saldanha levou oito pontos na testa e ficou com o olho roxo porque o marido se irritou no trânsito e bateu nela. Maria do Carmo levou um murro no queixo porque comprou um guarda-roupa sem avisar. Helena Maria foi espancada porque o companheiro a encontrou com um amigo conversando em casa. Alice, Maria do Carmo e Helena Maria vivem a milhares de quilômetros uma da outra: a primeira em Olinda, a segunda em João Alfredo (no Agreste do Estado) e a terceira no Córrego do Euclides (comunidade pobre do Recife). As três têm profissões diferentes – atriz, comerciante e funcionária pública – e histórias de vida que poderiam jamais se cruzarem. O que as reúne é a decisão de romper o silêncio que permite a maridos espancadores continuar aterrorizando a vida de milhões de mulheres em todo o mundo.

A coragem de revelar que é espancada pelo homem que ama é difícil. Mas, timidamente, uma a uma fala um pouco sobre o drama que sofre em casa. Sem menos esperar alguns hematomas aparecem e a inevitável pergunta vem: o que foi isso? A resposta, em muitos casos, não acontece ou, às vezes, o silêncio se faz como resposta. Eis que uma se pronuncia: “Ele me deu uma surra tão violenta que eu cai e desmaiei. Quando eu acordei estava em uma poça de sangue. Ele me pegou pelos cabelos e disse que eu ia morrer”.

Pesquisa da Organização Mundial da Saúde, divulgada no ano passado, mostra que no Brasil 29% das mulheres relatam ter sofrido violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida, sendo que 16% classificam a agressão como violência severa – ser chutada, arrastada pelo chão, ameaçada ou ferida com qualquer tipo de arma. Apesar disso, 25% não contaram a ninguém sobre o ocorrido e 60% não saíram de casa sequer por uma noite em razão da violência. Menos de 10% recorreram a serviços especializados de saúde ou segurança. A experiência internacional nessa área indica que, em média, a mulher leva dez anos para pedir socorro.

O silêncio em torno desse tipo de violência é resultado de um poderoso coquetel cultural, que coloca a mulher em situação inferior à do homem e, no caso da relação conjugal, mais do que isso. Na cultura patriarcal, o marido acha que tem plenos poderes sobre a mulher. Essa situação banaliza a violência como algo que "faz parte" da vida de qualquer casal. Nessa categoria do "faz parte", tenta-se colocar no mesmo nível os embates verbais mais acalorados que ocorrem em qualquer casamento e agressões físicas que vão de safanões e puxões de cabelo a assassinatos. A banalização da violência doméstica é o pano de fundo que explica a maneira pela qual a sociedade lida com (ou ignora) o problema. É o clássico "em briga de marido e mulher não se mete a colher".

Já seria complicado se fosse só isso. Não é. A trama do relacionamento conjugal é complexa e comporta sentimentos ambíguos. Os homens agressores não são todos estereótipos de monstros. Ao contrário. O que torna o problema difícil de lidar é exatamente o fato de se tratar de seres humanos, com todos os defeitos, qualidades e contradições que isso significa. Muitos cresceram num ambiente violento e aprenderam que esse é o caminho para resolver conflitos.

O silêncio em torno da violência doméstica tem uma consequência prática negativa sobre os esforços para enfrentá-la: impede o correto dimensionamento do problema. O Brasil ainda engatinha também nas políticas públicas voltadas para o atendimento à mulher. Engatinha, mas registra avanços. Até 1985, quando foi criada em São Paulo a primeira delegacia especializada em atendimento à mulher, o machismo e o despreparo tornavam ainda mais penosa a decisão de recorrer à polícia em caso de agressão.

Hoje, há mais 340 delegacias desse tipo em todo o País, o que é pouco quando se leva em conta que são 5.500 os municípios brasileiros, mas significa que muito mais gente tem acesso ao serviço atualmente. A criação dessa rede fez explodir o número de queixas. Investiu-se também em treinamento e na criação de uma rede de apoio que torne a queixa policial apenas uma parte do enfrentamento do problema, e não um fim em si. Em muitos casos, a mulher agredida precisa de acompanhamento psicológico e jurídico, ou de apoio para se qualificar profissionalmente e ter condições financeiras de se separar do marido. Em outros, necessita concretamente de proteção.

Um balanço divulgado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM) apontou que 80,31% das mulheres agredidas que ligaram para o 180 – Central de Atendimento – em 2011 sofrem algum tipo de violência com uma frequência muito alta. Os dados mostram que 58,64% delas dizem que são agredidas diariamente e, em 21,67% dos casos, a violência é semanal. A ocorrência é mensal para 5,29% ou acontece raramente para 9,19% delas. No total, a Central de Atendimento à Mulher totalizou 667.116 ligações em 2011 – uma média de 1.828 por dia. As denúncias de agressão física contra mulheres corresponderam a 61,28% das ligações relacionadas à violência.

Maria da Penha

Em 1983, por duas vezes, o marido de Maria da Penha tentou assassiná-la. Na primeira vez, por arma de fogo; na segunda, por eletrocussão e afogamento. As tentativas de homicídio resultaram em lesões irreversíveis à saúde dela, como paraplegia e outras sequelas. A partir daí, Maria da Penha transformou a própria dor em luta, conseguindo aprovar uma Lei titulada com seu nome na qual tipifica a violência doméstica como uma das formas de violação de direitos humanos.

A lei que alterou o Código Penal possibilita que agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada, quando ameaçarem a integridade física da mulher. Prevê, ainda, inéditas medidas de proteção para a mulher que corre risco de vida, como o afastamento do agressor do domicilio e a proibição de sua aproximação física junto à vítima agredida e aos filhos.

Foram muitos anos lutando para que a mulher conseguisse um instrumento legal para que o Estado brasileiro passasse a enxergar a violência doméstica e familiar contra ela. “Quem ama não mata”, “ Em briga de marido e mulher, vamos meter a colher”, “Homem que é homem não bate em mulher”, “Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência”, “Sua vida recomeça quando a violência termina”, “Onde tem violência todo mundo perde”. Foram muitos slogans utilizados nas campanhas que trouxeram para o espaço público aquilo que se teimava em dizer que deveria ser resolvido entre quatro paredes do lar.

O som do apito
Uma outra forma de pedir socorro é pelo som do apito que funciona na comunidade Córrego do Euclides, em Recife, como sirene de emergência. A ideia que surgiu da ONG Grupo de Mulheres Cidadania Feminina funciona da seguinte maneira: uma mulher apita quando precisa da ajuda das companheiras. Essas, imediatamente, assopram seus respectivos apitos, desencadeando uma sinfonia de silvos potente o suficiente para intimar o agressor.  

A ideia foi plagiada das mulheres colombianas da década de 1970, que saiam às ruas apitando e batendo panelas para denunciar os protestos contra a agressão feminina. A proposta aderida pela comunidade fez as pessoas se identificarem. Aos poucos, um número cada vez maior de mulheres começou a sair às ruas, também apitando, inibindo possíveis criminosos e mostrando que elas podem, sim, reagir.

Mas o trabalho de apitar não é simplesmente chegar e pegar o apito, declara a diretora da ONG Rejane Pereira. “Ela passa por oficinas que as fazem se reconhecer como mulheres, e não como objetos. Praticamos atividades visando a vivência coletiva. Temos um grupo em que as mulheres se reúnem para conversar sobre seus problemas, sejam lá quais forem. Elas descarregam as dificuldades que passam em casa ou no trabalho, por exemplo, se identificam e se ajudam”.

Além do trabalho de conscientização elas implantaram o grupo Filosofia do Saber, em que discutem assuntos relacionados à identidade racial. “Há mulheres negras que sofrem preconceito e queremos que elas reflitam sobre seu papel, como mulher, na sociedade e na política. Recuperamos a história negra, ensinamos a cozinha afro-brasileira”, declarou Rejane.

A ONG possui 22 organizadoras e 79 participantes. A instituição é financiada pelas próprias mulheres e recebe ajuda do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Elas também recebem o apoio do Governo Federal, que, junto à Secretaria de Política para Mulheres, reconheceu a Cidadania Feminina como ONG de relevância nacional.

Eterna luta pelos direitos

Durante muito tempo, o estudo sobre as mulheres foi uma questão ausente na historiografia. Voltada ao silêncio da reprodução materna na sombra da domesticidade, elas são as águas estagnadas, enquanto o homem resplandece e age. É assustador o número de ocorrências praticadas contra as mulheres, sendo que muitas não são levadas a conhecimento da autoridade competente, muitas vezes por constrangimento, algumas vezes em consideração aos filhos que não gostariam de ver os pais presos, ou por motivos íntimos e particulares da própria vítima.

Quantas mulheres carregaram consigo a culpa por serem vítimas de violência por anos a fio? A quantos silêncios elas teriam se submetido? Quanta violência não foi justicada nos tribunais pela “defesa da honra” masculina? Não são poucas as mudanças que a Lei Maria da Penha estabelece, tanto na tipificação dos crimes de violência contra a mulher, quanto nos procedimentos.

A mulher lutou tanto e continua lutando pelo reconhecimento de seus direitos e apesar de já haver conquistado o seu espaço, em boa parte, continua sem saber fazer uso de seus direitos conquistados, muitas ainda dependem do homem, talvez pela sua grande capacidade de amar, perdoar como esposa, companheira ou mãe, com toda sua delicadeza feminina em dom herdado pela divindade.

Serviço:
ONG Grupo de Mulheres Cidadania Feminina
Local: Rua Córrego do Euclides, 672
Alto José Bonifácio – Recife-PE
Telefone: (81) 3268-9582
E-mail:
cidadania.feminina@uol.com.br

Uma propaganda de eletrodomésticos dos anos 1950. A mulher de avental serve alegremente a mesa de jantar em que estão sentados seu marido e filhos exemplares. Todos estão felizes neste que é o hipotético lar dos sonhos de qualquer mulher que assista ao referido vídeo.

Quase sessenta anos depois e a imagem dessa figura feminina que ocupa as propagandas na televisão passa a ser agora escolhida para enredos que firmem sua independência diante desse mesmo núcleo familiar. Agora, vê-se em todas as camadas sociais a liberdade financeira, a “sustentabilidade” das relações profissionais, amorosas e a aceitação de uma nova situação familiar (pós) moderna. Ela trabalha, é mãe, filha, esposa atraente e, se ainda não alcançou a independência financeira, está bem próximo.

A publicidade televisiva é apenas um dos filões pelos quais se pode observar a mutação dos valores vigentes em uma sociedade. O universo simbólico em que a figura feminina está inserida é especialmente relevante na sociedade ocidental. Conquistar novos espaços leva tempo e, geralmente, as mudanças vão se perpetuando nas gerações.

A mulher concebeu a maior revolução mercadológica dos últimos tempos, levando as lideranças empresariais descobrirem o riquíssimo potencial que mais agrega valor a mulher contemporânea: praticidade.

A instituição do Dia Internacional da Mulher nos permite crer que elas têm, sim, o que comemorar, porém entendemos que a data deva ser constituir num fórum de debates a não observância de determinados direitos, que continuam privilegiando os homens. Um dos exemplos gritantes é o da não aplicação do princípio da isonomia salarial.

Ciente dos desafios que as esperam, a mulher tem investido em sua formação acadêmica fator que a transformou como formadora de opinião e, consequentemente, agente de mudanças.

Entre as diversas causas do avanço da participação da mulher no mundo dos negócios destacamos o seu mérito pessoal, a escalada de desemprego, o sonho da independência financeira e econômica e a ajuda no orçamento familiar.

Colaboraram, também, a perda do poder aquisitivo, o desejo natural de assegurar melhor padrão de qualidade de vida aos filhos e a certeza de que poderia desempenhar, com a mesma eficácia e dignidade, tantas outras tarefas como a de dona de casa - que aliás, ela nunca abandonou.

Suprir essas necessidades e acreditar no sonho de dias melhores motivam as mulheres a trabalhar fora, apesar de a injustiça salarial caracterizar grande parte do universo feminino.

A verdade é que já não são as mulheres que seguem as tendências mundiais, mas as tendências mundiais é que buscam inspiração no novo estilo de vida redesenhado pela mulher.

E esse novo perfil está bem delineado na política mundial, onde mais de 17 mulheres comandam diferentes partes do mundo. E essa reconfiguração que também esta presente nas posições políticas vai aumentar. Recentemente, a diretora executiva da Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e para o Empoderamento da Mulher, Michelle Bachelet, propôs cotas para aumentar a participação das mulheres na política.

O relatório Mulheres na Política 2012, produzido pela ONU Mulheres e pela União Interparlamentar (OPU), mapeia o progresso da participação política das mulheres por todo o mundo no último ano.

Cotas tiveram um efeito positivo no aumento do envolvimento das mulheres. Das 59 nações que tiveram eleições em 2012, 17 criaram cotas. Nesses países, as mulheres ganharam 27% das cadeiras parlamentares. Nos países sem cota, elas conquistaram 16%.

O relatório mostra que, de 2005 a 2012, o número de mulheres Chefes de Estado e de Governo cresceu de oito para 17, e que o número de ministras mulheres também cresceu de 14,2% para 16,7%. Países escandinavos apresentam a maior porcentagem de ministras, 48%, seguidos pelas Américas com 21,4%. O número de mulheres parlamentares no mundo permanece 19,5%.

Esse crescimento mostra a aceitação que a figura feminina vem tomando em grandes posições de destaque no mundo, algo que antes era inimaginável, principalmente no Brasil, uma sociedade altamente patriarcal e paternalista.

Diante de tantas conquistas relevantes e de rompimentos de tabus, nada mais justo que homenagear as mulheres, figuras tão emblemáticas e importantes para a construção de uma sociedade mais justa, equilibrada, igualitária, sem rótulos e preconceitos.

O dia 8 que surgiu de uma chacina de 129 tecelãs que lutavam por jornadas de trabalhos justas, hoje, simboliza bem mais que uma data em alusão ao massacre na fábrica em Nova York. Significa um momento de reflexão do importante papel da mulher nessa nova conjuntura social que está inserida.

Em suma, pode-se concluir sem titubear que a delicadeza e o toque feminino têm promovido transformações importantes no mundo e contribuído para o melhoramento das relações humanas e no desenvolvimento de povos e nações.

Diferente do perfil de décadas atrás, as mulheres hoje são exemplo de independência e luta no mercado de trabalho, no ambiente familiar, na vida social.  E elas próprias adquiriram novas filosofias, que proporcionaram mudanças de comportamento de geração em geração. A dona de casa Adilza Machado  Freire é um bom exemplo dessa transformação do sentir e ver as coisas de forma diferente e vivenciá-las na prática.

“Criei minhas filhas com independência. Hoje eu digo a elas: 'Vocês primeiro trabalham, se autossustentam. Depois vocês casam'“, afirma. Aos 66 anos, aposentada, ela saiu do município de Barreiros, na Região do litoral Sul pernambucano para morar no Recife. E passa hoje para as suas filhas o que viveu na realidade - primeiro se estruturou, trabalhou para comprar casa e apartamento, para só depois casar e ter filhos. 

Uma visão compartilhada por outras mulheres,  também com filhos do genero feminino. Marília Mendes, atriz e mãe de uma adolescente diz que "com o advento da pílula e do avanço das mulheres no mercado de trabalho, a palavra liberdade passou a ter um significado mais vibrante. Tento passar isso para minha filha, com a consciência de que independente do gênero ela deve lutar pelos seus ideiais e se colocar no mundo de maneira igualitária".

A opção em não constituir família e levar uma vida ainda mais independente é outra alternativa hoje comum no perfil da mulher contemporâna.  “Gosto de me relacionar com as pessoas, mas não gosto muito de estar com ninguém todo dia. Muito mais do que fazer uma crítica ao casamento, e dizer que sou contra, diria que o matrimônio é mais o perfil de quem não gosta de estar sozinha”, ressalta a assistente social e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Roberta Uchôa, 50 anos.

Mas a independência é considerada também sinônimo de respeito a si mesmo e aos outros. Para a arte-educadora Ana Elizabeth Japiá Mota, a educação dos filhos homens é algo relevante quando se trata de discutir o tema. "De pequeno já lhe ensino o respeito. Não consigo reproduzir para ele qualquer brincadeira, ou música, ou piada, ou gesto, que desrespeite a mulher. É simples". Ela é mãe de um garoto, Luca Mota de Assis que, por coincidência ou não, faz dois anos exatamente nesta quinta-feira, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.


Arremesso de peso, lançamento de disco e salto à distância. Esportes como esses são consagrados em Pan-Americanos, e que fazem parte da vida de Janaína Gomes dos Santos, de 27 anos. Morena, cabelos escuros e dona de um olhar assustado, essa triatleta de sorriso singelo possui uma história de superação e luta, que dedicou todas as suas forças a um ideal repleto de sabedoria e sonhos.

Moradora da cidade de São Lourenço da Mata, Zona da Mata de Pernambuco, que fica aproximadamente seis quilômetros da cidade do Recife, adquiriu, ainda na adolescência, um câncer maligno em sua perna esquerda, chamado osteossarcoma, um câncer nos ossos, que pode se propagar para o pulmão e demais órgãos do corpo. Ela começou a dar sinais após a primeira gestação, aos 19 anos, que foi interrompida por um aborto espontâneo. 

Janaína só começou a sentir as dores que a doença causava, quando engravidou pela segunda vez, dois anos depois. A cada mês que passava a dor aumentava, e aos três meses de gestação ela não aguentava pisar no chão e começou a andar com dificuldades. Janaína procurou alguns médicos, e muitos afirmaram que era apenas uma contusão, até encontrar o obstetra Pablo Andrade, que solicitou alguns exames específicos. Foi detectado a partir de um raio X uma macha no joelho esquerdo, e os médicos a encaminharam para uma ressonância que, finalmente, comprovou o câncer nos ossos.

O problema se agravou quando Janaína foi informada que precisaria fazer uma escolha, entre o filho e a própria vida. “Os médicos junto com os meus familiares se reuniram para tentar me convencer a fazer o aborto. Porém, como não tinha como fazer um aborto oficial por causa da Justiça, eles iriam começar a aplicar a quimioterapia, sem se preocupar com a saúde da criança. A prioridade para a junta médica era salvar a minha vida naquele momento, mas, para mim, o meu filho era mais importante.”

Sem esperanças, Janaína tentou encontrar um meio termo, “Pensei no que eu poderia fazer para nos salvar, se caso não tivesse jeito morreria os dois”. O tempo foi passando, exames foram feitos, até sair a biopsia do câncer, informando que a doença estava muito agressiva, e que já tinha perfurado o osso do joelho, podendo causar a morte. A situação do bebê também era delicada, pois Janaína estava no quinto mês de gestação. “Como eu tenho muita fé em Deus, eu confiei nele e aceitaria qualquer decisão que ele me mostrasse, desde que eu pudesse ficar com o meu filho”.

Segundo ela, os médicos afirmavam que não havia outra alternativa, a não ser fazer o aborto para que ela sobrevivesse. “Depois que o médico me informou a notícia ruim, ele saiu da sala, e quando voltou, disse que tinha outra opção, a de amputar a minha perna.” E determinada para ter o tão esperado filho a jovem mãe respondeu de pronto: “Marque o dia e ampute”.

Quinze dias depois de tomar a decisão, Janaína deu entrada no Hospital das Clínicas tendo bulimia pulmonar, provocado pelo câncer. “A única coisa que pensei foi na morte. Tinha certeza que não voltaria pra casa”. Por causa das dores intensas e constantes, Janaína começou a tomar morfina de 15 em 15 minutos, mas mesmo assim, as dores persistiam. Um dos cirurgiões implantou um cateter diretamente no osso da perna. O que amenizou as dores nas pernas.

E no dia 21 de fevereiro de 2006, a então futura mamãe entrou no bloco cirúrgico para ser submetida a amputação da perna esquerda. “Não chorei, não me desesperei, só à noite que senti muitas dores, porque a gente fica com aquela sensação do membro fantasma”, explicou. Daquele dia em diante, a jovem que sofreu por ter perdido o seu primeiro filho, agora estava se dedicando a tão sonhada gestação.

Quatro meses depois Rafael, Gomes Ribeiro nasceu em uma quinta-feira, em um parto cesariano. Mãe e bebê só puderam se conhecer dois dias depois. “Eu não senti falta dele nesses dias, porque eu passei a gestação inteira com medo de que ele viesse ao mundo com alguma deficiência, por conta da medicação forte que eu ingeria”.

E com alívio em seu coração, Janaína pôde finalmente colocar o pequeno Rafael nos braços e fazer o seu papel de mãe: amamentá-lo. “Foi a minha primeira vez que eu realmente pude sentir a emoção de ser mãe”.

Após a complicação da gravidez para ter Rafael, Janaína ainda foi vítima de depressão pós parto, que se agravou por causa de uma infecção generalizada, devido as seções de quimioterapia e de complicações no casamento. “Mulher grávida já fica sensível, imagina com um câncer. Meu marido era muito novo e não soube lidar com a situação. A gente brigava muito, ele me agredia verbalmente, não aguentei e caí (entrou em depressão)”.

Janaína passou quase um mês internada no centro psiquiátrico do Hospital das Clínicas. O pequeno Rafael estava sendo cuidado pela ex-sogra, durante esse tempo. “Eu lutei e sofri muito para ter meu filho, e não vou passar o resto da minha vida dependente de remédios antidepressivos, eu quero sair dessa vida”.

De 2008 para 2009, ela conheceu uma das atletas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que falou do Projeto Paratleta do Núcleo de Educação Física e Desporto (NEFD). A partir daí, Janaína ingressou no Núcleo e hoje é uma das atletas do campus. Em 2011, a jovem mamãe participou de uma competição regional e de outra nacional. Hoje o sonho dela é chegar competir no mundial de atletismo. “Por ele (o filho) tudo valeu a pena, porque eu sei que Deus não o mandou em vão. Isso é ser uma mãe de verdade, é um amor incondicional, agora eu sei, porque eu sou mãe.” 

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Edição de Texto

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Produção e Apresentação: Álvaro Duarte
Edição: Felipe Luna
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O programa Opinião Brasil da semana é dedicado ao Dia Internacional das Mulheres. Para debater temas como sexualidade, machismo, mulheres no poder, entre outros, Álvaro Duarte recebe, no estúdio, a bióloga Elizângela Bezerra, a estudante de direito Monique Lima, e a aposentada Léa Lucas.

O programa foi marcado pelo bom humor das convidadas, com destaque para a alegria de Léa Lucas, uma senhora que faz do amor a melhor forma de se viver.

 

Mulher

Roberta

Uchôa

 

Mulher de personalidade forte e determinada. Independência que foi construída aos poucos. Pessoa disciplinada. Apesar de tolerante, impaciente. Filha mais nova de cinco irmãos. Casou cedo, divorciou-se nova.  Assistente Social com PhD in Sociology of Addiction pela Universidade de Londres. Tia orgulhosa. Escritora e esportista, com diversos carimbos no passaporte. Quando adolescente fez intercâmbio nos Estados Unidos e em Paris. Quando adulta morou na Inglaterra e Índia, lugar que gerou vários frutos, entre eles um livro -  "Curiosidades sobre a Índia: diários de sexta-feira", Editora Universitária(UFPE). Considera-se uma mulher realizada aos 50 anos.

Criada em um ambiente de proteção familiar, conseguiu um pouco de liberdade depois de casar. Viu a vida. Vivenciou o mundo. Acorda junto com o sol para ir correr, na praia ou na rua. É vaidosa e cuidadosa com a saúde física. O estilo de independência se reflete até na escolha dos esportes preferidos. Maratona e ciclismo, dois esportes individuais são suas preferências. Não se preocupa com os padrões impostos pela sociedade, afirma ter seu próprio padrão. Ex-militante partidária acredita que "política a gente faz no dia a dia". Rubro-negra fanática. Costuma frequentar a Ilha do Retiro para torcer e vibrar pelo time do coração, só ou acompanhada, não importa. Acredita que o Brasil está melhor com o governo atual, mas que ainda há muito pra se fazer.

Quem é a Roberta Uchôa?
Eu sou uma mulher independente, que construiu seu espaço aos poucos, ao longo da minha vida, com muito sucesso em algumas iniciativas, mas também muitos insucessos. Eu acho que, sobretudo, eu sou uma pessoa disciplinada, muito determinada e diria que apesar de intolerante, sou paciente para construir as coisas que desejo. Eu com 50 anos de idade acho meio patético dizer ‘sou feliz’, mas, sim, tenho vivido muito mais momentos de felicidade do que de tristeza. E é muito gostoso chegar a essa idade e se perceber dessa forma. Porque eu quando tinha 20 anos, eu tinha muito medo de envelhecer, sobretudo, porque eu não tinha a menor confiança em mim. Essa confiança eu vim construindo, dos 20 aos 30 anos, eu diria. Acho que a riqueza da minha vida são essas coisas que aos poucos eu fui construindo essa autoconfiança.  Fui perdendo o medo das coisas porque na minha geração, que nasceu na década de 60, as meninas ainda foram educadas para isso, pra ser uma pessoa educada, ter uma profissão, mas além de tudo para ser companheira de algum homem. Percebi que não era bem isso que eu queria e com isso saí e construí uma alternativa, isso é uma coisa legal.

E as suas viagens ao redor do mundo?

Morei em alguns lugares do mundo. Eu brinco dizendo que Recife é uma província, mas eu amo de paixão essa cidade. Para eu poder viver aqui, eu tenho sempre que sair para poder voltar. Saí aos 14 anos para estudar nos Estados Unidos. Fiz intercâmbio e passei seis meses lá. Na sequência me deu uma vontade enorme de estudar francês, aí eu comecei a estudar o idioma e fui para a França. Quando eu me formei tentei fazer um mestrado fora, mas não consegui. Com o tempo desenvolvendo trabalho, fiz especialização, fiz mestrado e engatilhei meu mestrado e um doutorado. Morei em Londres por quatro anos, onde fiz um doutorado integral, e esta é outra cidade que eu tenho uma paixão enorme e me sinto muito em casa. Também morei na índia, em decorrência da minha atividade como Professora da UFPE. Todas as pessoas, até eu mesmo achava que era um pouquinho louca de tá indo para um lugar tão fora dos nossos padrões. Mas era uma curiosidade grande. Fui em 2008 fazer um pós-doutorado, com bolsa da universidade, e fui trabalhar em uma ONG que desenvolve vários programas na área de saúde mental. Foi uma experiência fantástica, muito mais pessoal do que profissional.

Como surgiu o livro escrito na Índia?

O livro surgiu da necessidade pessoal de manter contato com os amigos, mas, sobretudo dos amigos me cobrarem o tempo todo para falar mais sobre as coisas do país. Com 15 dias eu resolvi escrever um artigo, o primeiro de todos, e nele eu escrevi o que seriam curiosidades para mim. O que era diferente lá. Daí eu escrevi um e-mail para poucas pessoas descrevendo como era o banheiro da Índia, que é muito diferente do nosso. Desde então começou a fazer sucesso. Os amigos e os familiares foram me pedindo para escrever e entrar na lista. Então eu acabei escrevendo todas as sextas-feiras, em um período de 11 meses que morei lá.

E o casamento?

Gosto de me relacionar com as pessoas, mas não gosto muito de estar com ninguém todo dia. Eu brinco dizendo que se eu tivesse ficado como namorada, eu estaria namorando até hoje. Mas aí quando entra em casa, essa coisa de dividir os espaços, ter que dividir 24h por dia o seu horário com a outra pessoa, é uma coisa que me pertuba, eu não lido bem com isso. Eu gosto do espaço, eu gosto de não ter que dizer nada pra ninguém, eu gosto do meu canto e sempre gostei. E dividir com qualquer pessoa, seja um marido, seja um namorado, seja minha mãe ou meus irmãos, 24 horas no dia, me incomoda. Eu moro só há muitos anos, desde que eu me separei, aos 25 anos. Eu gosto de chegar em casa. O meu espaço em casa é tão agradável quanto esse meu espaço de trabalho aqui dentro (na sala de trabalho na UFPE). Eu estou sempre ajeitando meu canto, sou uma pessoa que, quando volto, gosto de ser acolhida do jeito que deixei. Muito mais do que fazer uma crítica ao casamento, eu diria que é muito mais o meu perfil de quem não gostar de estar sozinha. 

 

Mulher

Rosinha Leão


Pais separados na infância, gravidez por inseminação artificial, muitas vezes foi a responsável por tomar conta da família. Essas são algumas das histórias que marcam a vida de Rosinha Leão, de 43 anos de idade. Na verdade, Rosinha aparenta ser muito mais nova. Talvez, sua beleza e juventude seja fruto do próprio trabalho. E trabalhar é algo que ela sempre fez, desde pequena. Os estudos se limitaram até o ensino médio, mas, a todo tempo manda os filhos estudar mais e mais. Como ela sempre fala, “a vida é um risco” que para ela se tornou uma vida vitoriosa.

Por que seus pais se separaram? Trabalhar desde cedo te ajudou?

Minha mãe se separou do meu pai porque ele bebia muito e tinha outras mulheres. Ela não aguentou e meu pai foi embora quando eu tinha quatro anos. Ficamos minha mãe, três irmãs e eu. Sempre tive que trabalhar, pois nós éramos pobres, não tínhamos nem banheiro em casa. E acho que trabalhar me ajudou.

 Após seu casamento, algumas vezes seu marido ficou desempregado. Como foi ser a “chefe de família”?

Quando há amor, a gente supera tudo. Eu sempre fui batalhadora e consegui ajudar nossa família. No começo, o meu marido me ajudou muito também. André é um homem lindo e é um paizão.

E as tentativas de engravidar?

A gente tinha dificuldade de engravidar. Eu sempre quis ter bebê, porque eu adoro criança. Eu e meu marido resolvemos fazer um tratamento de inseminação artificial, mas duas tentativas deram errado. Na terceira, eu já estava triste, não queria nem pegar o resultado. Quando meu marido viu o diagnóstico positivo, foi logo avisando a todo mundo. Foi muita alegria.

Como você pode descrever os seus filhos?

Meus filhos são dois amores. Tenho um menino de 13 anos, fruto do tratamento, e uma menina de 4, que eu adotei. Eles se dão muito bem, e me acham uma sargentona, porque sou rígida.

Como você se define?

Uma vencedora. Batalho para ser feliz e fazer os outros felizes. Nunca desisto de nada. Agradeço muito a Deus por tudo o que consegui.

Há cinco anos, entrou em vigor a Lei Complementar 123, que estabelece o novo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Também conhecida como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, a norma foi um marco para o crescimento e consolidação do segmento em todo o Brasil. Além de propor a simplificação do processo de abertura e funcionamento dos empreendimentos, diminuindo os custos e tempo para a legalização, o código abriu portas para a expansão dos negócios, acesso à inovação e competitividade diante das firmas de médio e grande porte.

Para avaliar os primeiros cinco anos da Lei, o Portal LeiaJá lança hoje o especial De Portas Abertas, que traz uma visão geral da legislação para essas empresas, dicas para abrir e manter um pequeno negócio, orientações para aproveitar os benefícios, além dos desafios vivenciados pelos empresários e histórias de sucesso. Confira aqui o especial De Portas Abertas

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Pela primeira vez em 30 anos a Rede Globo de Televisão decidiu não gravar o programa clássico visto por milhares de famílias brasileiras de final de ano, "Roberto Carlos Especial". 

Segundo a colunista da Folha de São Paulo, Keila Jimenez, a emissora optou pela reprise do show do cantor em Jerusalém para agradar a demanda do público, uma vez que muitas pessoas não viram na primeira exibição e outras pediram para assistir novamente.

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Outra razão seria a proximidade do tom religioso do local do show aliado ao espírito natalino.

É, a Globo já não é a mesma...

Ele está na memória de todo pernambucano. Do menino que joga Playstation à vovó que adora o Sílvio Santos. Afinal, quem nunca foi ao Parque Estadual Dois Irmãos, ou, simplesmente, Horto de Dois Irmãos? Considerado um dos maiores redutos de mata atlântica de Pernambuco, o famoso zoológico possui, aproximadamente, 300 hectares, e foi fundado em janeiro de 1939. O espaço abriga hoje cerca de 600 animais, de aproximadamente 100 espécies, entre peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos da fauna brasileira e de outros países.  

Para quem tem, pelo menos, 20 e poucos anos, pagar R$ 2 e entrar no parque (crianças de até 1 metro de altura e maiores de 60 anos não pagam) é como mergulhar no túnel do tempo. A caminhada pelo parque – para quem tem 20 e poucos anos – já ganha ar nostálgico de imediato. É inevitável. A cada visita em uma das jaulas, uma lembrança da infância com gosto de pipoca vem à tona. A ida ao Parque Estadual Dois Irmãos é diversão garantida para toda as idades.

O zoo abre de terça a domingo, das 8h às 16, e em datas como o Dia das Crianças, recebe cerca de 10 mil visitantes. Os meses que reúne mais frequentadores são janeiro e julho, que coincidem com as férias escolares. O mês de outubro também é bastante movimentado.

É fácil perceber o motivo de tanto carinho da população pelo Horto. Além do precinho camarada, a estrutura está em boas condições. O piso, composto por paralelepípedos, está regular em quase toda a extensão do parque. As pessoas não encontram dificuldades em se locomover pela área destinada aos frequentadores. As lixeiras são muitas, quase não se vê lixo jogado pelo chão. Os banheiros são razoavelmente limpos, e o local oferece lanchonetes, restaurante e uma lojinha que vende souvenirs em alusão ao Horto. No entanto, um item de bastante importância ainda não faz parte da infra-estrutura do Horto: rampas de acesso à cadeirantes. Não há como percorrer o imenso parque sobre uma cadeira de rodas, o piso, de paralelepípedos, não ofecere segurança.

“Eu adoro vir ao Horto de Dois Irmãos, mas, infelizmente, não tenho como ver todos os animais. O leão fica longe da entrada, e com cadeira de rodas fica inviável chegar até ele”, lamenta o aposentado Armando Joaquim da Silva, de 63 anos, que é cadeirante e tem uma das pernas amputadas. “O calçamento é ruim e a segurança não permite a entrada de carro, já pedi à administração, mas não teve jeito. Venho as vezes com meus netos, mas não posso aproveitar com eles. Cadeirante também é gente!”, diz o aposentado.

Quando o assunto são os animais, aí fica difícil chegar a um consenso quanto à preferência. Os simpáticos macacos têm sempre uma atenção especial do público. O urso-pardo, com seu tamanho e cara de dócil, cativa a criançada. As araras, com suas cores fortes, dão um brilho especial ao zoológico. Mas, assim como na selva o leão é quem manda, no Horto não é diferente. Muita gente aglomerada na frente do espaço onde vive o felino para fazer um registro pelo celular ou câmera fotográfica. São mais de 600 animais. Tem bicho para todos os gostos.

“Gosto mais do leão, ele é muito lindo. Aproveitamos a manhã no parque, as crianças adoram este programa”, conta a estudante Luzinete Maria da Silva, 39, que estava com os três filhos em frente à jaula do leão, tirando fotos.

No domingo, dia mais movimentado da semana – cerca de cinco mil visitas – não só as crianças têm motivos para sorrir. Os comerciantes do parque também comemoram. É o caso de Seu Simão, 64, dono da churrascaria Boca da Mata. Ele diz que possui negócios no Horto a mais de 40 anos. “Por volta de 200 pessoas passam pelo meu restaurante em um dia de domingo. Gosto muito de trabalhar dentro do zoológico, aqui é bastante seguro,” explica Seu Simão. O faturamento, conta, não é ruim. “Por mês, tiro uns R$ 10 mil. Mas é o valor bruto. Dá para se virar, né?”, revela, com bom humor.

Horto do futuroo Parque Estadual Dois Irmãos (PEDI) se prepara para ser um bioparque, que é um novo conceito de zoológico. Com orçamento estimado em R$ 40 milhões, a previsão é que em 2012 iniciem-se as obras, que terá duração de dois anos. O novo projeto segue o Plano Geral de Reestruturação do PEDI, estabelecido em 2008 por um grupo de trabalho formado por ONGs ambientalistas, instituições de ensino e órgãos públicos estaduais e federais. A grande inovação é inserir os animais cativos em sistema de semi-liberdade, proporcionando-lhes maior qualidade de vida e reduzindo as barreiras visuais em relação ao público.

“O bioparque é um modelo que inverte o conceito tradicional de zoológicos: os animais parecerão estar livres na natureza enquanto os visitantes estarão protegidos em passarelas, do alto de mirantes ou no interior dos chamados recintos de imersão”, explica a gerente do Parque, Silvana Silva.

Mesmo septuagenário, o velho parque do bairro de Dois Irmãos ainda consegue despertar o interesse dos pernambucanos. Ele resiste ao tempo, sem perder a tradição e o encanto.  O Horto se moderniza e continuará marcando a memória de outras tantas gerações.

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