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Mulheres de posse. Talvez essa frase possa resumir do que se trata o ‘Sarau Eroticuzinho’, um encontro de literatura erótica produzida e recitada por escritoras. Provando que possuem suas palavras, corpos e liberdades, elas compartilham com a plateia uma poesia brincante, musical e consciente. Nesta sexta (14), o sarau retorna ao modelo presencial no Museu de Artes Afro-Brasileiras Rolando Toro, no Bairro do Recife, às 19h, com as poetas pernambucanas Flávia Gomes, Renata Santana e Susana Morais. 

Realizado desde 2018, quando integrou a Mostra de Publicações Independentes (Mopi), o ‘Sarau Eroticuzinho’ já teve edições no Recife, em Olinda e ainda, em plataformas virtuais, durante a pandemia.  “O Sarau surgiu num ano emblemático, em 2018, num clima de repressão à cultura, aos artistas, às políticas e editais culturais, e também à liberdade e aos corpos”, frisa a poeta Renata Santana em entrevista exclusiva ao LeiaJá. 

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Renata Santana, escritora, recitadora, atriz, jornalista, bibliotecária e pesquisadora - Foto: Divulgação

De lá para cá, o evento foi se consolidando entre o público,”o mais gostoso em linha reta do planeta” e “o mais receptivo”, de acordo com Flávia Gomes, e amplificando as escritas e vozes das poetas. “Poesia é música. E música é coisa que se expande. E depois desse período de reclusão, precisamos alimentar o nosso tesão, o amor que carregamos pela vida, pelas pessoas e a nossa liberdade, essa que é inegociável”, complementa a escritora.  

Durante o evento, a irreverência e leveza acabam tomando conta dos presentes. No sarau, as performances, a música e até uma lojinha com venda de livros e lambe-lambes eróticos conferem um tom divertido à noite. “Em geral, a plateia se transforma numa grande quinta série. Fica frenética, agitada, participativa, quase infantil. E eu vejo beleza nisso”, conta Renata. Nesta edição, quem recepciona o público é a DJ Kate a Fire, com uma playlist especialmente pensada para a ocasião.  

Flávia Gomes, poeta, escritora, dramaturgista e roteirista de quadrinhos - Foto: Divulgação/Ricardo Maciel

No entanto, os tons de leveza e diversão propostos no evento perpassam, também, um caminho ríspido e repleto de preconceitos. Renata relembra que, há 15 anos, quando começou a recitar, já escrevia poemas eróticos, mas evitava levá-los a público pela dificuldade de se inserir. “Se eu quisesse recitar meus textos num sarau precisava brigar para pegar o microfone que os poetas homens não largavam”. Além disso, o receio por ser uma mulher que fala e escreve sobre sexo também lhe limitava e, apenas após ser publicada, se sentiu confiante. “Tinha medo de ser sexualizada pela plateia. Vinda do subúrbio e com 20 anos de idade, eu já era sexualizada demais no meu bairro. Então, achava que para ter respeito nos meios literários eu não deveria tocar nessa temática. Foi somente depois de já ter publicado livros, integrado antologias, que me senti mais segura. Uma pena tudo isso”. 

Com Flávia não foi diferente. A escritora reconhece haver “preconceito em todo lugar”. “E com as mulheres, com o que é feminino, nem se fala. O preconceito é carregado de uma coisa que pra mim é o grande empecilho pra tudo nessa vida: a hipocrisia. Mas, sendo muito sincera, não tô nem aí pra ela. Na verdade, utilizo a poesia e aqui, particularmente a poesia erótica, para não deixar que o preconceito ou qualquer coisa medíocre se aproxime. Utilizo a palavra como existência, resistência e protesto. Como diz o título de um poema que escrevi: SAI DA FRENTE”.

Susana Morais, poeta e cordelista - Foto: Divulgação

Sendo assim, com a postura de quem detém o direito de existir, resistir e usar das palavras que bem quiserem, essas poetas dividem com seu público não só sua liberdade e força, mas também um fazer político inerente a toda aquela que luta muitas vezes apenas por existir. “Acredito que de fato a minha escrita deixa claro que não acredito numa poética que não seja política, nem numa política que não seja poética. Pra mim seria impossível navegar pela literatura erótica e não reforçar, além do desejo, o direito ao prazer, a sexualidade, sem nenhum tipo de censura e violência, seja ela qual for. O corpo é uma festa e merece respeito.”, diz Flávia. Renata complementa: “Acho que o próprio acontecimento do Sarau, uma iniciativa organizada por mulheres, artistas independentes, recitando textos eróticos autorais já é uma bandeira e tanto. A bandeira que eu gosto é ‘a gente pode escrever sobre tudo aquilo que a gente quiser, e fazer boa literatura a partir disso’.”

Serviço

Sarau Eroticuzinho

Sexta (14) - 19h

Museu de Artes Afro-Brasileiras Rolando Toro (Rua Mariz e Barros, 328, Recife)

R$ 20  – Pagamento via Pix: CNPJ: 21141492000105

Lojinha - Durante o evento estará montada a lojinha com venda de livros, lambe-lambes e produtos eróticos.

Classificação indicativa: 16 anos

 

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