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Um estudo de março de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriu, pela primeira vez, a presença do coronavírus na gengiva de pacientes que, depois, vieram a morrer. Publicada no Journal of Oral Microbiology, a descoberta abre caminho para ligar a saúde bucal à presença da Covid-19 na saliva de pessoas infectadas. "As doenças periodontais são uma agravação para todo o corpo", afirma Sérgio Mauro Giorgi. Doutor em Periodontia e ex-professor da Faculdade de Odontologia da USP, ele explica como a saúde bucal pode influenciar todo o restante do corpo humano, causando desde doenças pulmonares e cardiológicas até o agravamento da Covid-19.

Para Giorgi, isso comprova quão necessária é a higiene oral adequada e focada em cada paciente. Ele explica que, através da boca, vírus como o Sars-CoV-2, a herpes e uma infinidade de bactérias podem ser transmitidos para a corrente sanguínea e piorar quadros já graves de outras doenças. Amostras recolhidas em pesquisas nos EUA apontam a presença de uma bactéria que só existe na boca, a Porphyromonas gingivalis, no cérebro de pessoas que morreram de covid e de Alzheimer.

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"Como ela foi para o cérebro?", indaga.

Nesta entrevista, Giorgi, que integra a American Academy of Periodontology, a American Dental Association e a New York Academy of Sciences, relata os principais cuidados a serem tomados na saúde bucal e o efeito da pandemia na boca dos brasileiros.

O que a descoberta do Sars-CoV-2 na gengiva de pacientes significa, na prática?

Isso pode acontecer quando a manutenção da higiene da boca não é bem desenvolvida pelo paciente. O pessoal da Medicina achou que o tecido gengival pode ser um alvo da doença e contribuir para a presença do vírus até na saliva. Quando o microbioma oral sofre um desequilíbrio, a boca ou o sistema imunológico não consegue proteger a superfície oral apenas com os dentes. Quando esse microbioma está desequilibrado ocorre o que chamamos de disbiose, que impede uma resposta do próprio sistema imunológico. Daí a importância de cirurgiões dentistas criarem protocolos individuais, de acordo com o paciente.

O que seriam esses protocolos individuais de higiene oral?

Às vezes, com a idade, o paciente perde a motivação para manter a higiene oral. É comum cirurgiões dentistas serem treinados para, nas UTIs, verificar a saúde bucal dos pacientes.

O que a má higiene da boca pode acarretar para o ser humano, além das cáries?

Amostras colhidas em pesquisas nos Estados Unidos apontam a presença de uma bactéria que só existe na boca, a Porphyromonas gingivalis, no cérebro de pessoas que vieram a óbito de covid e de Alzheimer. Como ela foi para o cérebro? Isso provavelmente tem a ver com a saúde bucal do paciente. Não à toa se criou a medicina periodontal, porque hoje já entendemos que as doenças periodontais podem ser uma agravação para todo o corpo. O dentista passou a ter uma certa importância na saúde geral do ser humano. As doenças periodontais estão associadas a enfermidades como doença coronariana, hepática não alcoólica, doença renal, distúrbios pulmonares e a esclerose, além de contribuírem para cânceres da cavidade oral e outras inflamações. Por isso é importante manter o microbioma oral sempre equilibrado.

Quais os principais sinais de um problema na saúde bucal?

O mais importante é ser aconselhado por um profissional. A doença gengival é perigosa em idosos - mais de 70% dos adultos com 65 anos ou mais têm periodontite, que afeta os ossos e enfraquece as fibras colares que unem dentes ao osso. Isso provoca o enfraquecimento do sistema imunológico.

Além da escovação, o que pode ser feito para manter a saúde oral em dia?

Antes de escovar os dentes, o interessante é fazer uma limpeza prévia, com fio dental e limpadores interdentais. Só com esse procedimento você já evita 70% das doenças periodontais. Mas a escovação e o fio dental tradicionais podem não ser suficientes para afastar as doenças da gengiva e da boca. Outra coisa importante é escovar a língua, principalmente o dorso. E evitar o compartilhamento de objetos com pessoas contaminadas.

Por quanto tempo se deve tomar esses cuidados?

Essas medidas devem ser levadas para o restante da vida. A qualquer momento, as pessoas podem ser infectadas. Também é importante a forma correta de cuidar de escovas e higienizadores. O ideal é mantê-los imersos em água e enxaguante bucal, com clorexidina, que são bactericidas. Nosso mercado ainda não tem isso, mas nos EUA existem pastilhas que você tritura na boca após a escovação matinal e elas liberam bactérias vivas e "boas", os probióticos orais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pesquisa urgente deve ser realizada para se definir se enxaguantes bucais podem ser eficazes em reduzir a propagação do coronavírus. É o que sugerem cientistas britânicos.

Enxaguantes bucais podem ser capazes de danificar a membrana ou cápsula que envolve o vírus e dessa forma reduzir as possibilidades de infecção, segundo um artigo científico publicado em 14 de maio pela Universidade de Oxford.

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Cápsula viral lipídica

O artigo, da autoria de um grupo de cientistas liderado por Valerie O'Donnell, do Instituto de Pesquisa de Imunidade de Sistemas da Universidade de Cardiff (Reino Unido), revela dados que demonstram a importância da garganta e das glândulas salivares na replicação e transmissão do novo coronavírus.

O artigo científico foi sintetizado em uma notícia do jornal britânico The Independent, e refere que o SARS-Cov-2, que causa a doença COVID-19, é um vírus cercado por uma membrana gordurosa ou lipídica, sensível a agentes químicos.

Os autores do artigo escreveram que enxaguantes bucais são uma "área subpesquisada", alertando para a "grande necessidade clínica" de se saber se a lesão dessa membrana poderia ter um papel na parada do vírus na garganta.

Pesquisas anteriores mostraram que enxaguantes bucais poderiam danificar a membrana em outros vírus. No novo artigo, pesquisadores destacaram que ainda não se sabe se isso seria o caso do novo coronavírus, lamentando que o seu uso ainda não tenha sido levado em conta pelos órgãos de saúde pública no Reino Unido.

Enxaguantes bucais são eficazes em certos vírus

"Em experiências com tubos de ensaio e estudos clínicos limitados, constatamos que alguns enxaguantes bucais contêm ingredientes viricidas em quantidade suficiente para atacar eficazmente os lípidos das cápsulas virais de vírus semelhantes", afirmou Valerie O'Donnell, citada pelo The Independent.

Contudo, "ainda não sabemos se enxaguantes bucais existentes são ativos contra a membrana lipídica do SARS-CoV-2", precisou, não deixando de salientar a importância de se "pesquisar com urgência seu potencial de uso contra este novo vírus" de molde a "avaliar mais a fundo esta questão", rematou a autora principal do artigo científico.

Reconhecendo que os colutórios ainda não foram testados contra este novo coronavírus, a líder da equipe adianta, no entanto, que "outros estudos clínicos poderiam valer a pena com base nas evidências teóricas".

Da Sputnik Brasil

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