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Quando chega o mês de setembro, os moradores da comunidade do Bode, no Pina (Zona Sul do Recife), se preparam para a tradicional Noite do Dendê, promovida pela Nação do Maracatu Porto Rico, sediado no local. Realizado há 11 anos, o evento cresceu, em dias e número de atividades e atrações, e reúne, hoje, além dos locais, pessoas vindas de todo o Recife, e de outros estados brasileiros, apaixonados pela cultura afro.

Porém, no último sábado (29), quem estava na 11ª edição festa foi surpreendido pela chegada de nove viaturas da Polícia Militar e um ônibus do Choque ordenando o encerramento do evento. O fato repercutiu durante todo o fim de semana, nas redes sociais, e foi chamado de racismo institucional pelo público.

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O Mestre Chacon Viana, presidente da Nação Porto Rico e coordenador da Noite do Dendê - realizada com o apoio da Prefeitura do Recife, falou com exclusividade ao LeiaJá sobre o incidente. Ele contou que a Polícia Militar chegou ao local por volta das 21h, alegando que a organização do evento não havia enviado um ofício para a PM solicitando segurança para a festa e, por este motivo, seria necessário encerrá-la naquele momento.

"Eu faço esse evento há 10 anos, esta é a décima primeira edição, e nunca precisei mandar ofício, mandar nada para a Polícia pedindo segurança. Até porque, no momento que eu for fazer uma festa na minha comunidade e precisar pedir segurança, eu vou deixar de fazer. A festa é deles, é o 14° salário deles. É um trabalho social que envolve toda a comunidade, a gente jamais precisou pedir segurança", disse o mestre.

Chacon afirmou ter ficado surpreso com a maneira que foi abordado: "Eles já chegaram lá com a base formada, dizendo que eu não mandei o ofício e eles iam acabar a festa. Se às 23h eu não tivesse acabado com a festa, eles iam me prender". Imediatamente, o mestre tentou acionar conhecidos, inclusive o Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, na tentativa de reverter a situação.

Faltando alguns minutos para o horário limite dado pelos policiais, o efetivo aumentou consideravelmente: "Umas 15 para as 23h, eles estavam lá com nove veículos, dentro do espaço, fortemente armados, mandando desligar o som. Polícia fortemente armada assusta todo mundo. Como ficamos na negociação esperando algum retorno do governador que estava em Arcoverde, algumas pessoas ligando pro comandante do 19° BPM pra ver se poderíamos continuar ou não, como demorou mais ou menos uma meia hora, eles chamaram o Choque", relembra.

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A situação teve bastante repercussão nas redes sociais. Rapidamente, fotos e vídeos da atuação policial começaram a ser compartilhados juntamente com relatos de pessoas que testemunharam o ocorrido. "A Noite do Dendê do Maracatu Porto Rico foi invadida e interrompida esta noite pelo racismo institucional"; "Nem podemos expressar nossa cultura, hoje tenho só tristeza em minha alma"; "O estado é insensível, insensato e injusto"; diziam algumas postagens.

Uma testemunha, que pediu para ter sua identidade preservada, relatou a esta reportagem ter presenciado a agressão de um oficial. "Um policial do Choque deu uma 'cacetada' no meu amigo. Eles empurraram a filha dele com o escudo, aí ele empurrou de volta, nisso, ele (o policial) já deu uma cacetada. Eles já chegaram para abafar mesmo. Eu nunca tinha presenciado repressão dessa forma", disse.

O Mestre Chacon confirma a violência: "Eu não cheguei a ver, mas a sogra do rapaz veio falar comigo. Ela disse que uma das porradas pegou em uma criança de seis meses e chegou a cortá-la. Eu não vi, mas aconteceu, sim, a criança foi machucada no rosto". Ele lamentou a proprção que a situação tomou: "A nossa festa nunca teve violência, a única violência que teve na nossa festa foi agora. E justamento pelo Governo do Estado".  

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Nesta edição, a Noite do Dendê promoveu exames de mamografia, rodas de diálogos e atividades formativas na área de produção cultural para a comunidade. Agora, o mestre tem se reunido com apoiadores do maracatu e representantes do Governo para saber qual será o desdobramento do incidente.

Ele ainda não sabe informar se haverá um novo momento para retomar as apresentações interrompidas no último sábado (29): "Eu preciso resolver essa situação e estar assegurado, preciso saber com quem estou lidando. Não se trata de um ‘casinho’, se trata de um batalhão da polícia e esses caras são covardes. Eu preciso estar seguro porque não se trata só de mim, se trata da minha família, e eu não confio nesse povo. Preciso entender onde foi que eu errei porque até agora eu não sei". 

Resposta da PM

Procurada pelo LeiaJá, a Polícia Militar afirmou ter agido no sentido de cumprir "sua missão" de exigir a autorização para a realização da Festa do Dendê, "como o faz para todos os eventos com grande aglomeração de pessoas". A nota enviada pela assessoria de imprensa do órgão também ressaltou que a atuação da PM "não teve qualquer conotação de racismo". No entanto, não houve resposta quanto ao questionamento sobre a necessidade da presença do Choque na ocorrência nem sobre quem havia comandado a operação.

Confira a nota na íntegra:

A Polícia Militar esclarece que, na noite de ontem (29 de setembro), cumpriu a sua missão de exigir, como o faz para todos os eventos com grande aglomeração de pessoas, a autorização para a realização da Festa do Dendê, em Brasília Teimosa. A concessão, fornecida pela Prefeitura e Vigilância Sanitária, é obrigatória para os organizadores e produtores culturais, para o devido planejamento operacional de segurança, trânsito, saúde, garantia do ir e vir e a proteção da população como um todo.

Mesmo sem a autorização para a realização do evento, oficiais da PM conversaram com a organização e foi acordado o encerramento para as 23h. O evento transcorreu normalmente e foi finalizado de forma pacífica, sem nenhuma intercorrência ou tumulto. A volta para casa foi garantida de forma tranquila.

Por fim, é fundamental ressaltar que a atuação da PM não teve qualquer conotação de racismo. Ao contrário, a PMPE não apenas é uma instituição plural composta por servidores de todas raças, etnias e credos, como também combate e desenvolve uma série de ações permanentes de enfrentamento ao racismo, interna e externamente. Nesse sentido, a Diretoria de Articulação Social e Direitos Humanos da PMPE conta com um Grupo de Trabalho contra o Racismo e promove palestras, conscientizações, mobilizações e amplo diálogo com a sociedade organizada que defende e trabalha pela igualdade racial.

 

 

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No velório do percussionista Naná Vasconcelos, na tarde desta quarta-feira (9), na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), além dos familiares do artista, personalidades da cena musical também marcaram presença. Um deles foi o cantor Ed Carlos, que conversou com o Portal LeiaJá e deixou seu recado de reconhecimento por tudo que o falecido mestre representa para a cultura nacional.

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“Os gênios são muito simples. No caso de Naná, ele tinha em sua essência a simplicidade. O que vamos levar dele, além desse lado humano, é o alto astral que ele sempre transmitiu”, declarou Ed Carlos. E puxou em sua memória: “Lembro quando ele me ligou para agradecer pela música “Nanamaracatu”...passei uma semana chorando de alegria”.

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Além do Maracatu Nação Porto Rico, outro que compareceu para prestar sua homenagem ao percussionista, em nome de 15 aberturas de carnaval sob a mestria de Naná, foi o grupo Voz Nago. Na despedida, os integrantes da agremiação se apresentaram no salão da Alepe, sendo mais um conjunto de admiradores a cumprir o que o mestre queria: um velório com muita batucada. 

Integrante do Voz Nago, Luciane Loyce também deixou sua mensagem de despedida. "Nana deu a oportunidade e a abertura para algo que era marginalizado pela sociedade. Além disso, ele era totalmente envolvido com todos e tinha carinho entre todas nós", disse. E finalizou: "Sabemos que não se pode dizer q ele é insubstituível, mas ê muito precipitado falar como tudo vai ficar sem ele".

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Com informações de Roberta Patu

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Um dos maiores símbolos da cultura brasileira, o persussionista Naná Vasconcelos, aos 71 anos, faleceu na manhã desta quarta-feira (9) e, no período da tarde, seu velório teve início, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), área central do Recife. Dentre todos que estão no local para se ‘despedir’ do artista, o destaque ficou por conta do Maracatu Nação Porto Rico, que fez uma homenagem da forma que o mestre sempre pedia enquanto disseminava seu conhecimento ao redor do mundo: com muito barulho, sem cessar a tradicional batucada à base de alfaias. 

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Representante do Porto Rico, o mestre Chacon Viana conversou com a reportagem do Portal LeiaJá, e resgatou lembranças de Naná Vasconcelos, explicando como se deu a ideia de fazer uma apresentação no velório. Cabe ressaltar que a nação que abrilhantou a tarde na Alepe é centenária e participou das quinze aberturas de carnavais comandadas pelo persussionista que marcou época em solo pernambucano e internacional.

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“Naná não queria silêncio em seu velório. Ele sempre disse isso. Queria muito batuque. Estamos aqui cumprindo a vontade dele”, disse Chacon Viana. E completou, mostrando sua admiração pelo falecido artista enquanto pessoa: “Ele era muito humano, em todos os sentidos. Um cara simples, que sempre fazia questão de estar com a comunidade. Ele sempre disse que seu objetivo era dividir conhecimento. Não se considerava um mestre, mas uma indivíduo que estava ali para compartilhar o que sabia da nossa cultura”.

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Com informações de Roberta Patu

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