O dólar operou misto ante algumas das principais moedas rivais nesta quinta-feira, 26, em dia marcado pela baixa liquidez do mercado, o avanço do coronavírus e a repercussão da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A percepção de que o Fed pode expandir a sua política de afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) nos próximos meses alimentou a busca do mercado por ativos de risco, o que enfraqueceu o dólar, mas o aumento de casos da covid-19 fez investidores buscarem segurança na moeda americana.
O índice DXY, que mede a variação do dólar ante uma cesta de outras seis moedas fortes, fechou com variação positiva de 0,04% no pregão desta quinta, aos 92,029 pontos. Entre as principais divisas concorrentes do dólar, o iene esteve entre as que mais acumularam ganhos, fazendo com que a moeda americana recuasse a 104,26 ienes. Já a libra acumulou perdas ante o dólar e fechou o dia cotada a US$ 1,3360.
##RECOMENDA##
A movimentação do índice refletiu em grande parte a taxa de câmbio em relação ao euro, que no começo do dia se desvalorizava após divulgação da ata da reunião mais recente do Banco Central Europeu (BCE). Segundo o documento, os dirigentes do BCE entenderam que seria necessário "recalibrar" os instrumentos de política monetária a partir do mês que vem, considerando perspectiva mais pessimista para a economia por conta da pandemia.
As considerações dos dirigentes contidas na ata aumentaram a percepção do mercado de que o BCE estaria preparando mais medidas de estímulo, e ao longo do dia o euro reduziu as perdas ante o dólar e fechou as negociações cotado a US$ 1,1916.
O mercado ainda repercute a ata do Fed, divulgada no fim da tarde de ontem. Segundo o documento, dirigentes da autoridade monetária dos EUA discutiram a possibilidade de aumentar suas posições na compra de títulos públicos, expandindo sua política de QE, para "sustentar o funcionamento regular do mercado e ajudar a promover condições financeiras acomodatícias". Em conformidade com o BCE, o Fed avaliou que a pandemia do novo coronavírus continuará afetando a economia no curto prazo, além de oferecer riscos à médio prazo.
O avanço da covid-19, aliás, continua sendo um fator a pressionar os mercados. Segundo a Universidade Johns Hopkins, já são mais de 60 milhões de infectados em todo o mundo, com diversos países batendo recordes diários em meio à uma segunda onda, incluindo os EUA.
Segundo analistas de mercado, porém, a previsão é de que o dólar seja enfraquecido à curto prazo, com investidores acompanhando a evolução das vacinas contra a covid-19 e projetando uma recuperação acelerada da economia. Um recente comentário de estrategistas do Citigroup previu uma queda acumulada de 20% do dólar em 2021. Para o estrategista de múltiplos ativos do Goldman Sachs, Christian Mueller-Glissmann, o dólar está "sobrevalorizado e os investidores estão com excesso de peso nos ativos dos EUA". A potencial melhora dos ativos de empresas listadas nas bolsas de Nova York, taxas de juros que não acompanham a inflação e uma recuperação do crescimento global deve pesar sobre o dólar, segundo ele.
Esta previsão não se confirmará caso os países falhem em combater o novo coronavírus no primeiro semestre do ano que vem, dizem os analistas. Para o head global de macroeconomia da Fidelity International, Salman Ahmed, a possibilidade de um contingente relevante de pessoas se recusarem a tomar uma vacina contra a covid-19 é um risco que está sendo subestimado. Pesquisas da Pew Research Center, por exemplo, constataram que o número de adultos norte-americanos dispostos a se vacinarem caiu de 72% ,em maio, para 51%, em setembro.