Tópicos | movimento antivacinas

Nas Filipinas, a desinformação que se espalha pelas redes sociais e atinge milhões de pessoas de baixa renda levou um grande número de cidadãos a rejeitar a vacina contra a poliomielite e outras doenças mortais.

A vacinação de crianças do arquipélago passou de 87% em 2014 para 68% em 2019, ano em que sofreu uma epidemia de sarampo e o reaparecimento da poliomielite.

Isso está, em grande parte, ligado a uma polêmica sobre a Dengvaxia, a primeira vacina contra dengue do mundo retirada do mercado em 2017 depois que seu fabricante, o grupo francês Sanofi, revelou que poderia agravar os sintomas em pessoas não previamente infectadas com o vírus.

Os especialistas também apontam que informações falsas sobre vacinas que circulam nas redes sociais prejudicam a confiança das pessoas.

Em Tarlac, ao norte, a enfermeira Reeza Patriarca constatou as consequências de uma informação falsa divulgada no Facebook sobre a morte de cinco pessoas após uma vacinação não especificada.

Compartilhados milhares de vezes, esses posts apareceram em agosto após a retomada de uma campanha de vacinação contra a pólio apoiada pela OMS.

Essa informação falsa chegou à cidade vizinha de San José del Monte, dissuadindo um grande número de residentes de receber a vacina contra gripe.

As declarações do ministério da Saúde não convenceram a população.

- 'Por causa do Facebook' -

"Alguns acreditaram na explicação (do governo), outros não", explica esta enfermeira de 27 anos.

Rosanna Robianes, uma profissional da saúde, diz que muitos idosos pararam de ser vacinados.

"Disseram que é por causa do Facebook, onde circula uma publicação segundo a qual morreram as pessoas vacinadas em Tarlac", afirma.

O interesse em informações antivacinas aumentou durante a pandemia de covid-19.

Nas Filipinas, o número de pessoas que seguem grupos ou páginas antivacinas no Facebook saltou de 190.000 para cerca de 500.000, de acordo com a ferramenta de análise de mídia social CrowdTangle.

Cerca de 8 milhões de reações, comentários e conteúdos compartilhados foram registrados desde o início da epidemia.

April Villa, de 40 anos e mãe de dois filhos, na província de Laguna, faz parte dos antivacinas.

No Facebook, acompanha o grupo "Não às vacinas - Filipinas", criado em julho e com mais de 2.000 membros.

Ela explica à AFP que se juntou ao grupo para "ter informações que nosso sistema educacional jamais poderia ensinar".

As vacinas "são tóxicas para o corpo humano, matam os anticorpos naturais", diz ela, que não pretende ser vacinada contra a covid-19.

A maioria dos 73 milhões de internautas filipinos têm contas no Facebook, de acordo com a consultoria britânica We Are Social.

Durante a eleição presidencial de 2016, postagens sobre o candidato Rodrigo Duterte inundaram o Facebook, tendo um papel crucial em sua vitória.

A comissão parlamentar mista de inquérito que investiga notícias falsas e assédio nas redes sociais (CPI Mista das Fake News) aprovou nesta quarta-feira (5) a convocação de duas pessoas ligadas ao movimento antivacinação. Os depoimentos ainda terão a data marcada e os convocados não podem se recusar a comparecer.

O terapeuta holístico Jaime Bruning, autor de um canal no YouTube, e a empresária Mayara Cristina Modesti, dona da empresa de produtos naturais Tudo Saudável, são acusados de disseminar informações falsas sobre a eficácia e os efeitos de vacinas. Os requerimentos são do presidente da comissão, senador Angelo Coronel (PSD-BA).

##RECOMENDA##

“Nossa CPMI está muito voltada para a questão política e deixando de lado um assunto muito grave, que são os efeitos das fake news sobre a saúde pública e a confiança nas vacinas. É de grande valia mudarmos um pouco o vetor para ouvir essas pessoas”, destacou Coronel.

O vice-presidente da comissão, deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro da Saúde entre 2016 e 2018, celebrou a decisão de trazer o assunto para os trabalhos. Ele citou um levantamento recente do Ministério da Cidadania, feito entre famílias de baixa renda que serão incluídas no programa Criança Feliz, que indicou que 50% das crianças dentro desse grupo não estão com a caderneta de vacinas em dia.

“Isso é realmente grave. A vacinação é uma medida de saúde imprescindível para que possamos controlar as epidemias que acontecem por contágio. De fato, precisamos enfrentar as fake news e atingir nossa meta de 90% de crianças vacinadas, que é preconizada pela Organização Mundial da Saúde”.

Além das duas pessoas convocadas, a CPI Mista também estendeu convite para que a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) envie um representante para debater o tema.

Requerimentos

No total, a CPI Mista das Fake News aprovou 21 requerimentos nesta terça-feira. A maioria deles é de pedidos para que o Google, o Facebook e o Twitter identifiquem os proprietários de diversos perfis. O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) pediu as identidades dos responsáveis por ataques virtuais contra desafetos do atual governo. O deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE) requisitou acesso judicial às mensagens trocadas em um grupo fechado no Instagram. Já o deputado Rui Falcão (PT-SP) quer os endereços de IP de computadores dos quais tenham partido ataques coordenados.

Todos esses pedidos têm como base o depoimento da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que apontou a existência de milícias virtuais que contam com a participação de aliados e subordinados do presidente Jair Bolsonaro.

A deputada Caroline de Toni (PSL-SC) requisitou informações do Ministério Público e do Tribunal Superior Eleitoral sobre influenciadores digitais que postavam mensagens elogiosas a políticos mediante pagamentos, sem a discriminação de que as postagens eram financiadas. O caso, revelado em 2018, ficou conhecido como “mensalinho do Twitter”.

Próxima reunião

A CPI Mista se reunirá duas vezes na próxima semana para retomar a coleta de depoimentos. Na terça-feira (11), a comissão receberá Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da empresa Yacows, que trabalha com marketing digital. A companhia é uma das apontadas como responsáveis por operar campanhas de mensagens direcionadas durante as eleições de 2018.

Na quarta-feira (12), a comissão promoverá audiência pública com representantes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de empresas telefônicas e do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil).

*Da Agência Senado

 

 

 

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando