Tópicos | Operação Fantoche

O Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco ofereceu a primeira denúncia contra dez pessoas que estão sendo investigadas por desvio de mais de R$ 2,5 milhões do Serviço Social Industrial (Sesi), liberados em contrato de patrocínio do projeto Relix Pernambuco, firmado entre o Departamento Regional do Sesi no estado e o Instituto Origami. A denúncia é decorrente da Operação Fantoche, deflagrada em fevereiro de 2019, em razão das fraudes em licitações e desvio de recursos públicos.

Para a procuradora da República Silvia Regina Pontes Lopes, os denunciados Robson Braga de Andrade, na condição de diretor do Departamento Nacional do Sesi, Ricardo Essinger, então diretor Regional do Sesi em Pernambuco, e Ernane Aguiar Gomes, então superintendente do Sesi no estado, realizaram a liberação dos recursos do Relix Pernambuco 2014 sem nenhum tipo de avaliação financeira, pesquisa de mercado ou acompanhamento da execução orçamentária e financeira do projeto, possibilitando o enriquecimento ilícito de terceiros às custas de verba do Sistema S.

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O MPF reforça que os denunciados Hebron Costa Cruz de Oliveira e Romero Neves Silveira Souza Filho, respectivamente presidente e diretor sociocultural do Instituto Origami, uma das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips) cooptadas no esquema, utilizaram empresas de “fachada” e pagamentos por serviços não realizados na execução do Relix. As investigações ainda apontaram que a Aliança Comunicação e Cultura Ltda., cujos sócios são os irmãos Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva e Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, também denunciados pelo MPF, foi a principal destinatária dos recursos alocados no projeto, que foram repassados mediante a emissão de notas fiscais faturadas pela Aliança em favor do Instituto Origami.

Também consta na denúncia que uma parcela dos serviços referentes ao contrato de patrocínio firmado entre o Sesi e o Instituto Origami foi viabilizada mediante contratações realizadas por intermédio da empresa Alto Impacto Entretenimento Ltda., sob a gestão do também denunciado Luiz Antônio Gomes Vieira da Silva, irmão de Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva e de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva. Nessa contratação, foi detectado sobrepreço e consequente superfaturamento referente ao valor contratado pelo Sesi. 

O MPF destaca ainda que, segundo as apurações, os irmãos Luiz Otávio Gomes Vieira da Silva e Lina Rosa Gomes Vieira da Silva utilizaram, de forma deliberada, empresas para fins de difusão e consequente desvio dos recursos destinados à execução do Relix Pernambuco 2014, sob a forma de “taxa de administração” que seria cobrada por essas empresas – é o caso da Idea Locação de Estruturas e Iluminação, que, à época, estava sob o comando do denunciado Júlio Ricardo Rodrigues Neves.

Também é alvo da denúncia o então secretário estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sérgio Luís de Carvalho Xavier, apontado como articulador para a implantação do Relix em Pernambuco, tendo sido o responsável por apresentar o projeto ao Sesi. Segundo o MPF, foi constatado que pessoa jurídica controlada pelo ex-secretário - SX Brasil Comunicação Digital Ltda. - foi subcontratada pela Aliança Comunicação e Cultura para o desenvolvimento de aplicativo do Relix, que as apurações indicaram ter sido realizado por outra empresa.

Caso sejam condenados pela Justiça Federal pela prática do crime de peculato, a pena aos denunciados pode chegar a 12 anos de reclusão, além do pagamento de multa. O MPF também requer que seja decretada perda de eventual cargo ou função pública exercida pelos envolvidos, bem como a perda de bens acrescidos ao patrimônio em decorrência da prática criminosa e a reparação dos danos causados aos cofres públicos.

*Com informações da assessoria

A Polícia Federal em Pernambuco divulga, na manhã desta terça-feira (19), detalhes da Operação Fantoche, que  objetiva desarticular uma organização criminosa voltada a prática de crimes contra administração pública, fraudes licitatórias, associação criminosa e lavagem de ativos envolvendo contratos com o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S - que envolve Sesc, Senac e Senai.

Foram expedidos 10 mandados de prisão temporária. Desses, sete são em Pernambuco. Dentre os presos pernambucanos está o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger, que foi detido em Brasília. Já dos nomes nacionais, destaca-se o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, também preso na capital federal.

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Os presos no Recife vão ser ouvidos na PF e depois encaminhados ao Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Dentro da operação, foram expedidos ainda 47 mandados de busca e apreensão sendo 29 em Pernambuco. 

Quatro empresas e um instituto são investigados pela operação da PF: Ateliê Produções Artísticas, Somar Intermediações, Idea Locação de Estruturas e Iluminação, a Aliança Comunicação e Cultura, além do Instituto Origami. Todas com sede no Recife.

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Investigação

Segundo a Polícia Federal, a investigação aponta que este grupo de empresas, sob a tutela de uma mesma família, teria criado empresas de fachada para, por meio de convênios fraudulentos, desviar verbas. A apuração inicial aponta que o grupo já recebeu R$ 400 milhões decorrentes desses contratos.

“A investigação começou há alguns anos, a partir de uma empresa que estava recebendo grande parte de recursos para eventos culturais. Percebeu-se que esses valores estavam superfaturados e que foram criadas empresas de fachada. Conseguimos identificar também que o dinheiro não era destinado totalmente a essas produções culturais", detalhou o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Renato Madsen.

"Queremos investigar até que ponto esse esquema partiu do sistema S daqui e reverberou em outros Estados", acrescentou.

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O que dizem os investigados

O LeiaJá entrou em contato com a Fiepe, que afirmou, por meio da assessoria, que "o presidente, Ricardo Essinger, está prestando esclarecimentos na Polícia Federal. Todos os processos atendem, criteriosamente, às exigências licitatórias previstas em lei e a equipe técnica da entidade está à disposição para contribuir com a documentação que for solicitada pelos responsáveis pela investigação".

O sistema S, por sua vez, negou que esteja envolvido em qualquer esquema de corrupção. "O Sistema Fecomércio/Senac/Sesc em Pernambuco esclarece à opinião pública que nenhuma de nossas instituições está envolvida na Operação Fantoche, da Polícia Federal, que investiga um esquema de corrupção por meio de convênios com o Ministério do Turismo e algumas entidades do Sistema S. Vale lembrar que o Sistema S é composto por nove instituições corporativas voltadas ao treinamento profissional, pesquisa e assistência técnica e social. O Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE reafirma que não praticou nenhum ato ilícito e não é citado ou investigado em nenhuma operação ou processo criminal", diz a nota da instituição.

Já a CNI, que teve o presidente preso, disse que acredita que tudo será devidamente esclarecido. "A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem conhecimento de que o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, está na Polícia Federal, em Brasília, prestando esclarecimentos sobre a operação deflagrada na manhã desta terça-feira (19/02). A CNI não teve acesso à investigação e acredita que tudo será devidamente esclarecido. Como sempre fez, a entidade está à disposição para oferecer todas as informações que forem solicitadas pelas autoridades."

Em nota, o Ministério do Turismo informou que já tinha determinado auditoria completa em todos os instrumentos de repasse antes mesmo de tomar conhecimento da investigação da PF. A análise resultou no cancelamento de um contrato no valor de R$ 1 milhão. “O Ministério do Turismo, que não é alvo das buscas e apreensões da Operação Fantoche, está totalmente à disposição para colaborar com a investigação”, assegura a pasta, ao destacar que nenhum novo convênio foi assinado este ano.

Das demais empresas citadas, a Aliança Comunicação e Cultura disse que esta empenhada em prestar esclarecimentos à PF.

“A Aliança Comunicação e Cultura reafirma seu compromisso em produzir projetos culturais com conteúdo de altíssima qualidade, e que têm se traduzido em sucesso de público e de crítica por quase 20 anos. Ao longo desse tempo, levamos o que há de melhor no mundo das artes para mais de 10 milhões de brasileiros, em todos os estados da federação e no Distrito Federal, sempre com acesso gratuito. Reforçamos, ainda, que todos os nossos projetos passam por auditorias internas e externas, sem qualquer tipo de restrições quanto a qualidade e a entrega de TODOS os itens contratados. Nesse momento, estamos nos empenhando ao máximo para esclarecer todos os questionamentos levantados pela Polícia Federal. É do nosso maior interesse que tudo seja elucidado o mais rápido possível”, diz a íntegra do posicionamento.

Já o Instituto Origami ponderou que “é uma associação civil de direito privado, independente, sem fins lucrativos e apolítica. E informa que está colaborando com todas as demandas das autoridades no sentido de esclarecer eventuais dúvidas sobre os projetos que realiza”.

*Com a colaboração da repórter Giselly Santos

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