A crise provocada pela pandemia da Covid-19 deixa rastros em vários setores da economia. Um exemplo é o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que registrou 14 milhões de brasileiros desempregados. Sob o caos econômico, famílias foram obrigadas a reaver as práticas de consumo e precisaram cortar gastos.
Pais e mães responsáveis pelas principais rendas dos familiares, de repente, perderam suas únicas fontes de recursos. A crise fez com que papéis se invertessem em muitos lares brasileiros, como no caso de estagiários que tiveram suas bolsas mantidas e passaram contribuir com seus familiares. Em algumas situações, os jovens estudantes, antes munidos com ajudas financeiras de seus pais, tornaram-se os únicos provedores de renda de suas casas.
##RECOMENDA##Itallo Olimpo é estudante de jornalismo e tem 21 anos. A renda de sua família era é formada pelo seu salário, o do pai e os ganhos oriundos de "bicos" que a mãe fazia como diarista. O rapaz conseguiu um estágio na área de Comunicação Social em uma empresa de tecnologia e foi nesse mesmo período que o auxílio emergencial de sua mãe acabou.
A mãe do jovem se viu em uma situação complicada em que tinha que decidir entre sair para trabalhar e manter a renda ou arriscar os familiares mais vulneráveis diante da Covid-19. Com a família em casa - Itallo reside em outro local, arcando com aluguel -, durante decretos de lockdown em Pernambuco, os gastos extras com luz aumentaram e a alimentação começou a ficar mais cara. Itallo, por sua vez, resolveu assumir algumas obrigações de seus pais, mesmo tendo que arcar também com suas contas pessoais, como as mensalidades do aluguel da residência em que vive. “Decidi ajudar, minimamente, para que ela se resguardasse o máximo possível, com um valor aproximado do que ela costumava ganhar semanalmente com as faxinas”, conta o estagiário.
De acordo com a edição 2019 da Pesquisa Nacional de Bolsa-Auxílio, do Nube - Núcleo Brasileiro de Estágios, os estagiários recebem em média, no Brasil, R$ 1.007,06. O levantamento é realizado desde 2008.
Segundo o economista Tiago Monteiro, o desemprego registrou altos índices na pandemia por causa do processo de isolamento social. Com as pessoas em casa sem trabalhar ou consumir, as empresas não têm como produzir ou para quem vender, logo não necessitariam manter o mesmo corpo profissional com custo elevadíssimo.
"O desemprego vem naturalmente como uma redução de custo no nosso país, é por isso que vimos um mar de desempregos sendo jogados ao mercado durante o ano passado e que na verdade ainda foi uma ‘cereja do bolo’ se comparado ao alto índice de desemprego por causa da crise econômica de 2015 e 2016”, explica Monteiro.
O economista lembra também aqueles que estão na informalidade e que não são considerados desempregados. Com relação ao auxílio, ele afirma que veio para tentar dar fôlego para os informais, aquelas pessoas que não tinham trabalho formal e que precisavam ter algum tipo de receita. A paralisação do auxílio emergencial não afeta apenas a sobrevivência das pessoas, mas também os negócios que utilizam essa renda para girar a economia.
O Instituto Euvaldo Lodi em Pernambuco (IEL-PE) fez um levantamento entre março de 2020 e março de 2021 que registrou aproximadamente 2 mil rescisões de estagiários. “Isso não quer dizer que os números permaneceram os mesmos ao longo do período, já que é provável, no decorrer desse último ano, que alguma vagas tivessem sido reativadas quando o cenário apresentou uma melhora”, aponta o IEL, por meio da sua assessoria de comunicação.
Atualmente, a instituição conta com mais de 3 mil contratos efetivados em 2020 e 2021. Juliana Nogueira, gestora do IEL-PE, destaca: “O estágio é uma etapa importante no processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno, porque promove oportunidades de vivenciar, na prática, conteúdos acadêmicos, além de adquirir conhecimentos e desenvolver competências relacionadas à profissão escolhida pelo estudante. O estágio, além de ser o primeiro contato com o mercado de trabalho, permite a troca de conhecimentos através da vivência diária, da construção, como também é um meio de subsidiar as duas próprias despesas por meio da remuneração”.
O IEL-PE projeta inserir mais de 5 mil estagiários no mercado de trabalho em 2021. Tiago Monteiro frisa a mudança de postura quando o estagiário se torna provedor do lar: “Quando a pessoa se torna a gestora do lar, tanto operacionalmente quanto financeiramente falando, infelizmente ela precisa entender que ela precisa levar o longo prazo como uma das principais metas da vida dela. Ou seja, pensar em contas a pagar, o quanto ela vai receber, o que é necessidade e o que é supérfluo, comida, é um re-arranjo da operação da família da pessoa. Ela precisa se enxergar como uma empresa”.
O economista orienta que o ideal é deixar sempre o saldo positivo sem faltar nada, mas reconhece que não é uma tarefa fácil. No entanto, com o passar do tempo, o estagiário pode aprimorar a sua vida financeira.
Para o segundo semestre de 2021, o economista projeta recuperação econômica, caso a vacinação em massa contra a Covid-19 seja desenvolvida no País. "A vacinação é crucial para observamos uma melhora no mercado, ela gera confiança no consumidor e nas empresas e isso fará com que a atmosfera fique mais positiva", aponta o especialista.