Jorge Drexler percorre o mundo com uma ode ao violão

Em 'Salvavidas de hielo', que lhe rendeu sua quinta indicação ao Grammy, Drexler fala de migrações, de desfrutar o efêmero, da maravilha das comunicações, da necessidade de silêncio ou da magia das canções

| qui, 08/02/2018 - 12:10
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Foto: Jason Merritt O músico uruguaio Jorge Drexler após receber dois Grammy Latinos em 19 de novembro de 2014, no MGM Grand Garden Arena em Las Vegas, Nevada O músico uruguaio Jorge Drexler após receber dois Grammy Latinos em 19 de novembro de 2014, no MGM Grand Garden Arena em Las Vegas, Nevada

Com um novo disco caprichoso, feito apenas com violões, Jorge Drexler, o músico uruguaio de maior sucesso no exterior com um Oscar e cinco indicações ao Grammy, está embarcando em uma longa turnê, e em Nova York será recebido com pompa.

O otorrinolaringologista que deixou Montevidéu e a Medicina aos 30 anos para tentar viver da música em Madri apresentará seu 16º álbum, "Salvavidas de hielo", no lendário teatro Beacon, onde tocaram David Bowie e os Rolling Stones.

"É um desafio muito grande, estou realmente muito feliz, embora me pareça um pouco apressado e desproporcional para mim", diz em uma entrevista à AFP em seu hotel perto do Central Park, antes de seu show do próximo sábado (10) na cidade.

"A vida é muito generosa comigo", acrescenta o compositor de 53 anos, que após um primeiro disco que vendeu apenas 33 cópias, no ano passado cantou no Colón de Buenos Aires, na semana passada, no Liceu de Barcelona, e em abril se apresentará no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

- Voz e violão -

Em "Salvavidas de hielo", que lhe rendeu sua quinta indicação ao Grammy, Drexler fala de migrações, de desfrutar o efêmero, da maravilha das comunicações, da necessidade de silêncio ou da magia das canções. E também agradece a Joaquín Sabina, que em uma "noite louca" em Montevidéu lhe aconselhou a ir para Madri.

Em tempos de pouca paciência e de pular de um disco a outro e de um artista a outro no Spotify, "queria mergulhar profundamente em uma coisa só, por isso no disco não há nenhum outro instrumento que não sejam violões", explicou o músico em uma pausa de sua turnê por 28 cidades da Espanha, Inglaterra, Estados Unidos e América Latina.

"Acredito que sim, é meu disco mais caprichoso", mas "não é um exercício de ascetismo musical", esclarece. "É um dos discos mais carregados que fiz, com muitas camadas de som", incluindo os que cinco percussionistas arrancaram de violões durante a gravação no México.

Em três canções, ele é acompanhado por cantoras poderosas: as mexicanas Julieta Venegas e Natalia Lafourcade, assim como a chilena Mon Laferte em "Asilo", a sensual súplica de um amante.

Drexler protagonizou um momento histórico no Oscar em 2005, quando Prince lhe entregou a estatueta por "Al otro lado del río" e o uruguaio, em vez de fazer um breve discurso, cantou sua canção a capela, em protesto contra os organizadores que não lhe deixaram cantá-la na cerimônia, escolhendo para isso os mais conhecidos Antonio Banderas e Carlos Santana.

- Migrações -

A faixa que abre o disco, "Movimiento", criada após uma palestra TED que deu em Vancouver, é para o músico a mais importante neste momento, quando cresce a retórica anti-imigrantes do governo Trump.

"Estamos vivos porque estamos em movimento/ Nunca estamos quietos, somos trashumantes/ Somos pais, filhos, netos e bisnetos de imigrantes", canta Drexler, um "desraizado crônico", filho e neto de alemães que fugiram dos nazistas, bisneto de um polonês, e imigrante morando em Madri há 23 anos.

Embora não interesse a ele "o conceito de canção de protesto", se viu escrevendo canções mais políticas ultimamente, como "Movimiento", cujo vídeo mostra a corredora rarámuri Lorena Ramírez, vencedora de uma ultramaratona de 100 km em julho, sulcando a vastidão da serra Tarahumara no México, com seu vestido tradicional e suas sandálias de plástico.

"Não é de protesto e tampouco é feminista, mas tem uma mulher em posição de força", diz Drexler, que conta que trocou as fraldas de seus três filhos e que vive com sua esposa, a atriz e cantora Leonor Watling, "em condições de igualdade".

Na rítmica "Telefonía", Drexler celebra todas as formas de comunicação, e embora evoque as mensagens escritas nos guardanapos dos bares, faz isso sem nostalgia.

"As histórias que contamos não são muitas, são poucas. 'Telefonía' fala disso, parece que muda tudo mas continuamos dizendo as mesmas coisas", afirma. "Não sou um cara nostálgico em geral", talvez como "uma defesa, porque fui embora do Uruguai e não quero estar pendurado no que me falta".

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