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Nascido em 1935, na cidade de Jucurutu, interior do Rio Grande do Norte, o cantor Expedito Baracho realiza nesta quinta (1º) um show comemorativo aos seus sessenta anos de carreira, no Teatro de Santa Isabel. Para celebrar suas bodas de diamante, ele escalou um time de intérpretes de primeira linha. Com ingressos praticamente esgotados, o artista recebeu a equipe do LeiaJá para uma entrevista reveladora em que comenta, inclusive, a música atual.
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Como você avalia suas seis décadas de carreira?
De maneira muito positiva. Veja só, ao longo destes sessenta anos, poucos de meus contemporâneos continuam trabalhando, estão em forma ainda, poucos continuam fazendo alguma atividade artística.
O que lhe motivou a seguir carreira artística?
Honestamente, eu só sei cantar. Ainda toco um pouco de violão, mas nunca tive outro emprego, nunca fiz nada diferente. Só quando era garoto e trabalhei como mensageiro do telégrafo Western. Esse foi o único emprego fora da música. Ainda trabalhei na destilaria que fabricava o rum Montilla, mas até ali eu trabalhava ligado à música.
O senhor era um dos principais intérpretes de Capiba, como era gravar músicas dele?
Eu gravei diversas canções de Capiba, de carnaval e românticas também. Na verdade acredito que gravei mais românticas até do que de carnaval. Entre elas tem três gravações diferentes de Maria Bethânia. Ele me indicou para cantar, inclusive, no longplay comemorativo de oitenta anos dele pela gravadora Rosembrick.
Como era sua relação com Capiba?
Era uma relação de amizade. Eu frequentava sempre a casa dele, nas quartas ou quintas-feiras sempre havia um almoço na casa dele para reunir seus amigos e os de sua esposa, Zezita. Eu sempre ia pegar o 'rango' dele, mesmo depois que ele partiu, ela continuou fazendo os almoços até que se mudou para Surubim.
O senhor se lembra do dia em que chegou ao Recife?
Eu cheguei aqui aos 13 anos. Fiquei na casa de uma tia, na estrada de Paulista. Vim para estudar, mas acabei não estudando. Eu vim de caminhão e cheguei em uma quarta-feira de cinzas, estava com muito sono, mas a primeira lembrança que tenho é de um camarada bem bêbado batendo um bombo e cantando É com esse que eu vou.
Quando você começou a se apresentar nos programas de calouros?
Ainda em 1949, 1950 eu comecei a me apresentar nos calouros da Rádio Clube. Mas eu me apresentei pouco. Comecei no programa Calouros Improvisados, nele a gente não ensaiava, os calouros chegavam e cantavam e aí a orquestra acompanhava. Quando eu fui me apresentar virei para os músicos e pedi um tom, Zé do Carmo, que era um dos violonistas da orquestra, se virou para mim e perguntou 'Você toca violão?', e eu 'Eu toco um pouquinho', então ele sugeriu 'Por que você não se acompanha? É melhor, aqui o negócio é improvisado, você fazendo com o violão vai ganhar mais pontos'. Então eu peguei meu violão e cantei, o auditório veio abaixo e eu ganhei o prêmio de vinte mil réis. Ganhei durante todo o mês, foram oitenta mil réis, não tinha emprego que pagasse esse valor. No quinto programa que eu fui, o José Edson, que era o apresentador, disse que eu não poderia mais participar por que o patrocinador falou que programas assim ficavam sem graça. Eu pedi então para ele me ajudar a conseguir uma oportunidade em uma outra atração. Ele conseguiu uma vaga no domingo à noite. Só se apresentavam artistas do casting da rádio e pessoas novas. Nele eu cantei pela primeira vez acompanhado por um piano. Depois dessa apresentação, fui convidado pelo regente da orquestra, Guedes Peixoto, para fazer um teste. Eu sempre digo que ele foi o responsável pela minha vida na música, pois foi ele quem me levou para a Jazz Band Acadêmica e dela eu fui convidado para fazer o elenco da Rádio Jornal.
Além de trabalhar nas rádios, você também passou por alguns canais de televisão. Como foi essa experiência?
Eu participei da inauguração da TV Jornal, da Manchete - aqui eu fiz o primeiro programa da emissora, que era uma homenagem a Gilberto Freyre. Nessa homenagem eu e Capiba cantamos na casa de Freyre. Eu também inaugurei em São Paulo a TV Bandeirantes. Sempre cantando. Hoje em dia, as emissoras só reproduzem os programas do sudeste e as atrações locais não fazem meu gênero, não dá para eu cantar minhas músicas neles.
Como o senhor avalia a música atual?
Que me perdoem os apaixonados por essas músicas, mas nenhuma delas eu cantaria. Talvez se eu escolhesse muito pudesse salvar uma. Mas não canto nem amarrado. E não canto por que em minha opinião elas não prestam. Nós temos bons compositores, bons cantores, mas eles não tocam nas rádios. Quando tocam é as sertanejas, que nem parecem ser sertanejas. Parece que no Brasil inteiro, quando o cantor morre, acaba sua obra. Você vê que os mais jovens não conhecem Orlando Silva, Sílvio Caldas. Roberto Carlos é bom, mas eles são os melhores da música brasileira. Como intérpretes não surgiu nenhum igual a eles e vai ser difícil aparecer. Quando eu cantei no bar O Jogral, em São Paulo, de propriedade do grande compositor Luiz Carlos Paraná, e ele me disse uma vez: 'Nos últimos trinta anos a música brasileira está horrível'. Isso foi há quarenta anos, então já a uns setenta que a música está ruim.
E o frevo?
Você escuta frevos por aí que não têm nada a ver com a música. Bráulio de Castro, Getúlio Cavalcanti fazem alguma coisa boa, mas frevo só toca no carnaval. As músicas novas ninguém conhece por que as rádios não prestam. O frevo de hoje, que me perdoem essa turma que faz ele, não é bom. É cheio de segundas intenções e outros são apenas intenções. E são músicas descartáveis, umas pegam, mas depois do carnaval ninguém mais sabe o que é, pode tocar a vontade que ninguém vai lembrar. No carnaval de 1958 eu gravei Modelo de Verão e até hoje se eu chegar e cantar na rua, todo mundo canta, todo mundo sabe. Música boa não tem idade, música boa fica.
O que podemos esperar do show comemorativo de sessenta anos?
Uma coisa muito boa. Ele vem sendo muito bem divulgado, o teatro está praticamente todo vendido e eu acho um 'pipoco'. Para mim o público do Recife parece não prestigiar um artista da terra, mas eu fiquei muito feliz. A última vez que vi o Santa Isabel cheio eu fiquei arrepiado, foi em uma homenagem prestada a Capiba, e tomara que o meu ao menos pareça com aquilo.
E as participações especiais?
Vai ter o Claudionor Germano, Nonô Germano, meu filho Zé Baracho. Onilda Figueiredo, que é do meu tempo de rádio e canta muito. Fátima de Castro também participa. Eu não escolhi pessoas que são cartazes, eu escolhi pessoas que cantam de verdade, músicas boas. Convidei alguns amigos meus que, infelizmente, adoeceram e não vão poder participar. A pianista Eliana Caldas vai tocar músicas de Capiba ao piano e mais algumas pessoas também estarão lá. Mas vai ser um espetáculo muito bonito.
Serviço
Sessenta anos de Expedito Baracho
Teatro de Santa Isabel (Praça da República, S/N - Santo Antônio, Recife)
Qui (1º) | 20h
R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia entrada)
81 3082 2830