Todo herói existe para representar alguma coisa. Ele luta, ela se esforça, ele se sacrifica, mas sempre com algum objetivo maior. Isso é o que faz dele um herói, e via de regra isso transparece na sua aparência. Mesmo personagens que não utilizem as tradicionais roupas coloridas coladas, ainda assim constroem uma identidade visual com seu interior. É o caso de John Constantine que se veste com terno e sobretudo. Mas o tema dessa coluna reside na roupa dos heróis, então vamos lá!
1) Super-Homem e Capitão América
"The Americam Way of Life" ou "o estilo de vida americano" é o que inspira a DC Comics na criação do Super-Homem, em 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, um momento em que as pressões, o medo e a desconfiança faziam o mundo perder as esperanças. Assim nasce o personagem que vem de uma terra muito distante (Krypton, a anos-luz de distância), mas que é criado nos valores mais íntimos da América, e não à toa no interior do meio-oeste dos Estados Unidos. O resultado é um ser tão virtuoso em espírito e caráter quanto poderoso fisicamente (e olha que ele poderia destruir a Lua no murro se quisesse).
Devido a esses valores e à sua criação já foi afirmado várias vezes, embora fosse bastante nítido, que a bandeira americana foi a base para o seu uniforme, pelo menos nas cores. Isso já foi dito pelos seus criadores e desenhistas da editora, mas também já foi dito nos quadrinhos. Até menso na série de Tv "As Aventuras de Lois e Clark" Martha Kent afirmou isso para o nosso herói.
Um outro exemplo inspirado na mesma bandeira foi criado pela editora Marvel como uma representação do espírito americano no ano de 1941, durante a segunda guerra mundial. Para criar a identificação precisa com o Tio Sam e suas ideias o símbolo mais claro seria a bandeira americana e por isso o padrão de listras vermelhas e brancas, a cor azul e as estrelas são a base. Como se fosse necessário ainda temos o "A" de América na testa.
Mas diferente do Super-Homem, este herói era um soldado que nasce durante a guerra, para defender o país. Não é por acaso que ele tem um escudo nas mãos, pois ele vem proteger e dar segurança a um país... e mais do que isso, a bandeira e seus ideais são o que o protegem, acima de tudo.
2) Daredevil (o Demolidor)
Um personagem muito complexo da Marvel, Matthew Murdock é lançado em 1964 e assume uma gama de significado diferente... é de uma classe de heróis suburbanos que não defende o mundo das grandes forças do mal, mas que luta para proteger sua vizinhança do crime e das drogas. Ele nasce para representar os ideais do cidadão comum. Seu nome no Brasil recebeu uma tradução fraca para coincidir com as duas letras D em seu peito, chamado "DemoliDor", quando no original "DareDevil", ou "Diabo Intrépido", que vem de um tipo de artista circense que desafia a morte em saltos perigosos e façanhas arriscadas. Essa é de fato a sua virtude: o "podre diabo" que se arrisca e desafia a morte sem nada mais do que a sua coragem.
Em uma cena marcante de sua história, o Demolidor encontra o Capitão América na ponte do Brooklin e após cuidarem de uns criminosos bateram um papo. O Capitão afirma que ele se reveste da bandeira e que a América é o que ele representa e pergunta ao Demolidor o que ELE representa com seus chifres e a roupa vermelha... Murdock não sabe o que responder, mas isso o faz refletir sobre quem ele é e o que ele faz... Mas não muda a sua essência torturada.
3) Emma Frost, a Rainha Branca
O início dessa personagem tão carismática é como uma vilã. Emma Grace Frost aparece pela primeira vez como parte do grupo de vilões: o Clube do Inferno. Antes mesmo de ser uma vilã na luta eterna entre facções mutantes, ela lia a mente das pessoas para conseguir sucesso financeiro e assim ficou milionária. A personagem demonstra pouco ou nenhum senso de moral e defende conscientemente a objectificação do seu próprio corpo. Ela elege a cor branca para se representar como símbolo de pureza e de perfeição, embora o formato de suas vestes indiquem na direção do pecado e dos favores sexuais.
Com o tempo, Emma acaba se aliando aos X-men, se torna a diretora da academia de treinamento da "Geração X" (os alunos mais jovens dos X-Men), depois se torna membro do grupo principal, tem um romance com Ciclope, e depois que ele fica viúvo passam a viver juntos. E embora ela não abra mão das roupas brancas e provocantes, ela acrescenta o "X" ao uniforme, representando que ela então passava a defender a causa de Xavier.
Em mais de um momento de sua carreira, porém, Emma alterna as cores que veste para o preto. Uma das ocasiões foi quando ela se uniu aos X-Men Sombrios, quando a cor preta representava a unidade do grupo (como comentamos no texto anterior). Mas mais importante, a cor preta representava que a própria Emma se sentia corrompida e que ela lutava por algo em que nem ela mesma acreditava. A outra ocasião foi quando ela, depois de ter sido hospedeira da entidade cósmica chamada de Fênix, perdeu o controle de seus poderes, o que a deixou fraca e vulnerável. Nos dois casos ela havia perdido a sua perfeição e a sua pureza.
E caso você esteja se perguntando que imagem é aquele lá em cima, foi uma releitura dos heróis da Liga da Justiça para um cenário medieval no estilo da távola redonda do Rei Arthur. E é na idade média, e mesmo na antiguidade que encontramos a ideia dos brasões. O estandarte que abria o caminho dos exércitos e ornamentava as armaduras dos guerreiros era o símbolo de suas famílias, mas a construção desses brasões vinha de seus valores. A virtude que define essa família estaria estampada em seu brasão, assim como a marca de um super-herói... afinal é pra isso que serve a roupa espalhafatosa!