Todo processo de impeachment deixa sequelas e cria arestas significativas entre os principais atores do país. Em 1992 com Fernando Collor e Itamar Franco não foi diferente do que estamos observando entre Dilma Rousseff e Michel Temer. É mais do que provável que até o dia 15 de maio a presidente Dilma Rousseff perca o seu mandato dando lugar a Michel Temer, que terá a missão de quebrar um ciclo negativo que se instaurou no país no governo Dilma.
O primeiro passo é fazer diferente do que Dilma fez, primeiro na construção do seu ministério, permitindo entre 20 e 25 pastas, cujos ocupantes sejam representativos politicamente mas sobretudo tenham respeito da sociedade. Temer não pode incorrer no erro de Dilma de lotear ministérios dando lugar a políticos sem a menor estatura para o cargo. Esse é um primeiro passo, mas não o único.
Um governante precisa se impor em relação aos seus governados, já dizia Maquiavel que é preferível ser temido do que amado, na política isso cai como uma luva. Se Temer quiser mesmo ser um bom presidente precisará respeitar o Congresso mas exercendo o cargo de forma que venha a se impor como o presidente. Os congressistas estarão ao lado de Temer por osmose se ele fizer um governo digno de respeito dos parlamentares. Caso Temer aceite fazer concessões aos políticos por medo de perder apoio ou querer a todo custo ter uma maioria expressiva que na hora H precisará distribuir cargos como Dilma fazia, é evidente que o seu governo terá o mesmo destino da sua antecessora.
No âmbito da Câmara dos Deputados, é fundamental que tenha na presidência um político que do ponto de vista da competência no que diz respeito ao regimento e à condução da Câmara seja muito parecido com Eduardo Cunha, mas que no âmbito da ética e da probidade seja diametralmente oposto ao atual presidente. Um nome que é palatável aos deputados federais pode ser o deputado Rogério Rosso (PSD/DF), que conduziu com maestria a comissão do impeachment, e seria um presidente à altura da Câmara dos Deputados. Isso faria com que a agenda negativa de Cunha não contaminasse o início do governo Temer.
No que diz respeito às reformas, é imprescindível que Temer aproveite o momento para apresentar as reformas política, previdenciária e tributária, dando ênfase no pacto federativo. Isso fará com o Planalto emita uma sinalização aos prefeitos e governadores de que está disposto a encontrar uma saída para a quebradeira geral dos municípios e dos estados que foi patrocinada por Dilma Rousseff. Essas ações terão peso significativo para que os primeiros seis meses do seu governo possam ser geridos com a garantia necessária de que não haveria atropelos.
Passado esse período, se Michel Temer conseguir lograr êxito em parte significativa destes pontos, ele inicia 2017 com uma perspectiva mais positiva, onde terá condições de implementar ações mais efetivas que possam retomar o crescimento da economia e a credibilidade do país. Experiência ele tem de sobra para mudar o atual panorama de quebradeira e instabilidade que o governo Dilma deixou como legado.
Bolsonaro – O deputado Jair Bolsonaro (PSC/RJ) cometeu o seu maior equívoco desde que se tornou presidenciável no último domingo ao enaltecer o torturador Brilhante Ustra, responsável por torturar Dilma Rousseff no período do regime militar. Bolsonaro deu mostras de que é um ser vazio e sem qualquer proposta para se tornar alternativa para o país. Na hora de bater o pênalti e fazer um belo gol, preferiu chutar a bola pra fora do estádio.
Economia – O vice-presidente Michel Temer pode formar a sua equipe econômica da seguinte maneira: José Serra (Planejamento), Henrique Meirelles (Fazenda), Paulo Skaf (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e Murilo Portugal (Banco Central). Armínio Fraga declinou do cargo de ministro da Fazenda, mas se comprometeu a contribuir informalmente com a equipe econômica do governo Temer.
Vice – O deputado federal Daniel Coelho anunciou ontem o empresário Sérgio Bivar como companheiro de chapa na sua pré-candidatura a prefeito do Recife pelo PSDB. Setores da política avaliam que o anúncio foi precipitado e poderá dificultar a prospecção de legendas para formar uma aliança em torno de uma candidatura competitiva. Sergio é filho de Luciano Bivar, presidente nacional do PSL.
Cassação – Diferentemente de Jair Bolsonaro que emitiu uma opinião condenável, porém amparada pelo direito inviolável civil e penalmente por opiniões, palavras e votos dos parlamentares, o deputado Jean Wyllys (PSOL) ao cuspir em Bolsonaro dentro do plenário pode ser processado por quebra de decoro parlamentar e consequentemente ter cassado o seu mandato de deputado federal.
RÁPIDAS
Aline Mariano – Recém filiada ao PMDB, a vereadora Aline Mariano volta e meia tem seu nome ventilado para compor a vice na chapa encabeçada pelo prefeito Geraldo Julio, que tentará a reeleição em outubro. Porém, caso o posto seja mesmo destinado ao PMDB, existem dois nomes na fila: o vereador Jayme Asfora e o empresário Fernando Dueire, amigo pessoal do deputado Jarbas Vasconcelos.
Pedaladas – O deputado Edilson Silva (PSOL) afirmou que o governador Paulo Câmara havia praticado pedaladas como Dilma Rousseff, porém diferentemente de Dilma que é controladora dos bancos públicos e por isso configurou-se num empréstimo para pagamento dos programas sociais, o que é vedado por Lei, o governador Paulo Câmara não é controlador de nenhum banco público, pois o Bandepe foi vendido há muitos anos. Portanto, não houve pedalada de Paulo Câmara.
Inocente quer saber – O Planalto já reconheceu que não tem mais jeito?