Quando um minuto faz toda a diferença

Eduardo Cavalcanti, | qua, 31/12/2014 - 10:50
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Sabe quando você tem um dia muito corrido e cronometra cada segundo para dar conta de tudo? Imagine então se o último compromisso com hora marcada é uma boa e merecida sessão de cinema. A última do ano, diga-se de passagem. Pois bem, depois de várias tentativas, mais de um mês sem conseguir chegar ao cinema, hoje parece que tudo vai dar certo: a babá vai ficar com as crianças, você sai do trabalho na hora, o trânsito ajuda e a companhia maravilhosa já está te esperando com um perfume irresistível... Até a fila parece pequena: cinco pessoas na sua frente, pois um grupo acabara de sair da fila, e três caixas abertos.

Olha pro relógio e faz os cálculos: são 18h58. O filme está marcado para as 19h. Apertado!? Mas tem a tolerância. Até dez minutos. Ótimo, vai dar tempo. 18h59 e agora só faltam três pessoas. Duas, ótimo! Tudo vai dar certo e vamos finalmente ver a conclusão da saga de Bilbo Bolseiro e cia. 19h. Estamos na tolerância. Tudo vai dar certo. Falta pouco. O cliente tá saindo. O próximo janta com o dinheiro na mão para agilizar. Verbo nossa angústia parece ter se apressado em decidir. O cliente vai sair, tá saindo, vai sair, já pegou o ingresso, já recebeu o canhoto do cartão, já fechou a bolsa, já tá saindo... Mas já não devia ter saído?

É quando se percebe que tudo parecia fácil demais. A atendente resolve deixar o caixa. Ela devia ter algo urgente para fazer, pois ignorou o apelo do próximo cliente. Mas ainda dá tempo, tem dois caixas e só mais um cliente na minha frente. Quer dizer.... Há duas prioridades chegando. Hummm.... Oito minutos. Um caixa dá conta. Dá, dá sim, eu sei que dá. E o cliente já escolheu o lugar, tá digitando a senha do cartão. Não, ele já retirou o cartão. Ótimo, vai dar tempo. Mas, porque ele ainda não recebeu o cartão? Ah, tudo bem, a atendente precisou ajudar a colega do caixa de prioridade. Tudo bem, tudo bem, é só ter calma. 19h04. Vai dar tempo.

19h05. O caixa de prioridade chama o próximo. Um casal muito simpático de idosos chama a minha atenção. Relaxei. Que bom que eles ainda vão juntos ao cinema, como namorados. Isso é bom! 19h06 - isso não é bom.

A atendente volta ao caixa, entrega o ingresso. A próxima cliente, vendo meu desespero, já se aproxima, antes mesmo de ser chamada. Já diz o filme. 19h07 O casal de idosos dá um beijinho e sai abraçado. Próximo! - mas era ainda no caixa de prioridade.

O cartaz da próxima Ópera em exibição no cinema chama a minha atenção no monitor. O horário, no canto superior direito, também. 19h08. Pronto, acho que vai dar tempo. A cliente já tinha dado o dinheiro e tava recebendo o troco. Tudo certo. Vai dar tempo. Ela começa a sair e a atendente diz: - "seu ingresso, esqueceu?" E entrega o ingresso. Elas riem e comentam algo sobre a distração.

Já estou no encalço. 19h09. O hobbit, por favor. Duas entradas. 19h10.

- Senhor.... Senhor.... O sistema travou. Não posso mais vender ingresso para esta sessão. - como!? Eu fiz tudo certo, contei cada segundo... Ainda assim, a resposta foi que o minuto passou e, mesmo a sala estando praticamente vazia, a venda não seria possível.

...

Rapidamente minha vista procura a próxima sessão no painel. 22h. A babá não fica até tão tarde... E agora? Ir pra casa? Desistir? Não, de forma alguma. É a última sessão de cinema do ano. O que se encaixa? Os olhos vagam, procuram, os neurônios processam, a atendente do terceiro guichê volta e chama o último cliente da fila. A do caixa de prioridade entrega o ingresso ao último cliente.

Sabe aquela sensação de Truman Burbank em o show de Truman quando começa a descobrir que nada é por acaso?

Pois bem, o relógio agora marcava 21h e eu e minha esposa já estávamos saindo do cinema. O filme? Não mais uma obra cinematográfica baseada em JRR Tolkien e sim um novo exemplar da comédia brasileira estrelado por Leandro Hassum (antes da cirurgia) e por Marcius Melhem - Os Caras de Pau em O Misterioso Roubo do Anel. O filme definitivamente não é muito ruim. Vi muita gente rindo na sala de cinema, até mesmo crianças (o filme tem classificação 10 anos), mas para quem estava ansioso para ver o desfecho da aventura de Bilbo Bolseiro um minuto faz toda a diferença.

Mas nada de desistir. 2015 está chegando e tenho certeza que será cinematográfico. Feliz Ano Novo para todos!

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