Tumulto deixa mais de 700 mortos em peregrinação a Meca
De acordo com uma fonte do ministério da Saúde, a correria provocada por um movimento pânico aconteceu no primeiro dia do Eid al-Adha, durante o ritual de apedrejamento de satã em Mina, que consiste em lançar pedras contra as colunas que representam o mal
| qui, 24/09/2015 - 14:34
Pelo menos 717 pessoas morreram nesta quinta-feira e 805 ficaram feridas em um tumulto em Mina, perto de Meca, durante a peregrinação anual dos muçulmanos, na segunda tragédia a atingir os fiéis em menos de duas semanas na região.
De acordo com uma fonte do ministério da Saúde, a correria provocada por um movimento pânico aconteceu no primeiro dia do Eid al-Adha, durante o ritual de apedrejamento de satã em Mina, que consiste em lançar pedras contra as colunas que representam o mal.
A tragédia aconteceu perto de uma das colunas quando várias pessoas que deixavam o local ficaram diante de um grande grupo de peregrinos que desejava ter acesso à mesma área.
A Defesa Civil revisou o balanço da tragédia diversas vezes e o mais recente cita 717 mortos e 805 feridos. As autoridades anunciaram que as vítimas são de várias nacionalidades.
As equipes de emergência tentavam retirar os feridos e os corpos das vítimas fatais, diante dos olhares de peregrinos atônitos.
Os fiéis têm acesso à área das pilastras por túneis e vias elevadas e, nos últimos anos, as autoridades realizaram obras importantes para facilitar o deslocamento das pessoas e evitar acidentes como o desta quinta-feira.
O Irã anunciou que pelo menos 43 cidadãos do país faleceram na tragédia e culpou as autoridades sauditas pelo tumulto.
"Por motivos desconhecidos fecharam um acesso ao local no qual os fiéis cumprem o ritual de apedrejamento de satã", afirmou o diretor da organização iraniana do hajj (peregrinação), Said Ohadi.
"Foi isto o que provocou este trágico incidente", disse à televisão estatal iraniana.
"O incidente de hoje mostra a má gestão e uma falta de atenção séria para a segurança dos peregrinos. Não há outra explicação. As autoridades sauditas deveriam ser consideradas responsáveis".
Já o ministro saudita da Saúde atribuiu a tragédia na cidade de Mina à falta de disciplina dos peregrinos, que, segundo ele, ignoraram as instruções de comportamento durante o hajj.
"Se os peregrinos tivessem seguido as instruções, teria sido evitado esse tipo de acidente", declarou Khaled al-Faleh à televisão pública El-Ekhbariya.
Corpos inertes
Imagens divulgadas na internet mostram vários corpos inertes no chão e objetos pessoais, como os guardas-chuvas que os peregrinos usam para a proteção do sol.
As autoridades decidiram fechar os acessos ao local da tragédia, que aconteceu no cruzamento de duas vias que haviam sido construídas para facilitar o deslocamento dos fiéis.
A Arábia Saudita mobilizou 100.000 policiais para garantir a segurança durante a peregrinação, depois que, no dia 11 de setembro, uma grua desabou na Grande Mesquita de Meca e matou 109 pessoas, além de ter deixado mais de 400 feridos.
O acidente anterior durante a peregrinão aconteceu em 2006. No dia 6 de janeiro daquele ano, 76 pessoas morreram no desabamento de um hotel em Meca. Seis dias depois, 364 peregrinos faleceram em outro tumulto durante o ritual de apedrejamento das pilastras de satã, em Mina.
Após o ritual, que pode durar entre dois e três dias, os peregrinos concluem o hajj com as cerimônias ao redor da Kaaba, a construção com forma de cubo no centro da Grande Mesquita de Meca, para a qual os muçulmanos se dirigem durante a oração.
O vale de Mina fica a poucos quilômetros de Meca, o principal local sagrado do islã.
Quase 1,5 milhão de muçulmanos de todo o mundo celebram o Eid al-Adha, a festa do sacrifício.
Antes de seguir para Mina, os peregrinos passaram a noite na planície de Muzdalifa, aos pés do Monte Arafat, para sacrificar um animal em memória de Abraão. De acordo com a tradição, o patriarca esteve a ponto de sacrificar o filho antes da intervenção do arcanjo Gabriel, que propôs o sacrifício de um cordeiro em seu lugar.
Segundo as autoridades sauditas, o hajj, um dos cinco pilares do islã, reuniu 1,4 milhão de pessoas do exterior e quase 600.000 peregrinos que vivem na Arábia Saudita.
Por ocasião da peregrinação, as autoridades anunciaram que estavam em alerta por possíveis atentados, depois que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) atacou as forças de segurança e várias mesquitas xiitas na Arábia Saudita nos últimos meses.
Também haviam sido mobilizados muitos médicos e enfermeiros para enfrentar uma possível epidemia de coronavírus MERS, do qual a Arábia Saudita é um dos principais focos no mundo.