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O governo etíope assegurou nesta segunda-feira (22) que Feyisa Lilesa, o maratonista e medalhista olímpico que protestou nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 contra a política de Addis Abeba, não será punido se voltar para o País, informou a rádio estatal Fana. No domingo (21) de manhã, o atleta, prata na maratona masculina, realizou um protesto político ao cruzar a linha de chegada neste domingo, cruzando os braços, como se estivessem atados, em defesa da etnia Oromia, cujas manifestações recentes foram reprimidas com violência pelo governo.

"Realizei este gesto pela atitude do governo do meu país contra a etnia Oromia. Tenho familiares na prisão no meu país. Se você falar de democracia te matam. Se eu voltar à Etiópia, talvez me matem ou me prendam", declarou Lilesa, que pertence a esta etnia, durante coletiva de imprensa após a prova. "É muito perigoso se viver no meu país. Talvez eu tenha que ir para outro país. Protestei pelas pessoas em qualquer lugar do mundo que não têm liberdade", acrescentou.

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"Lilesa não terá nenhum problema em razão de seu posicionamento político", afirmou nesta segunda-feira o porta-voz do governo, Getachew Reda, citado pela Fana. "Apesar de expressar seu ponto de vista político nos Jogos Olímpicos, o atleta será acolhido quando retornar para casa, assim como os outros membros da equipe olímpica etíope", acrescentou a mesma fonte.

A Etiópia experimenta atualmente um movimento sem precedentes de contestação anti-governo, que começou na região Oromo (centro) em novembro e que se espalhou nas últimas semanas para a região Amhara (norte). Estes dois grupos étnicos representam cerca de 60% da população da Etiópia e protestam cada vez mais abertamente contra o que eles percebem como um domínio da minoria dos Tigreans, do norte do país, que ocupam posições-chave no governo e nas forças de segurança. A violenta repressão aos protestos já deixou centenas de mortos desde o final de 2015, estimam organizações de direitos humanos.

Os líderes africanos celebraram neste sábado em Addis Abeba os 50 anos de esforços pela unidade do continente, com a esperança de que o atual 'boom' econômico na África permita realizar os sonhos florescidos durante a descolonização e independência.

"Os pais fundadores (da União Africana) se comprometeram em formar a Organização da Unidade Africana no alvorecer da independência, há 50 anos, e é conveniente que nos encontremos hoje, no momento em que a África se recupera", declarou o primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn, anfitrião da cúpula.

"A auto-suficiência e independência econômica evocados por nossos fundadores ainda estão um pouco fora de alcance, e as desigualdades sociais persistem", reconheceu, por sua vez, a presidente da Comissão da UA, a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma.

Os líderes celebraram o nascimento da Organização da Unidade Africana (OUA), em 25 de maio de 1963. Ela foi a primeira instituição pan-africana, criada por 32 chefes de Estado em meio a uma verdadeira onda de descolonização, e ancestral da atual União Africana (UA), dotada desde 2002 de instituições mais ambiciosas.

Enquanto a África é cada vez mais cortejada por seus recursos naturais e seu potencial econômico, as cerimônias de Addis Abeba atraíram muitas personalidades de todo o mundo.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, o secretário de Estado americano, John Kerry, e o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, participaram da cerimônia de abertura.

"A África tem mudado profundamente, o que incita muitos países, como Rússia, China, Brasil, Japão e outros, a investir para aproveitar possibilidades econômicas. Os Estados Unidos estão atrasados neste sentido e devemos mudar esta situação", declarou à imprensa o secretário de Estado americano, John Kerry.

Único chefe de Estado europeu presente, o presidente francês François Hollande, que chegou na parte da tarde, declarou aos jornalistas que "a segurança da África, é uma questão a ser tratada pelos africanos, o que não impede que um país como a França a apoie".

"O terrorismo é uma séria ameaça para a África (...). O que está acontecendo no Níger não é um caso isolado", observou o ministro das Relações Exteriores etíope, Teodros Adhanom, em uma reunião com John Kerry, sobre dois ataques praticados por extremistas islâmicos no norte do Níger.

A prolongada crise política em Madagascar, assim como a situação da segurança na República Democrática do Congo (RDC) e no Sahel, devem dominar a cúpula semestral da UA, prevista para começar domingo após as celebrações.

A China, que está investindo pesadamente na África há anos, foi o único país a receber agradecimentos neste sábado. O chefe de Estado etíope expressou "o seu mais profundo apreço pela China por investir bilhões (...) em infraestrutura para apoiar os nossos esforços".

Cerca de 10.000 convidados são esperados na capital etíope - sede histórica da OUA e da UA - para estas celebrações.

A organização reservou um orçamento de 1,27 milhão para esta abertura, informou o Instituto de Estudos de Segurança (ISS). As comemorações do cinquentenário, que acontecerão ao longo do ano, vão custar cerca de 3 milhões no total, indicou à AFP o vice-presidente da Comissão da UA, Erastus Mwencha.

O coreógrafo sul-africano Somzi Mhlongo, que organizou a abertura e o encerramento da Copa do Mundo de 2010 e da Copa das Nações em 2013 na África do Sul, assegurou ter planejado grandes celebrações.

Cerca de cem bailarinos vão apresentar um programa de uma hora. Entre os músicos convidados, estão o malinense Salif Keita, o congolês Papa Wemba e o grupo de reggae britânico Steel Pulse.

Telões foram instalados por toda Addis Abeba para permitir que as pessoas acompanhem as festividades.

Se o número de guerras está em declínio na África, a situação socioeconômica, também em progresso, continua a ser desigual. Ao longo dos últimos 50 anos, os indicadores de desenvolvimento na África - saúde, educação, mortalidade infantil, crescimento econômico, governança - melhoraram consideravelmente. Alguns destes países registraram os maiores crescimentos econômico no mundo, de acordo com o FMI.

Mas de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, os doze países menos desenvolvidos do mundo estão na África e, entre os 26 países no fim do ranking, apenas um não é africano: o Afeganistão.

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