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É adorável conhecer a “eleval mocinha” do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao entrar no primeiro elevador do prédio, da direita para a esquerda, você pode se surpreender. Nele, a voz inconfundível de locutora de rádio da ascensorista Eveline Monteiro sempre recebe os estudantes e professores com bons presságios: “As portas se abrem automaticamente”. 

Primeira ascensorista mulher do CFCH, Eveline exerce sua função há quatro anos. “Meu sonho era ser aero, aeromoça, mas eu era muito pobre. Não tive condições”, comenta. Formada no magistério, chegou a ser professora do Programa Reeducacional Infantil (PET) e auxiliar de enfermagem. “Depois fiquei desempregada, que foi quando tive o privilégio de trabalhar aqui. Escolhi o “Céfe” (CFCH), eu amo esse lugar, as pessoas, o aconchego. No sobe e desce realizei meu sonho. Eu virei ‘eleval mocinha’”, gargalha histriônica.

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Sem ter feito uma viagem sequer de avião em toda sua vida, Eveline aplica o “speech” das comissárias de bordo em seu elevador. Causa furor nos alunos ao traduzir a si mesma para o inglês, espanhol, francês e até mandarim. Anuncia as estações (andares), o tipo de tráfego (expresso, se ninguém chamar o elevador no caminho) e o fechamento e abertura automática das portas. “Quem me ensinou as frases em francês foi o professor Castilho, de geografia. Outro, me passou um pouco de mandarim. No momento, não tenho condições de fazer curso de idiomas, mas meu sonho agora é ser poliglota, porque vem muitas pessoas de longe para o meu elevador e quero me aperfeiçoar”, conta. 

Aprender libras também está nos planos de Eveline. Quem conta é ela mesma, já hábil na execução gestual de algumas frases. “A gente não pode pensar só na gente, tem que pensar no próximo. Eu como ascensorista, como ‘eleval mocinha’ do prédio, tenho que pensar em todos”, explica. No elevador, a ascensorista aprendeu mais do que línguas. “Sei lidar com todo mundo. Só nesse cantinho, faço intercâmbio. Chega aluno da frança, professor de fora e aprendo um pouquinho de tudo”, completa.

Querida pelos alunos, Eveline é constantemente homenageada por turmas do CFCH. “Três vezes a turma de psicologia, além de geografia, psicologia e ciências sociais. Agora, recebi um convite para ser representante da turma de museologia. Minha casa é cheia de placas”, comemora. Aluno do curso de pedagogia, Marcos André elogia a ascensorista: “Ela arrasa. É um sonho. Por ter tanta empatia, se colocar no lugar do outro e essa energia que é dela. Você se sente bem no lugar”. 

Heroína pouco convencional

A boa relação com os alunos transformou a ascensorista em uma grande confidente. “Tem gente que chega chorando, querendo um aconchego. Outros têm medo de elevador. E digo: ‘venha pra cá, minha linda, meu lindo, não vai acontecer nada’. Dou aquela força", conta. Sua lembrança mais forte, contudo, é outra.

“Uma moça entrou muito nervosa, angustiada, dizendo: ‘tia, vou morrer hoje. Me leve para o décimo quarto’. Ela queria se suicidar”, lembra. Eveline se recusou a apertar o botão. “Você não vai pra canto nenhum. Uma moça bonita, inteligente, uma menina do bem. O que é isso, menina? Não, bora sentar aqui. Aí comecei a conversar com ela e disse aquelas palavras que saíram do fundo da minha alma. Eu disse, respire bem forte. Diga, o meu Deus é forte”.  Eveline guarda a conversa na memória. A moça abraçou a ascensorista que mal conhecia e desistiu da ideia. 

Contente, Eveline não se vê em outro emprego. Nem em outro lugar que não seja o CFCH. “A gente não pode colocar tristeza no coração, a gente não pode guardar mágoa, guardar besteira, que a gente envelhece e morre rápido. A maravilha está no simples. Só é você saber apreciar, porque aqui é passageiro, nada é eterno. O que importa é subir e descer”, sorri. Assista ao vídeo a seguir:

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