Tópicos | Baía da Ilha Grande

De cada dez vazamentos de óleo ocorridos na Baía da Ilha Grande, no Rio de Janeiro, um dos trechos mais nobres do litoral brasileiro, apenas um costuma ter a fonte de despejo identificada. E a identificação não é resultado de investigações dos órgãos ambientais. O próprio responsável pelo derramamento, embarcação ou empresa, toma a iniciativa de relatar o fato ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou à Marinha. Na maioria das vezes, os casos não são sequer contabilizados.

A estimativa é do escritório do Ibama em Angra dos Reis, onde na sexta-feira passada o navio-tanque "Cidade de São Paulo" despejou ao mar uma carga de óleo combustível avaliada inicialmente em cerca de 10 mil litros. A embarcação seguia para Angra, onde seria transformada em navio-plataforma para utilização na Bacia de Santos pela Petrobras a partir de 2013.

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Parte do óleo chegou ontem à praia do Bonfim, a 2,5 km do centro de Angra, manchando a areia e o costão de pedra. Dona da embarcação, a Modec, empresa mundial de prestação de serviços à indústria do petróleo, recolheu o óleo no mesmo dia, mas na manhã de hoje o cascalho, conchas, folhas e gravetos na linha de arrebentação continuavam enegrecidos. O óleo também sujou as boias de sinalização da praia, que, por ser tranquila, de poucas ondas, é um atracadouro natural de barcos de pesca e passeio.

Para o chefe do Ibama em Angra dos Reis, José Augusto Morelli, a grande maioria dos vazamentos de óleo na Baía da Ilha Grande não chega ao conhecimento do órgão, que não tem estrutura para fiscalizar a circulação marítima na região. O escritório tem cinco funcionários, entre eles Morelli, e uma só lancha. Nenhum dos cinco tem formação profissional dirigida ao setor de petróleo.

"Os problemas de estrutura são muito graves. O quadro é muito reduzido. Os recursos são mínimos. A lancha é antiga, não temos recursos para os reparos necessários. Mas não adianta ter lancha sem pessoal. A equipe tem que estar disponível para seguir a qualquer momento para o mar. Neste fim de semana não havia ninguém de plantão. Eu, como chefe do escritório, fiquei com o telefone ligado", disse ele.

Com a retomada da indústria naval, o crescimento econômico do país e a descoberta de grandes reservatórios de petróleo na camada pré-sal, aumentou a circulação de grandes embarcações e de plataformas pelas baías da Ilha Grande e de Sepetiba, onde estão localizados portos importantes, estaleiros, complexos industriais e um terminal da Petrobras. Por mês, só na baía da Ilha Grande, passam cerca de 40 embarcações vinculadas à indústria petrolífera. Há cinco anos, não chegavam a dez.

"Os vazamentos não região não são novidade. Você anda de barco e vê manchas de óleo, é comum. A frota que circula aqui é gigantesca, são milhares de embarcações, todas elas com potencial de soltar óleo no mar", lamentou Morelli. O superintendente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) na Baía da Ilha Grande, Júlio Avelar, negou a informação prestada durante o fim de semana pelo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, de que a Modec já foi multada em R$ 10 milhões. Segundo ele, a quantia refere-se ao valor máximo da multa. A Secretaria do Ambiente informou que o valor da multa citado por Minc poderá aumentar ou diminuir de acordo com as conclusões dos técnicos do Inea na Baía da Ilha Grande.

"Ainda não aconteceu a multa. Estamos elaborando um relatório. Primeiramente temos que fazer a caracterização dos danos. Em cima dos danos, elaboramos a multa", afirmou o dirigente do Inea, que também enfrenta o problema da falta de pessoal. Para Avelar, o quadro de nove analistas especializados em licenciamento e fiscalização em Angra é insuficiente. "O ideal é ter mais cinco pessoas pelo menos. A equipe é pequena frente à demanda. Com a chegada do pré-sal, a tendência é, cada vez mais, aumentar o fluxo de embarcações aqui", complementou.

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