Os constantes protestos das últimas semanas em países como Equador, Argentina, Chile, Bolívia e os mais recentes na Colômbia, mostraram ao mundo a revolta das populações sul-americanas. Protegidos pelas montanhas da Cordilheira dos Andes, os povos indígenas da região lutam para manter seu espaço, seus costumes e os símbolos da cultura enraizada no continente desde o Império Inca.
Um destes símbolos é a wiphala, uma bandeira quadriculada composta por sete cores, que chamou a atenção ao ser utilizada nas manifestações dos países andinos. Simbolizando a forma de pensar a existência (ar, terra e subsolo) da população indígena dos Andes, a representação em cores une a Terra na cor vermelha, a sociedade e a cultura em laranja, o espaço cósmico em tom de azul, as riquezas naturais em verde, a ideologia política na cor violeta, a energia e a força do povo em amarelo, e o tempo e a intelectualidade na cor branca.
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Na Bolívia, por exemplo, o primeiro mandato do ex-presidente Evo Morales, da etnia aimará, transformou a wiphala em símbolo nacional. De acordo com o site do Ministério da Defesa boliviano as cores, quando vistas juntas, "organizam a sociedade comunitária e harmônica do Andes".
Para o professor do curso de Comunicação Social da Universidade Guarulhos (UNG), Inácio Rodrigues de Oliveira, a análise por meio da visão semiótica (estudo dos símbolos) da wiphala reflete ao conceito de união. "A wiphala se comporta como um qualisigno, um signo com qualidade e significação. Nela há vários quadrados dentro de um quadrado maior que se torna um englobante e alia os demais como se tivesse algo maior para unir todos os outros", explica.
Ainda segundo Oliveira, além de uma ideia de paz, a junção dos quadrados do mesmo tamanho e de cores diferentes representa a ligação de fatores divergentes que são parte da mesma cultura e identidade. "Os quadrados são de várias cores e do mesmo tamanho, portanto essa ideia de igualdade, de diversidade, representa a união de coisas distintas", completa.
Mesmo com algumas histórias de que a bandeira possa ter sido confeccionada por habitantes do continente antes da chegada dos europeus, no século XV, a wiphala virou um marco popular nas mãos de líderes camponeses andinos. Ainda na Bolívia, na década de 1970, o símbolo ilustrou a aliança dos habitantes do campo na busca pela recuperação da identidade política dos aimarás que, junto com a etnia quéchua, forma grande parte da população composta por cerca de 36 etnias indígenas do país. Estima-se que dos 11,5 milhões de bolivianos 1,8 milhão sejam de origem indígena.