“Dar sumiço ao corpo era apenas uma das maneiras de esconder a verdade”. Esse foi um trecho da declaração do coordenador da Comissão da Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), Fernando Coelho, emitida durante a coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (13). O evento ocorreu na Sede da Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos e na ocasião foram reveladas informações sobre o local de sepultamento e atestado de óbito de Anatália Melo Alves. Ela pertencia ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e morreu em 1973.
Depois de 40 anos após o falecimento de Anatália Melo, a CEMVDHC mostrou fatos até então desconhecidos tanto pela sociedade, quanto pelos familiares da vítima. “Este foi um importantíssimo passo para que, mais na frente, a CEMVDHC possa comprovar que Anatália foi assassinada, vítima de tortura. Dar sumiço ao corpo era apenas uma das maneiras de esconder a verdade. O atestado aponta como causa da morte asfixia por enforcamento. Trata-se de uma expressão ambígua que permite interpretação equivocada do que de fato aconteceu. Agora, a partir destas pistas, estamos mais próximos de esclarecer este caso”, disse Fernando Coelho.
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De acordo com o marido de Anatália Alves que também esteve presente na coletiva dessa quinta-feira, Luiz Alves Neto a companheira foi algemada, submetida a torturas violentíssimas, que teriam sido praticadas por quatro agentes. “Eu ouvia os gemidos dela gritando por mim. Eu só podia dizer: canalhas! Bandidos! E chorar. Um companheiro me disse que Anatália havia sido estuprada por “Miranda” e mais quatro agentes”. Ele disse ainda que antes do ocorrido chegou a ouvir uma pancadaria, mas não sabia de que se tratava. “Fui chamado por um policial para ver a minha companheira morta. Toda a imprensa estava lá. Denunciei que a repressão matou a minha mulher. O corpo estava estendido no chão”, relembrou Alves.
Caso Anatália – Ela pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e morreu aos 28 anos de idade, no dia 22 de janeiro de 1973. O corpo foi encontrado parcialmente carbonizado na cela do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS - Recife/PE). Ela teria sido vítima de torturas físicas e psicológicas (Prontuário DOPS – PE, nº 19845). A primeira versão apontada foi de suicídio. No ofício n0 21, dirigido à Diretoria do Instituto de Polícia Técnica, assinado pelo delegado de Segurança Social, Redivaldo Oliveira Acioly, a motivação: “...suicidado-se, usando para isto, um pedaço de couro, em forma de “tira”, além de haver ateado fogo em suas vestes. Solicito as providências necessárias no sentido de ser procedida a perícia no local”, diz o documento.
Apesar da causa da morte ter sido declarada na época como suicídio, a Comissão da Verdade Dom Hélder Câmara descobriu através de laudo pericial que não havia objetos que pudessem provocar fogo na cela, nem tão pouco o pedaço de couro que dizem que ela usou para se amarra tinha o tamanho suficiente para que ela cometesse o ato suicida.
Também foram relatados pela CEMVDHC que o corpo de Anatália Melo foi enterrado no cemitério de Santo Amaro, e após dois anos os restos mortais foi entregue a família numa urna lacrada e que jamais deveria ser aberto. O que a comissão quer descobrir agora, é quem exonerou os restos mortais da vítima, qual cova ela estava enterrada e se o material entregue aos parentes é mesmo dela, por isso, farão um exame de DNA.
Outra análise que será feito pela Comissão da Verdade é em relação aos documentos sobre a morte da comunista divulgados na época, como o atestado de obtido, por exemplo.