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Mais de 260 milhões de cristãos ortodoxos celebram neste domingo (19) a Páscoa em condições excepcionais, pois as autoridades pediram às pessoas que permaneçam em casa - embora em algumas áreas estivessem programadas festividades com normalidade.

Em um discurso, o patriarca russo Kirill destacou "a terrível doença que afeta o nosso povo". A igreja está vazia, mas "estamos juntos, uma grande família de fiéis ortodoxos", disse Kirill.

O presidente russo, Vladimir Putin, não compareceu a uma missa, mas visitou a capela em sua residência na região de Moscou.

Os ortodoxos, que representam o terceiro braço mais importante do cristianismo em número de fiéis, celebram a ressurreição de Cristo uma semana depois dos católicos e protestantes, que têm outro calendário.

No domingo passado, as celebrações da Páscoa provocaram cenas inéditas, com locais de culto desertos, como a praça de São Pedro do Vaticano.

Este foi mais um dos contratempos históricos provocados pelo novo coronavírus, que já matou mais de 160.000 pessoas em todo o mundo e obrigou metade da humanidade a permanecer em confinamento.

Para impedir a propagação da pandemia, Kirill, líder do Patriarcado de Moscou, que afirma ser o o que tem mais fiéis no mundo (150 milhões), recomendou que as cerimônias fossem acompanhadas de casa.

A Rússia registra quase 37.000 casos do coronavírus e mais de 300 mortes.

O Patriarcado ecumênico de Constantinopla, na Turquia, também anunciou missas fechadas ao público, mas com transmissão pela internet.

O mesmo acontece no Chipre e na Grécia, na Sérvia, Macedônia do Norte e Egito, onde há mais de 10 milhões de coptas ortodoxos.

Na Geórgia, no entanto, centenas de pessoas compareceram às celebrações, apesar do toque de recolher imposto para frear a propagação do coronavírus.

A Cidade Antiga de Jerusalém, geralmente lotada na Páscoa, estava praticamente deserta no fim de semana em consequência das medidas de confinamento ordenadas por Israel.

Em outros países, no entanto, várias igrejas rejeitaram as medidas de confinamento e prometeram celebrar uma das datas mais importantes do calendário ortodoxo de maneira normal.

Na Bulgária, as igrejas estão abertas, mas deveriam permanecer vazias. Os fiéis que desejam comparecer aos templos devem usar máscaras, além de manter uma distância de segurança.

Na Ucrânia, o presidente Volodimir Zelenski pediu às pessoas que permaneçam em casa, mas a Igreja ortodoxa, vinculada ao Patriarcado de Moscou - uma das três principais do país -, estimulou os fiéis a sair de suas residências.

E isto apesar da igreja ter sido diretamente afetada pela pandemia. Um mosteiro ortodoxo do centro de Kiev se tornou um foco da doença, com quase 100 casos e três monges morto.

Em Belarus acontece o contrário. O metropolita Pavel recomendou aos fiéis que permaneçam confinados, mas o presidente do país, Alexander Lukashenko, que minimizou a epidemia em várias ocasiões, anunciou que compareceria à missa de Páscoa.

Algumas centenas de cristãos de tradição oriental começaram a celebrar o Natal ortodoxo em Belém, na Cisjordânia ocupada, em meio a protestos contra a Igreja ortodoxa grega, acusada de vender terras para Israel.

Um forte esquema de segurança cercava a Praça da Manjedoura em frente à Basílica da Natividade - local onde, segundo a tradição cristã, Jesus nasceu - para impedir os manifestantes de se aproximar da procissão.

Algumas dezenas de pessoas gritaram "traidor" e "espião" na chegada do patriarca ortodoxo grego Teófilo III de Jerusalém, que se dirigiu rapidamente para a basílica, mantendo-se praticamente invisível para a multidão, escondido atrás de membros das forças de segurança palestinas.

A Igreja ortodoxa grega procedeu com a polêmica venda de bens e terras a grupos judeus que trabalham para judaizar a parte oriental ocupada e anexada de Jerusalém.

O município de Belém "decidiu não receber o patriarca Teófilo III", disse à AFP o prefeito da cidade, Anton Salman, que cobra do patriarca "fidelidade à causa do povo palestino", defendendo que Jerusalém "permaneça na família palestina e em terras palestinas".

O patriarcado ortodoxo "não tem o direito (de vender as terras). Essas terras não são do patriarcado, são dos palestinos", afirma Fadi Kheir, um cristão ortodoxo palestino de Belém, que acusa o patriarcado de decisões discriminatórias contra os palestinos.

Os cristãos de tradição oriental celebram o Natal em 7 de janeiro e não em 25 de dezembro por causa das diferenças entre os calendários juliano e gregoriano.

As celebrações rituais ocidentais atraem muito mais peregrinos de todo o mundo em dezembro. Mas a maioria dos cristãos palestinos pratica o culto oriental.

A separação entre os cristãos do Oriente e do Ocidente, que se tornaram ortodoxos e católicos, teve como pano de fundo questões teológicas complexas, mas também profundas divisões políticas.

Desde os primeiros séculos do cristianismo, as diferenças se fizeram sentir entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente: alguns observam o rito greco-bizantino, os demais, o rito latino, e cada um reivindica para si a verdadeira doutrina, em especial sobre a natureza da Trindade (Pai, ​​Filho e Espírito Santo).

Acima de tudo, o Oriente, a terra dos Pais da Igreja, questiona quando o Papa, bispo de Roma, se apresenta como o sucessor de Pedro, o discípulo a quem Jesus confiou a missão de fundar e conduzir sua Igreja.

Em 451, o Concílio de Calcedônia estabeleceu o primado de Roma, mas Constantinopla o interpretou como um primado de honra não dando autoridade ao Papa sobre seus próprios fiéis. Mas, à medida que a autoridade do Papa começou a aparecer como uma ameaça do Ocidente carolíngio frente ao patriarca e ao imperador de Constantinopla, a ruptura tornou-se inevitável.

Em 1054, na Catedral de Santa Sofia de Constantinopla, o cardeal Humberto excomungou o patriarca Miguel I Cerulçário, iniciando o Grande Cisma que perdura até hoje.

Mas foram sobretudo as Cruzadas, temidas pela maioria dos cristãos do Oriente, que materializaram a separação, especialmente quando os cruzados estabeleceram patriarcados latinos paralelos aos patriarcados gregos.

Em 1964, o encontro em Jerusalém entre o papa Paulo VI e Atenágoras, patriarca de Constantinopla, deu início a um processo de reconciliação: as excomunhões mútuas foram levantadas. Os encontros passaram a ser frequentes entre os seus sucessores - Francisco encontrou Bartholomeu em 2014 em Jerusalém e em 2015 em Istambul - e os gestos de boa vontade se multiplicaram.

Desta forma, João Paulo II, em um gesto solene em 2004, devolveu aos ortodoxos as relíquias dos santos Gregório, o Teólogo, e João Crisóstomo, sequestrado em 1204 durante uma das cruzada. Em 1979, uma "comissão mista para o diálogo teológico" foi criada com o objetivo de uma reconciliação entre as duas tradições cristãs que, fora a liturgia, permaneceram bastante próximas.

Mas ao longo dos séculos, foi o patriarcado de Moscou, com pelo menos 130 milhões de seguidores contra menos de 3,5 milhões de Constantinopla, que assumiu a liderança sobre o mundo ortodoxo, formado por 14 Igrejas autocéfalas.

Mas as relações entre Moscou e a Santa Sé permaneceram por muito tempo em ponto morto, com os russos acusando o Vaticano de promover o proselitismo católico em terra ortodoxa.

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