A Anistia Internacional acusou as forças do governo sudanês de realizar vários ataques com armas químicas contra uma zona montanhosa de Darfur, matando vários civis. Em um relatório divulgado nesta quinta-feira (29), a ONG afirma que ao menos 30 ataques com armas químicas foram realizados entre janeiro e setembro nos povoados da região de Djebel Marra, em meio a uma vasta campanha militar contra os rebeldes.
O relatório compreende imagens de crianças com queimaduras químicas, de povoados destruídos e de pessoas deslocadas, além de trechos de entrevistas de mais de 200 sobreviventes e de especialistas em armas químicas.
O documento "reúne provas da utilização repetida, nos últimos oito meses, do que parecem ser armas químicas contra civis (...) pelas forças sudanesas em uma das regiões mais isoladas de Darfur". A Anistia estima que "entre 200 e 250 pessoas podem ter morrido de exposição a agentes químicos, incluindo muitas crianças, talvez a maioria".
A ONG garante que as forças do governo também realizaram "bombardeios contra civis", "assassinatos ilegais de homens, mulheres e crianças"; e "sequestros e violações de mulheres" na região de Djebel Marra.
Estes ataques fazem parte de uma campanha militar contra os rebeldes do Exército de Libertação do Sudão-Abdel Wahid Nour (SLA-AW) e merecem a classificação de "crimes de guerra" e "crimes contra a humanidade".
Darfur é palco de um conflito sangrento desde 2003, quando rebeldes de minorias étnicas pegaram em armas contra o governo em Cartum, controlado pela maioria árabe.
O presidente sudanês, Omar el Bechir, lançou desde então uma violenta repressão e a ONU estima que os combates já deixaram 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados nesta região composta por cinco Estados.
Bechir, acusado pela Corte Penal Internacional por crimes de guerra e contra a humanidade em Darfur, proclamou no início de setembro que a paz havia retornado a Darfur.
Cartum limita o acesso de jornalistas à região, mas uma missão conjunta das Nações Unidas e da União Africana (MINUAD) está em Darfur desde 2007.