Com orações e um minuto de silêncio, os deputados britânicos prestam uma homenagem nesta segunda-feira (18) a seu colega David Amess, morto após ser esfaqueado em seu reduto eleitoral por um homem potencialmente motivado pelo extremismo islâmico, segundo a polícia antiterrorismo.
Amess, de 69 anos, levou múltiplas facadas na última sexta (15) em Leigh-on-Sea, no sudeste da Inglaterra. As motivações da agressão ainda não foram estabelecidas.
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Depois do ataque, seu autor, um britânico de 25 anos de origem somali que havia seguido um programa de luta contra a radicalização, sentou-se e esperou a chegada da polícia.
Desde então, ele está em prisão preventiva, com base na lei antiterrorismo, a qual permite que ele seja interrogado até a próxima sexta-feira (22). Ainda não foi formalmente acusado.
Identificado como Ali Habi Ali pela rede BBC, o jovem havia solicitado um encontro com o deputado, que, naquele dia, recebia seus eleitores em uma pequena igreja.
Dizendo-se traumatizado, seu pai, Harbi Ali Kullane, um ex-conselheiro do primeiro-ministro somali, confirmou ao jornal Sunday Times que seu filho está detido.
O ataque chocou o Reino Unido, que recorda do assassinato, em 2016, da deputada trabalhista Jo Cox. A legisladora pró-europeia de 41 anos foi morta, na rua, por um simpatizante neonazista, uma semana antes da consulta popular sobre o Brexit.
Em sua volta do recesso, o Parlamento fará uma sessão especial, durante a qual todo espectro político da Casa prestará uma homenagem ao colega. Eleito pela primeira vez em 1983, David Amess era respeitado por todos por sua gentileza e por seu trabalho.
"O que realmente o definia é que, mesmo quando ele discordava da gente, havia uma generosidade de espírito", disse o vice-primeiro-ministro Dominic Raab à rádio da BBC.
- Orações e uma procissão -
Na sala da assembleia, Patricia Hillas, capelã da Câmara dos Comuns, fará uma oração especial, por volta das 14h30 locais (10h30 no horário de Brasília). Em seguida, os deputados farão um minuto de silêncio.
Depois disso, o primeiro-ministro Boris Johnson estará à frente de várias horas de homenagens. Na sequência, liderados pelo presidente da Câmara, Lindsay Hoyle, os legisladores farão uma procissão até uma igreja junto à Abadia de Westminster para um serviço memorial de Amess.
"Vai ser muito difícil hoje", tuitou a deputada trabalhista Jess Phillips, explicando que este momento a recorda de seu retorno ao Parlamento após a morte de Cox. Naquele dia, "tentava esconder minhas lágrimas no trem", afirmou.
A família Amess disse não "entender por que essa coisa horrível aconteceu".
"Ninguém deve morrer desta forma, ninguém", lamentaram os familiares de Amess, em uma declaração divulgada pela polícia no domingo (17).
Na mesma nota, na qual descrevem a vítima como um "homem de paz", a família pede, no entanto, que "se deixe o ódio de lado e se trabalhe pela unidade".
"Qualquer que seja sua raça, suas crenças religiosas ou políticas: sejam tolerantes e tentem entender", completou.
A polícia declarou o assassinato um ato terrorista e disse que investiga "uma possível motivação ligada ao extremismo islâmico".
De acordo com um de seus amigos citado pelo jornal The Sun, Ali Habi Ali "se radicalizou completamente na Internet".