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Crescer em meio a adultos com máscaras é nocivo para o desenvolvimento das crianças? Dois anos depois do início da pandemia, abundam as preocupações sobre o efeito das máscaras no aprendizado da linguagem, nas emoções e na sociabilidade dos mais jovens.

Nos Estados Unidos, os pedidos para suspender a obrigatoriedade das máscaras nas escolas se multiplicaram nas últimas semanas, inclusive dentro da comunidade científica, em um momento de redução dos contágios pela covid-19.

Diversos estudos científicos demonstraram que as máscaras têm um impacto na capacidade das crianças de reconhecer rostos e emoções, e que também podem complicar a comunicação verbal. Mas os especialistas continuam divididos sobre os efeitos de longo prazo no desenvolvimento das crianças.

- Linguagem -

Um dos temores diz respeito ao aprendizado da linguagem, que ocorre nos primeiros anos de vida.

As crianças aprendem a falar por meio de interações sociais e olham - entre outras coisas - para a boca dos adultos para decifrar os diferentes fonemas.

Portanto, bloquear esta via poderia ter um efeito desastroso.

"Sim. Você olha para os rostos quando aprende a falar", explicou à AFP Diane Paul, da Associação Americana de Terapeutas da Fala (ASHA). "Mas não é a única maneira".

As crianças também se apoiam na voz, nos movimentos ou nos olhos, prosseguiu Paul, lembrando que as crianças que sofrem de deficiência visual aprendem a falar tão bem quanto as demais. E as máscaras não são usadas o tempo todo, em casa por exemplo.

"Até o momento, não há estudos que determinem o impacto de longo prazo no desenvolvimento da fala e da linguagem das interações entre crianças pequenas e adultos que usam máscaras", disse a especialista. "Mas há estudos que mostram que as crianças podem se sintonizar em (os) outros canais de comunicação e gestos quando a boca do adulto não está visível", acrescentou.

Um estudo de 2021 evidenciou que as crianças pequenas eram capazes de reconhecer palavras únicas através de uma máscara. Mas, segundo outra pesquisa realizada na França, as máscaras podem interferir no aprendizado da leitura nos menores com dificuldades.

De forma geral, os estudos são escassos sobre o tema. Embora "não veja realmente nenhuma razão para alarme", avaliou Paul.

Os Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, principal entidade sanitária do país, consideram que "a limitada informação disponível não mostra evidência clara de que as máscaras afetem o desenvolvimento emocional e da linguagem das crianças". Recomendam o uso de máscaras a partir dos dois anos, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) o faz a partir dos cinco anos.

- Laços sociais -

No entanto, os psiquiatras têm outra opinião.

"O aspecto emocional é ainda mais importante", avaliou Manfred Spitzer, especialista em neurociências cognitivas da Universidade de Ulm, na Alemanha, ao observar que o primeiro que se perde usando uma máscara é o sorriso.

"Em questões educativas, há muitas trocas implícitas entre professores e crianças", declarou à AFP. "Se você altera esta comunicação, certamente vai interferir em um ensino bem-sucedido", avaliou.

Outro temor é que as máscaras afetem a capacidade de criar laços sociais. Muitos estudos demonstraram que o acessório complica a identificação de rostos e emoções, inclusive - talvez ainda mais - nas crianças menores.

Mas as conclusões sobre as consequências são diferentes.

Um estudo com crianças de 7 a 13 anos, publicado na revista PLOS One, confirmou que as emoções (medo, tristeza, irritação) são menos claramente identificáveis quando uma pessoa usa uma máscara, com resultados similares aos que se obtêm quando usa óculos de sol. Mas considerou "pouco provável que as interações sociais das crianças sejam radicalmente modificadas em sua vida cotidiana".

Enquanto isso, outros trabalhos, publicados na Frontiers in Psychology, mostraram que a capacidade de identificar emoções diminuía consideravelmente entre 3 e 5 anos. Com isso, segundo os autores, os resultados sugerem que a máscara "poderia potencialmente" afetar o "desenvolvimento social e o processamento emocional".

Então, há motivos para se preocupar?

"Acho que deveria nos preocupar como sociedade. Não acho que os pais devam se preocupar o tempo todo com isso", avaliou Carol Vidal, psiquiatra da Universidade Johns Hopkins.

Esta cientista trabalha em estabelecimentos escolares nos Estados Unidos e faz parte de um grupo que defende a suspensão da obrigatoriedade das máscaras nas escolas, onde é, de toda forma, complicado vigiar sua aplicação.

"Não são mais necessárias a esta altura da pandemia", disse à AFP, por considerar baixo o risco que as crianças correm perante a covid-19 e as vacinas disponíveis desde os cinco anos.

É uma questão de equilíbrio entre os custos e benefícios envolvidos, ressaltou. Os que propõem as máscaras talvez não "sejam dramáticos no sentido de que pode ser que não tenham efeitos imediatos, mas acho que deveríamos ser prudentes" a respeito.

Petrolina foi a única grande cidade de Pernambuco a receber o selo Unicef 2020. O reconhecimento do órgão internacional foi anunciado, nesta terça-feira (8), em uma solenidade com a presença de embaixadores brasileiros da entidade, como os artistas Renato Aragão, Lázaro Ramos e Bruno Gagliasso. O selo é concedido a municípios que adotam políticas públicas voltadas para o desenvolvimento infantil e redução de desigualdades.

Para receber o selo, a Prefeitura de Petrolina precisou, ao longo dos últimos quatro anos, cumprir um conjunto de metas e 11 indicadores nas áreas de educação, saúde, proteção social, segurança, acesso a direitos, tudo com foco na infância. Todas as etapas de implantação dos programas, políticas e ações foram monitoradas de maneira rigorosa por especialistas da Unicef.

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Na edição de 2017-2020, o processo teve recorde de municípios inscritos. Foram 1.924 prefeituras participantes da avaliação da Unicef. Em Pernambuco, 123 cidades se inscreveram, 34 delas receberam o selo, mas apenas Petrolina se enquadra entre os municípios de grande porte, com mais de 100 mil habitantes.

Após o anúncio feito pela Unicef, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, comemorou o resultado. O gestor sertanejo classificou a conquista como um reconhecimento do trabalho intersetorial realizado na cidade que tem diversas medidas para melhorar a vida das crianças e famílias sertanejas. "É um orgulho enorme encerrar esses primeiros quatro anos de trabalho com um reconhecimento tão especial. Petrolina é referência em educação, saúde, no social, por conta de várias ações que buscam garantir a melhoria de qualidade de vida. Investir em nossas crianças é garantir dignidade e um futuro melhor para nossa cidade", descreveu o prefeito.

A Unicef (Fundo de Emergência Internacional para a Infância) é um braço da Organização das Nações Unidas - ONU. Desde 1999, a instituição internacional promove a entrega do selo a prefeituras para estimular a redução de desigualdades, promover o acesso à educação, saúde e outros direitos básicos.

*Da assessoria 

Em tempos de pais e mães superprotetores, pesquisas têm mostrado que o desenvolvimento das crianças é muito melhor quando elas se expõem a riscos. Não se trata de deixar o filho se pendurar na janela ou atravessar a rua sozinho. Mas encorajar a vontade dos pequenos de escalar brinquedos altos, subir em árvores e descer de cabeça para baixo no escorregador ajuda a formar pessoas seguras, com mais resiliência, habilidades sociais e até com melhor aprendizado. Estudos internacionais passaram, inclusive, a recomendar a construção de parquinhos "mais perigosos".

Especialistas discordam de ambientes com pisos acolchoados, brinquedos só de plástico, pontas protegidas, piscinas de bolinhas. E recomendam, por outro lado, que áreas de playgrounds e de pátios escolares tenham areia, toras, pedras, pneus. Os brinquedos devem ser construídos em madeira, altos suficientes para impor desafios, com escadas, rampas e pontes elevadas para estimular o equilíbrio.

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As descrições acima, no entanto, apavoram a maioria dos pais. O grande temor é que as crianças se machuquem. Mas uma grande pesquisa feita no Canadá, que analisou 21 estudos sobre o assunto, concluiu que não há relação entre aumento de quedas e machucados e altura dos brinquedos. E que crianças que se arriscam mais, na verdade, se machucam menos. Elas acabam desenvolvendo habilidades físicas e compreendendo seus limites. "Hoje se entende que cuidar bem é super proteger, mas na verdade os pais estão tirando a oportunidade dos filhos se desenvolverem", diz Laís Fleury, coordenadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.

"Que mensagem estão passando às crianças ao dizer ‘pare’ ou ‘cuidado’? De que elas não são capazes de se cuidar, de tomar decisões e que o mundo é mundo perigoso para elas", disse ao jornal O Estado de São Paulo a pesquisadora Mariana Brussoni, da Universidade de British Columbia, autora do estudo. Segundo ela, os pais precisam aprender a lidar com a própria ansiedade e insegurança para saber avaliar o que é um perigo real.

"Eu sempre sugiro que contem até 17 quando quiserem dizer ‘pare’. Em geral é tempo suficiente para a criança brincar e o pai perceber se realmente deveria ter interferido." A pesquisa concluiu que há mais efeitos positivos à saúde das crianças ao participar de brincadeiras que envolvem risco do que ao evitá-las. Melhora a criatividade, a resiliência e a interação social - e não aumenta agressividade.

O estudo é um dos que endossam um documento mundial elaborado pela Internacional School Grounds Alliance. Por meio dele, a organização, presente em 16 países, pede que pais e educadores incentivem políticas para que os pátios das escolas tenham atividades "com níveis benéficos de risco". "O mundo é cheio de riscos, as crianças precisam aprender a reconhecê-los e responder a eles se protegendo e desenvolvendo sua própria capacidade de avaliá-los", diz o manifesto.

Na Nova Zelândia, uma outra pesquisa incentivou que oito escolas deixassem os parquinhos "mais perigosos" e acabassem com regras como a de não poder brincar na chuva, por exemplo. Elas foram comparadas com outras que não mudaram nada. Depois de dois anos, os alunos das escolas com intervenções se diziam mais felizes, brincavam com mais colegas e tiveram menos problemas com bullying. "Crianças precisam ir experimentando um pouco de risco de acordo com a idade. Ou, no futuro, podem tomar decisões terríveis quando estiverem no controle das suas vidas, diante de bebidas alcoólicas ou dirigindo um carro", afirmou ao jornal uma das responsáveis pela pesquisa, a professora Rachael Taylor, da Universidade de Otago.

Liberdade. Na semana passada, Amelie, de 4 anos, experimentava vários jeitos e, enfim, conseguiu empilhar cubos, caixa e baldinhos para fazer as vezes de um banco. Ela e as amigas subiram na estrutura nada estável para olhar do outro lado do muro da escola onde estuda no Pacaembu, a Jacarandá. Os três professores que estavam no pátio não interferiram e um deles apenas ficou numa distância em que pudesse ajudá-las numa eventual queda. Na escola, até bebês engatinham no chão de pedra e, aos 3 anos, todos já podem subir nos brinquedos altos.

"As crianças vão se adaptando e organizando o movimento no ambiente em que elas estão. O corpo é a base do desenvolvimento psíquico, emocional e cognitivo, é assim que elas aprendem", explica a coordenadora pedagógica da escola, Vitória Reges Gabay de Sá. "Os pequenos machucados também são aprendizagem. Não é que vamos provocar machucados nem frustrações, mas a vida é assim."

Na Escola Grão de Chão, na Água Branca, as crianças fazem fogueira, são livres para subir nas árvores e brincam em instalações feitas com pneus, pedras e tocos de madeira. Nas aulas de artes, com ajuda dos adultos, alunos de no máximo 6 anos usam serrotes e martelos. "Nossa preocupação é com a criança que não quer desafio, que só quer ficar quietinha desenhando ou com um brinquedo", diz a diretora Lucília Franzini.

Para os pais, há a angústia de descobrir o equilíbrio entre proteger e incentivar os desafios. "Eu não quero que ele chore, se machuque, mas sei que se devolve ao se expor aos riscos. Então fico o tempo todo me questionando até onde posso deixar ele ir", diz a publicitária Tatiana Tsukamoto, de 35 anos, mãe de Max, de 8 meses. "Eu já cogitei mandar meu filho com capacete para a escola por causa de um brinquedo alto", conta a dentista Ana Elise Valente, de 43 anos, mãe de Gabriel e Miguel. Hoje ela diz perceber o absurdo da ideia.

"Sempre temos que explicar para os pais que não dá para arredondar todas as quinas do mundo", diz a diretora da Escola Projeto Vida, Monica Padroni, que fica em um sítio na zona norte com casa na árvore e escorregadores enormes. A enfermeira Aline Marques, de 29 anos, conta que o filho de 3 precisou de terapia e fonoaudiologia para começar a falar por causa da proteção exagerada. "Nem em areia eu deixava ele brincar e, por isso, não se desenvolveu." Depois que a mãe mudou a atitude, diz, ele se tornou outra criança.

Natureza ajuda na exposição a riscos

Uma boa maneira de expor as crianças a riscos benéficos, segundo especialistas, é deixá-las brincar na natureza. A Sociedade Brasileira de Pediatria passou a recomendar que crianças tenham "acesso diário, no mínimo por uma hora" a ambientes como parques, praças e praias para "se desenvolver com plena saúde física, mental, emocional e social".

O manual, elaborado com apoio do Instituto Alana, também pede a pais e escolas que permitam que as crianças se engajem em atividades com riscos. "O desafio é intrínseco à natureza, o terreno não é nivelado, têm várias diferenças de altura, de textura", diz a coordenadora do programa Criança e Natureza do Alana, Laís Fleury. O documento tem a intenção de combater a exposição excessiva a telas e o confinamento das crianças, que só brincam em espaços fechados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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