Hoje (29) é o dia do dublador, profissional que utiliza a voz para dar vida a personagens de filmes, animações e outros produtos da indústria do entretenimento, além de também garantir o entendimento dos diálogos por parte dos espectadores. Ao longo de suas carreiras, os dubladores colecionam histórias que marcaram suas vidas.
O dublador Ricardo Juarez conta que iniciou sua carreira de dublador por acidente, pois inicialmente, pretendia fazer apenas locuções. “Meu professor falou que eu tinha um timbre bom, mas a minha interpretação era muito engessada, então, fui fazer teatro para melhorar a interpretação, foi lá que eu descobri a dublagem”, lembra.
##RECOMENDA##A princípio, Juarez acreditava que faria apenas pequenos papéis, mas em 1997 ele foi escalado para dublar o personagem Johnny Bravo, do desenho de mesmo nome da Cartoon Network. A partir deste momento, a carreira do dublador cresceu e ele começou a conquistar outros papéis maiores.
No decorrer de sua carreira, Juarez dublou atores como Jean-Claude Van Damme, Jack Black, Will Ferrell, Greg Kinnear e Robert Patrick. Atualmente, o dublador realiza diversos trabalhos em localizações de jogos, entre elas, o vilão Pinguim nos jogos “Batman: Arkham Origins” (2013) e “Batman: Arkham Knight” (2015); o narrador do game “Halo Wars 2” (2017) e o espartano Kratos, dos games “God of War: Ascension” (2013) e “God of War” (2018).
Em animações, além do Johnny Bravo, Juarez também emprestou sua voz para o narrador de “Digimon Adventure” (1999) e “Digimon Adventure 02” (2000); Edu em “Du, Dudu e Edu” (1999) e Tygra em “Thundercats” (1985). “É difícil pensar em apenas um trabalho, é como perguntar para um pai qual é o seu filho preferido. Eu amo todos os meus personagens, desde os pequenos, até os grandes”, declara.
A dublagem pode ter diferentes significados na vida de um dublador, mas, para Juarez, o mais importante é poder colocar um sorriso no rosto de uma pessoa. "Eu digo que sou colecionador de sorrisos, pois saber que fui responsável por um determinado momento de alegria é algo sem preço. É uma felicidade muito grande saber que eu emocionei ou ajudei alguém, por meio do meu trabalho. Eu escuto muito a frase 'você fez parte da minha infância'", descreve o dublador.
Já o dublador Nelson Machado, conheceu o mundo da dublagem ainda na infância, graças a sua mãe, que também era dubladora. Também realizou outros trabalhos no teatro, televisão, rádio e durante um tempo, foi professor de matemática. “Mas a profissão de dublador foi a que ficou para a minha vida”, diz.
Entre os principais trabalhos de Machado se destacam, o Kiko do seriado “Chaves” (1971), junto a todas as atuações do ator mexicano Carlos Villagrán, nas obras de Roberto Bolaños (1929-2014); Fred Flintstone de “Os Flintstones” (1960); Glomer da animação “Punky” (1985); Chucky de “Brinquedo Assassino” (1988) e o protagonista do desenho “Darkwing Duck” (1991).
Por ter iniciado na profissão de dublador em 1968, Machado presenciou diversas evoluções. Antigamente, os profissionais viam o filme por meio de um projetor de 16mm e a gravação era feita por meio de um Gravador Ampex, de um canal, com todo mundo junto. Atualmente, o profissional explica que a dublagem dispõe de muito mais recursos, soluções técnicas e cuidados. Diferente de antes, cada profissional grava sua parte de maneira separada. “Além disso, houve uma evolução no número de dubladores e estúdios, que cresceram brutalmente, tanto no Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades do país. Antigamente tínhamos uma faixa de 100 profissionais, hoje nos aproximamos de dois mil”, exemplifica.
Para Machado, as características que definem um bom dublador variam de acordo com o profissional, mas a princípio, ele acredita que seja necessário o talento do ator. “Eu acredito que nenhuma escola seja capaz de dar talento para as pessoas, ou ela têm ou não têm. Os cursos ou experiência no trabalho podem lapidar, melhorar e dar mais ferramentas para esse talento. Mas se não tiver talento, não vai adiantar”, afirma. O dublador também explica que é necessário o aprendizado da técnica de dublagem, pois o mercado exige que o trabalho seja feito da melhor maneira possível e de forma rápida.
Assim como a vasta maioria dos profissionais de dublagem, o dublador Marcio Navarro, ingressou na carreira como ator, em teatros, participações em novelas e cinema. Em 2012, ele foi convidado para realizar um teste para o game “Assassin's Creed III” (2012) e foi escolhido para ser a voz brasileira do personagem Benjamin Franklin.
Para ele, a dublagem é uma profissão necessária, pois além de possibilitar o entendimento, muitas interpretações são capazes de emocionar o público. “Na minha vida, é minha profissão, meu sustento, mas também é o recurso que facilita o meu entendimento em filmes, séries, desenhos e games. E sou muito feliz de participar, emprestar minha voz e levar um pouco de alegria aos admiradores do meu trabalho”, comenta.
A dublagem também costuma ser alvo de críticas e preconceitos, especialmente por parte de pessoas mais puritanas em relação ao idioma original. Mas Navarro destaca que, com o tempo, os dubladores conquistaram muitos fãs que tinham curiosidade em descobrir os rostos das vozes conhecidas. Além disso, as redes sociais também possibilitaram a interação destes profissionais com o público. “Eu, por exemplo, tenho um canal no YouTube, também estou no Instagram e no Facebook; e respondo os fãs sempre que posso”, ressalta. Conheça o canal do Navarro: https://www.youtube.com/marcionavarrodub
A dubladora Beatriz Villa considera que o mais fascinante da dublagem é poder vivenciar diferentes tipos de personagens. “De manhã você grava uma deusa nórdica e à noite você pode dublar um cachorrinho de um desenho animado polonês. Todo dia é cheio de surpresas”, aponta.
Entre os principais trabalhos, Beatriz enfatiza a Deusa Freya no game “God of War” (2018) e a Mãe Miranda, principal vilã do recém lançado “Resident Evil Village” (2021). “Essas duas personagens do mundo dos games me deram muita visibilidade e ambas são muito marcantes e intensas, de maneiras diferentes”, explica. “Mas um papel que também amei fazer, foi a Kelly na série 'Ash Vs. Evil Dead' (2015), uma comédia de terror maravilhosa e totalmente surreal”, complementa.
Ao consumir conteúdos dublados, muitos fãs mostram interesse em ingressar na profissão. “Vou parafrasear o mestre da dublagem Nelson Machado: o mais importante é a ‘leitura’. Seja um bom leitor e tenha boa interpretação de texto”, aconselha Beatriz, e também explica que é importante fazer aulas de teatro e conseguir o documento Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de ator. “Mantenha o consumo de diversos tipos de arte, cinema, teatro, games, artes plásticas, entre outras”, recomenda.
A profissional destaca a importância de procurar um bom curso de dublagem e anuncia que, em breve, abrirá novas turmas para o seu curso online “Magia da Dublagem”.