Empresas distribuidoras de gás oxigênio em Pernambuco enviaram uma carta aberta alertando para um risco acentuado de crise no abastecimento do insumo no estado. Os distribuidores pedem uma maior produção de oxigênio nas fabricantes e que sejam diminuídas as cargas de oxigênio para fim industrial, com redirecionamento para fins medicinais.
Assinam a carta cerca de 20 distribuidores responsáveis por recolher os cilindros de oxigênio nas fábricas e entregarem em unidades de saúde em cidades de pequeno e médio porte em Pernambuco. A carta aberta é direcionada ao Governo de Pernambuco, Presidência da República, prefeitos, deputados e à população.
##RECOMENDA##Segundo o advogado Flávio Fernando Gomes Dutra de Oliveira, que representa as distribuidoras, algumas delas registraram o triplo da demanda nos últimos 40 dias. “Eu trabalho representando as distribuidoras há uns dez anos e nunca vi uma empresa vir com o caminhão, chegar na indústria e não ter todos os cilindros abastecidos. Hoje a empresa deixa os cilindros e vem pegar em três dias. E às vezes não consegue abastecer todos”, diz.
O advogado diz que é a primeira vez desde o início da pandemia que esses empresários se reúnem para escrever uma carta aberta, o que denotaria a situação crítica no estado. “Eles solicitam que o governo interaja junto com os fabricantes no sentido de aumentar a produção e sanar as dificuldades”, reforça Flávio Fernando.
Nesta sexta-feira (28), o presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems-PE), José Edson de Souza, que também é secretário de Saúde de Gravatá, informou que dez cidades do interior relataram que há risco de ficarem sem oxigênio para os pacientes de Covid-19. São elas: Pesqueira, Sanharó, Cupira, Panelas, Carpina, São Bento do Una, Taquaritinga do Norte, João Alfredo, Belo Jardim e Lajedo.
Segundo o secretário, as cidades de Pesqueira e João Alfredo já estão avançadas para receber os cilindros. As demais cidades têm estoque até o próximo sábado (29). "Essas cidades estão correndo atrás com a Secretaria Estadual de Saúde para regularizar essas entregas ou conseguir algum paliativo", afirma ao LeiaJá. Alguns locais, por fazerem fronteira com a Paraíba, estão conseguindo insumo com o estado vizinho. Os municípios de Venturosa, Pesqueira, João Alfredo e Taquaritinga do Norte transferiram pacientes alegando risco de falta de oxigênio.
Ainda segundo José Edson, nas últimas duas semanas os municípios do interior de Pernambuco passaram a ter uma demanda de oxigênio cinco vezes maior. "Essa é a pior situação de todos os tempos desde o início da pandemia", diz. Ele afirma que há oxigênio suficiente nas fornecedoras, mas a maior dificuldade é a logística na distribuição.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que tem mantido contato permanente com os municípios e prestado apoio àqueles que estão formalizando solicitações. Após reuniões, 149 concentradores de oxigênio foram disponibilizados para 44 cidades. Segundo a pasta, Lajedo não fez solicitação formal.
A secretaria ressaltou que a Central de Regulação Hospitalar vem atuando para fazer o encaminhamento de pacientes de unidades municipais de menor porte para serviços de referência da rede estadual. Conforme a nota, não há risco de desabastecimento sistêmico em Pernambuco, que possui plantas industriais responsáveis pelo abastecimento do gás medicinal para outros estados do Nordeste.
"No momento, o que se nota é um problema de logística no reabastecimento dos cilindros de O2 de algumas cidades", informa. O Governo de Pernambuco enviou ofício ao Ministério da Saúde solicitando apoio, com o encaminhamento de 500 concentradores e mil cilindros de oxigênio, além de testes de antígeno e reforço na investigação genômica no Estado. "Contudo, até o momento, não há retorno da solicitação por parte do Governo Federal", finaliza a nota.
Nas redes sociais, o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) disse ter tratado da situação de desabastecimento no Agreste de Pernambuco com o general Ridauto Fernandes, coordenador de logística do Ministério da Saúde. De acordo com o parlamentar, durante a conversa o general recebeu uma mensagem do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tratando da situação. "É tempo de unir forças e se antecipar à crise para evitar que o pior aconteça", escreveu Gadêlha.
Na noite desta sexta-feira, em nota enviada à imprensa, o Governo do Estado reforçou sua alegação de que não existe risco de falta de oxigênio hospitalar. “Eu gostaria de deixar bem claro que não há falta de oxigênio nas 66 unidades de saúde do Governo de Pernambuco, tampouco nas unidades de referência para atendimento dos casos de Covid na rede estadual. O abastecimento desse e de outros insumos para os hospitais estaduais está assegurado pela empresa fornecedora de gases hospitalares para o nosso sistema de saúde. Temos registrados, sim, casos de municípios que, em suas unidades próprias, estão tendo dificuldade em repor seus estoques. Muitos desses municípios possuem contratos com empresas de pequeno porte que não estão conseguindo atender o aumento da demanda”, disse o secretário estadual de Saúde, André Longo.