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O publicitário Galileu Araújo Nogueira, de 33 anos, receberá R$ 40 mil de indenização da rede de farmácias Droga Raia, após ser vítima de um episódio de homofobia em uma unidade da empresa no centro de São Paulo.

Durante a realização do cadastro de cliente, Nogueira teve seu primeiro nome trocado para “Gaylileu”, em 2021. Ele percebeu a ofensa através da entrega de newsletters e mensagens de texto semanais, com ofertas da farmácia. 

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"Me dou por satisfeito. É muito importante a Droga Raia fazer essa doação para a Casa 1, porque lá há treinamento para qualificação profissional de pessoas LGBT. Se a Droga Raia não tivesse aceitado fazer a doação, eu teria feito”, declarou a vítima. 

Com a indenização que recebeu, Galileu informou que irá dar bolsas de estudos para jovens LGBTQ+ que queiram se especializar em comunicação. O publicitário também usa suas redes sociais para mostrar seu trabalho como estrategista de marcas, além de dar aulas de “branding”, estratégias de construção de marcas. 

A outra parte do valor da indenização vai ajudar a ONG Casa 1, que recebe gratuitamente pessoas de 18 a 25 anos que foram expulsas de suas casas pelas famílias por causa de suas orientações afetivas sexuais e identidade de gênero. 

“Eu não tinha ideia de que a notícia de que a homofobia perdeu ia ganhar tanto espaço e tanta visibilidade. Geralmente, o que ganha espaço é a homofobia em si, a violência, e não exatamente que a gente está caminhando”, declarou em suas redes sociais, nesta sexta-feira (13). De acordo com Galileu, mais de 150 pessoas já se inscreveram no projeto que concede as bolsas de estudo. 

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O publicitário Galileu Nogueira, 33, denunciou em suas redes sociais ter sido vítima de homofobia da empresa farmacêutica Droga Raia. "Eu fiquei em choque", disse em entrevista ao Estadão, como reagiu quando viu seu nome trocado no registro da empresa. Em qualquer compra que ele fizesse, seja online ou presencial, surgia "Gaylileu". Adicionaram um ‘y’ no nome de origem dele, uma espécie de alusão à palavra gay. Inicialmente, ele imaginou ser um erro de digitação. Somente após realizar mais de uma compra constatou que foi uma falha proposital com o intuito de zombar da sexualidade dele. "Ninguém merece ser tratado dessa forma. Tem que ouvir quem passou pela dor", desabafou.

A primeira vez em que Galileu percebeu o equívoco foi há mais de um ano, no dia 13 de janeiro de 2021. Dois meses depois, ele notou novamente a mudança do nome. Primeiro, ele descadastrou o número das promoções e avisos que recebia via SMS. No entanto, ele contou que essa tática não foi suficiente. Segundo ele, ainda havia um incômodo ao realizar compras presencialmente e se deparar com o nome. Em uma das situações narradas pelo consumidor, um funcionário de uma das unidades da farmácia, perguntou: "seu nome é 'Gaylileu' mesmo?"

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Foi em março do ano passado que o publicitário decidiu questionar a empresa. Ele abriu uma denúncia no Conselho de Ética da própria marca. Mas ficou dois meses sem qualquer resposta, conforme relatou. "Os contatos não aconteciam". Foi a partir dessa lacuna que resolveu abrir um processo judicial contra a farmácia.

Em nota enviada à reportagem, a Droga Raia disse que sempre esteve "aberta para o diálogo". Essa afirmação é refutada por Galileu. De acordo com o publicitário, a empresa não apresentou interesse em reforçar a diversidade dos funcionários e se comunicar com ele de forma mais humanizada. "Não houve nenhuma movimentação. O caso aqui é sobre descaso".

Na segunda-feira, 21, houve uma audiência de conciliação, mas as partes não entraram em acordo. A defesa de Galileu fez três pedidos: solicitou R$ 30 mil por danos morais, um treinamento sobre homofobia para os funcionários da rede - promovido por uma ONG LGBTQIA+ -, além de uma retratação. Na contraproposta da Droga Raia, os representantes ofereceram R$ 5 mil e informaram que a empresa já possuía uma capacitação interna sobre inclusão e diversidade para os colaboradores. O publicitário não aceitou a oferta.

Descontentado com o rumo que o processo tomou, ele optou por tornar o caso público. "Tive muita angústia durante esse ano, os advogados não respondiam". Exato uma semana após a audiência, na segunda-feira, 28, Galileu compartilhou em sua conta oficial no Instagram que sofreu homofobia velada e que se sentiu "no dever de compartilhar essa história para inspirar pessoas LGBTQIA+ a tomarem atitudes como também para gestores de marca ficarem atentos ao universo que a marca cria", escreveu no post.

Na publicação, o publicitário reiterou que acreditava na conciliação entre ele e a Droga Raia, mas afirmou que não ficou satisfeito com a conduta da rede farmacêutica. Para ele, faltou transparência. "Eu poderia até colaborar", disse em referência aos treinamentos que sugeriu para a empresa. "Vocês querem me ouvir? Eu tenho algo para falar sobre o assunto. Tinha que apurar e entender o que aconteceu lá dentro".

A origem da mudança do nome de Galileu não foi identificada pela farmácia, segundo o publicitário. Agora, ele pretende seguir com o debate sobre o preconceito acerca da mudança de nome sem consulta do consumidor. "É um tema que passa batido todos os dias. Pessoas com nome social podem estar sofrendo agora". Por atuar em grandes empresas como estrategista de branding, responsável por elaborar planos e diretrizes para a construção de uma marca, ele considera que esse tipo de situação é "ruim para os negócios e para as pessoas".

COM A PALAVRA, A DROGA RAIA

"A Droga Raia repudia veementemente a homofobia. Reconhecemos e lamentamos o transtorno que o Sr. Galileu sofreu. Pedimos desculpas pelo o que aconteceu. Enfatizamos que, assim que ficamos sabendo da troca do nome, um ano atrás, corrigimos o cadastro imediatamente e informamos o Sr. Galileu que o nome foi corrigido e revisamos os procedimentos internos. Durante estes doze meses sempre estivemos abertos para o diálogo. Tentamos chegar a um acordo em relação à indenização solicitada, mas não obtivemos êxito e continuamos abertos ao diálogo. A Droga Raia é integrante do Fórum de Empresas e Diretos LGBTI+ e fazemos questão de divulgar internamente para os nossos 50 mil funcionários que a empresa respeita a comunidade LGBTI+, assim como divulgamos o compromisso público de ter um ambiente livre de discriminação presenciada ou vivida nas nossas farmácias, escritório e centros de distribuição, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis da ONU (ODS) contra a discriminação de Pessoas com Deficiência, LGBTI+, negros, sêniores 60+ e mulheres."

O Ministério Público do Trabalho (MPT) de São Bernardo do Campo protocolou na Justiça uma ação contra a Droga Raia Drogasil no valor de R$ 2 milhões. A rede de farmácias é acusada de realizar revista íntima em seus funcionários, atitude proibida pelo regime CLT. A intenção é combater o roubo de medicamentos.

A investigação do caso começou em 2016 após denúncias anônimas. De acordo com nota enviada pelo MPT, a empresa assumiu fazer revista diária de bolsas e mochilas dos funcionários sempre ao final do expediente.

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A procuradora do Trabalho Sofia Vilela, responsável pelo caso, aponta que esse tipo de ação viola os direitos à intimidade e à vida privada dos trabalhadores. Em audiência realizada em maio deste ano, foi proposto um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), quando a empresa pediu prazo de 45 dias para apresentar sua proposta de acordo sem a necessidade de assinatura do documento.

Após o fim do período, a companhia afirmou que implementaria um procedimento que inclui manutenção dos pertences dos funcionários em armários trancados, com a gerência assumindo responsabilidade por deixar os objetos em sacolas lacradas. Assim, não seria necessária a revista pessoal. Essa nova medida teria prazo de 90 dias para testes e apresentação perante o MPT.

Ainda de acordo com o órgão, a empresa não cumpriu o prazo, foi notificada novamente para entrega do cronograma e afirmou que era inviável cumprir o acordo. Dessa forma, as revistas foram mantidas entre os 30 mil funcionários espalhados pelo Brasil, resultando no pedido de pagamento por dano moral coletivo causado à sociedade fixado em R$ 2 milhões.

"A ré considera que a prática de revista íntima nos pertences de seus empregados configura conduta aceitável, justa e de acordo com os preceitos legais. Nota-se um descaso da empregadora com a dignidade de seus empregados, bem como com a sua obrigação legal e moral de preservar a intimidade daqueles que são sua força de trabalho", explica a procuradora do Trabalho Sofia Vilela.

"Veja-se que a empresa não observa, sequer, o que impõe o princípio da presunção da inocência, pois a revista íntima pressupõe a desconfiança do empregador perante seus subordinados, maculando a confiabilidade que deve imperar na relação de emprego, obrigando os empregados a comprovarem sua inocência ao fim de cada dia de trabalho. Tal comportamento não encontra lastro no poder de direção do empregador, por privilegiar o abuso do direito de propriedade em detrimento de diversos valores constitucionais, tais como a dignidade da pessoa humana do trabalhador, seus direitos de personalidade, o princípio da presunção da inocência, as garantias dos acusados e o monopólio estatal da segurança", finaliza .

A empresa também deverá pagar multa de pelo menos R$ 20 mil por obrigação descumprida, por dia de descumprimento e por empregado a ele submetido, multa esta reversível a instituições, entidades ou programas/projetos públicos ou privados de fins não lucrativos, ou sucessivamente ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Outro lado

Procurada, a empresa afirmou que não realiza revista íntima em seus funcionários em nenhuma das lojas. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Droga Raia Drogasil informa que "preza pelas relações de respeito e confiança, repudiando qualquer prática que possa representar abuso ou ofensa à dignidade de seus colaboradores". Segundo a nota, a questão está sendo discutida em processo judicial e não existe ainda decisão sobre o caso.

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