No meio do caminho, tinha... um navio de 220 mil toneladas. O mundo se viu atônito – como se não bastasse a pandemia – com o bloqueio do Canal de Suez, por onde passam cerca de 12% do comércio mundial, depois do encalhe do navio Ever Given. O navio que bloqueou a passagem causou impactos em diversas escalas na economia mundial. O desencalhe após seis dias foi um alívio para muitos, mas os impactos ainda poderão ser sentidos.
O Canal de Suez foi inaugurado em 1869, passa pelo Egito, ligando o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, e é importante via de tráfego marítimo entre Europa e Ásia. Após o encalhe, mais de 400 outras embarcações se acumularam nas proximidades, impedidas de prosseguir. Muitas acabaram mudando de trajeto e dando a volta pelo extremo sul da África, tendo que percorrer milhares de quilômetros a mais para chegarem a seus destinos. Pelo Canal de Suez, passam, diariamente, cerca de R$ 53 bilhões em mercadorias. Com o navio encalhado durante seis dias, a estimativa é de perdas econômicas diretas ou indiretas de mais de R$ 300 bilhões. Petróleo, gás, commodities em geral, são transportados pela via marítima. O atraso na entrega poderá gerar aumentos nos preços e desencadear reajustes.
É realmente impressionante como parte da economia mundial depende essencialmente de uma passagem marítima. O canal facilitou a comunicação entre Europa e Ásia, barateando custos de transporte de inúmeras mercadorias. Agora, parado, o efeito foi o contrário. Algo tão inesperado, mas que acende uma luz amarela. O Ever Given, da taiwanesa Evergreeen, é um porta-contêineres gigante de 400 metros de comprimento, um gigante que flutua, e outros como ele podem e devem aparecer e ser cada vez mais comuns. Com este novo patamar de “mega-navios”, há toda uma questão logística envolvida, e, agora, também surge a necessidade de estratégias de contingência. Por azar, o Ever Given encalhou justamente em um trecho do Canal de Suez que é de via única, travando de vez o tráfego.
O incidente serve de lição não só para a administração da via, mas para projetistas ao redor do mundo: é sempre preciso pensar nas possibilidades, desenhar cenários de futuro, mesmo os mais adversos, e desenvolver planos para lidar com eles. O incidente no Canal de Suez também nos serve como evidência de que a economia está, de fato, hiperconectada, e que acontecimentos do outro lado do mundo podem afetar nossa vida. Por isso, é importante estar atento aos movimentos do mercado global. Não estamos mais em uma realidade de isolamento de mercados locais, mas de interdependência. E é preciso estar preparado para esses acidentes e percalços, que podem custar caro.