Por volta das 3h40 da manhã desta quarta-feira (15) cerca de 300 pessoas derrubaram o muro de um terreno localizado na Estrada dos Remédios, em Afogados, e o invadiram para montar seus barracos. Às 10h30, quando a reportagem do LeiaJá esteve no local, alguns “lotes” já estavam à venda por R$ 300.
Mas segundo alguns líderes da ação, a ocupação faz parte da Jornada de Luta Nacional pela Reforma Urbana e pela Moradia de Interesse Popular. “O Minha Casa Minha Vida está em crise por conta da tesoura do ministro Levy, mas o Brasil ainda tem 7,7 milhões de famílias sem moradia e cerca de 5 milhões de imóveis subutilizados. Esse movimento é para chamar a atenção quanto à esse déficit”, disse Marcos Cosme (foto), coordenador da União Nacional de Luta pela Moradia Popular (UNLMP).
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Testemunhas afirmaram que uma caminhonete teria derrubado o muro para a entrada das famílias, que ocuparam quase que a totalidade do terreno. Seguranças apenas observaram a ação de invasão. “Não negociaram nada. Derrubaram o muro e invadiram. Tem alguns aqui do Caranguejo (comunidade próxima) e os outros vieram em um ônibus”, contou uma pessoa que não quis se identificar.
Apesar da maior parte do terreno estar com aspecto de abandono, uma parte dele abriga um galpão com algumas ferragens. É que a área invadida seria de propriedade da Ferreira Costa, loja de matérias de construção e afins. “A Ferreira Costa paga o Foro (uma espécie de aluguel anual, cobrado dos donos de imóveis construídos em terrenos que pertencem ao Estado) do terreno, mas não tem a escritura. Eles estão entrando na justiça, mas não vão ter como provar”, afirmou Cosme.
Ainda segundo o coordenado da UNLMP a ação foi planejada e o terreno escolhido a dedo, visto que há dois anos um grupo de trabalho montado para mapear os terrenos da União esteve no local. “Viemos aqui com a SPU (Superintendência do Patrimônio da União), com a Caixa e com cinco integrantes dos movimentos sociais, que fizeram a vistoria desse terreno e de mais outros oito”, contou.
“INVESTIMENTO” – Uma parte dos que ocuparam o local pagam aluguel em outros lugares e almejam a casa própria. Outra menor, não tem onde morar. Mas, segundo alguns dos “invasores”, a maioria já tem casa e está ali para faturar. “Tem gente aqui que tem dois ou três barracos em outros lugares e vem só para ter mais um. Muitos alugam depois por 150, 200 ou até 300 reais, dependendo da quantidade de cômodos”, afirmou um deles.
Um outro que demarcava seu lote no terreno reclamou do abuso de alguns que ocuparam a área. “Teve um aqui que chegou e já pegou três lotes. Agora há pouco tinha uma mulher chorando porque não conseguiu pegar nenhum para ela e ele ofereceu por R$ 300 reais. Tem muita gente que não precisa e mesmo assim está aqui”, denunciou.
As informações podem até não serem totalmente verdadeiras, mas a reportagem do LeiaJá flagrou pessoas chegando de diversos lugares, até mesmo de carro e moto para participar da invasão. Alguns se lamentavam por não ter conseguido “mais um” dos espaços e outros iam “para casa almoçar para depois voltar”.
Por meio da assessoria de comunicação, a Ferreira Costa adiantou que não vai se pronunciar sobre o caso.
Ocupação à tarde – O coordenador da União Nacional de Luta pela Moradia Popular (UNLMP), Marcos Cosme, disse que iria ocupar a partir das 14h a sede da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), localizado na Avenida Antônio de Góes, no Pina, Zona Sul do Recife. A intenção é pressionar o órgão para que o terreno seja cedido para a construção de moradias populares.
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