Muito presente no cotidiano dos brasileiros e brasileiras desde 2016 - quando foi considerado o termo mais procurado na internet no país, em um levantamento feito pelo Shutterstock -, o empoderamento feminino tem sido uma realidade cada vez mais presente na vida das mulheres do século 21. Reconhecido até pela Organização das Nações Unidas (ONU) como ferramenta de extrema importância na busca pela equidade de gênero e bem estar delas, o conceito extrapolou seu potencial teórico e vem sendo largamente expressado através de ações e movimentos que fortalecem as mulheres e suas identidades.
E isso tem sido alcançado das mais diversas maneiras. Desde a inserção delas em espaços antes predominantemente masculinos - como ambientes corporativos e esportivos, entre outros -, a ‘simples’ conquistas como assumir cabelos grisalhos; pelos no corpo; e até a perfuração de piercings. Essa último, inclusive, tem sido cada vez mais procurada por elas nos estúdios e clínicas do segmento. Seja para atuarem como body piercer, profissional do ramo, ou para mudarem o visual colocando joias que reforçam a feminilidade e expressam sua liberdade de mulher.
##RECOMENDA##Atuando na profissão há pouco mais de dois anos, a pernambucana Carla Moana viu na prática esse movimento acontecer. Ela própria decidiu virar body piercer após começar a trabalhar como recepcionista em um estúdio de tatuagem localizado na Zona Norte do Recife (PE). Já interessada no assunto, a ‘Fada dos Piercings’, como é conhecida, mergulhou nos estudos, se profissionalizou e hoje atende a um público majoritariamente feminino.
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Em entrevista ao LeiaJá, Carla conta que as mulheres passaram a procurar mais pelo serviço depois que ela assumiu as perfurações. “Uma amiga passa (a informação) para a outra e aí elas começam a vir”. A body piercer revela que, atualmente, um dos tipos de piercings mais procurados pela clientela feminina são os íntimos, aplicados na genitália e nos mamilos. Joias que, segundo ela, atuam diretamente na autoestima feminina. “Quando eu comecei, tinha poucas perfurações íntimas, porque elas não sentiam muita segurança em fazer com os profissionais homens. Hoje, eu faço muito piercing íntimo; tem semanas que chegam a ser cinco perfurações íntimas”.
As observações da body piercer reforçam outros conceitos frequentemente levantados em debates feministas e de equidade de gênero: os de que o empoderamento é um dos pilares do amor-próprio e que mulheres empoderadas são capazes de empoderar outras mulheres. No entanto, no que diz respeito às perfurações de piercings, a profissional costuma fazer ressalvas e pede cuidado na hora de optar pela colocação de uma joia no corpo. “O piercing é (um processo) mais agressivo que uma tatuagem, é uma perfuração. A cicatrização demora, cada piercing tem seu tempo, e é preciso ter dedicação e responsabilidade para cuidar. Algumas pessoas acabam sendo influenciadas a fazer o piercing, mas eu acho que se trata de algo íntimo, que traz a questão da nossa personalidade, que é algo único de cada ser. Então, é importante se observar para ver se realmente isso é algo que você gosta, que vai trazer um pouco da sua personalidade pra fora. Senão, acaba não sendo bom, porque você sentiu dor, gastou dinheiro e depois não se sentiu bem e não gerou coisas boas na sua autoestima, ainda que o piercing seja algo que você pode tirar depois”.
"O brilhinho de gratidão no olho da cliente não tem dinheiro que pague." (Carla Moana, body piercer) - Foto: Reprodução/Instagram
Autoestima reforçada
Além da alta procura pelos piercings íntimos, Carla diz que o que as mulheres mais querem encontrar no seu estúdio são projetos que reverberam sua feminilidade. Nesse sentido, ela busca trabalhar com joias exclusivas, com pedrarias e materiais como ouro e zircônias. Os projetos, elaborados para cada cliente, acabam seguindo as mesmas tendências que as tatuagem do tipo fine line, que assumem um ar de maior “delicadeza e elegância”. “Hoje em dia o preconceito em relação às tatuagens está menor, acredito que muito em virtude do fine line, as tattoos mais delicadas, então os projetos auriculares também vieram com essa potência dessa questão mais delicada, de trazer mais essa elegância, que acaba sendo mais aceitável na sociedade. Uma coisa foi puxando a outra, os dois se encaixam muito bem quebrando os preconceitos nessa área”.
Já para as que preferem um estilo mais tradicional, há os clássicos que nunca saem de moda, como os piercings na aba nasal, os populares ‘pontinho de luz’, e os que são colocados no umbigo. “Eles estão sempre em alta”, confirma a body piercer. Porém, seja em projetos mais ousados, com microimplantes (microdermal) e perfurações íntimas, ou os mais tradicionais, o importante mesmo, segundo a profissional, é alcançar, através da joia, aquele potencialização na autoestima que não só embeleza mas empodera, deixando a cliente mais segura de si. “O piercing é é um recurso de estética que traz felicidade para as pessoas. O brilhinho de gratidão no olho da cliente não tem dinheiro que pague. É o que a gente busca sempre entregar aqui”.