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A varíola do macaco seria uma doença "causada por vacinas" e as autoridades espanholas estariam cientes do problema antes que ela surgisse: rumores rondam a internet, como na pandemia de Covid-19.

- A varíola do macaco e a vacina AstraZeneca -

Publicações compartilhadas nas redes sociais desde maio sugerem que a varíola do macaco estaria relacionada à vacina anticovid produzida pela Oxford/AstraZeneca, já que entre seus componentes há um adenovírus de chimpanzé. A afirmação é uma falácia, segundo especialistas.

Esse adenovírus foi modificado geneticamente para que não possa se reproduzir no corpo humano e, além disso, pertence a uma família diferente da do vírus causador da varíola dos macacos.

Especialistas entrevistados pela AFP insistem que não há relação entre os dois patógenos.

A doença recebeu este nome ("monkeypox") porque foi detectada pela primeira vez em macacos, em 1958.

"No entanto, os macacos não são os hospedeiros. O mais provável é que na África, continente de origem do vírus, suas fontes sejam os roedores", disse à AFP o professor Flávio Guimarães Da Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

O adenovírus é utilizado na vacina como vetor para transportar instruções genéticas até as células do vacinado, que passa a produzir sua própria resposta imunitária contra a Covid.

Como as demais vacinas de "vetor viral", o adenovírus é incapaz de contaminar o organismo do vacinado.

- A varíola na Espanha -

Um mensagem no Telegram questionava por que o governo espanhol “comprou” dois milhões de doses da vacina contra a varíola em 2019. Segundo a publicação, essas vacinas comprovam que as autoridades sabiam que os casos viriam a aparecer.

Os especialistas explicam que a doença foi erradicada mas seu vírus não e que é normal que um país como a Espanha tenha reservas estratégicas do imunizante.

O médico Jaime Jesús Pérez, porta-voz da Associação Espanhola de Vacinologia (AEV), afirmou à AFP: "A varíola é uma doença erradicada, mas seu vírus ainda existe, tanto nos Estados Unidos como na Rússia, em laboratórios de segurança máxima".

A doença é considerada erradicada desde 1979 graças à vacinação. Desde 1984 não se imuniza a população geral.

- O diagnóstico -

Outras publicações em redes sociais ironizaram o supostamente "rápido" desenvolvimento de testes PCR para detectar o vírus da varíola do macaco e advertiram para resultados "falsos positivos, como ocorreu com a covid".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) explica que a forma mais adequada para diagnosticar a doença, além da clínica, é um teste PCR. Este é o protocolo há anos, muito antes da pandemia de Covid-19.

O teste PCR "é baseado no desenvolvimento de moléculas que apenas reconhecem o sequenciamento genético desse micro-organismo", disse à AFP Factual Álvaro Fajardo, doutor em Ciências Biológicas e pesquisador do Laboratório de Virologia Molecular (LVM) do centro de pesquisas nucleares do Uruguai.

Há quem diga que as máscaras são permeáveis demais para deter o vírus ou, pelo contrário, podem impedir a respiração. Essas e outras teorias sobre as máscaras - objeto indicado no combate à Covid-19 - continuam sendo espalhadas pelos que são contrários ao seu uso, apesar de já terem sido desmentidas por muitos cientistas há meses.

- Falta de oxigênio e muito CO2: FALSO -

A falsa ideia de uma "hipóxia" - deficiência de oxigênio - é uma das mais comuns. Algumas postagens nas redes sociais até afirmam que as máscaras podem matar.

No entanto, como muitos médicos explicaram à AFP, "a máscara não é um circuito fechado, ela permite que o oxigênio passe", ressalta, por exemplo, o médico Yves Coppieters, epidemiologista e professor de saúde pública da Universidade Livre de Bruxelas.

Em contrapartida, ela pode dar uma "sensação de desconforto, que dá a impressão de asfixia, mas é psicológico. No caso de uma pessoa com boa saúde, (a máscara) não a impede de realizar as atividades normais do dia a dia", acrescenta.

A essa crença se soma a teoria muito popular de que com ela você respira seu próprio CO2. Porém, "como não é um circuito fechado", "quase todo o ar expirado escapa", explica Shane Shapera, diretor do programa de doenças pulmonares do hospital público de Toronto, no Canadá.

- Propensão à cultura de bactérias, fungos, mofos: FALSO -

“As infecções fúngicas graves são raras”, explica Françoise Dromer, chefe da unidade de Micologia Molecular e do Centro de Referência Nacional para Micoses Invasivas e Antifúngicas do Instituto Pasteur, na França. "Nas condições de uso recomendadas, é impossível que fungos se desenvolvam dentro de uma máscara."

“Para que uma máscara apodreça, ela precisa, por exemplo, ser deixada úmida em uma sala cheia de mofo ou com um adubo, durante semanas”, acrescenta Dromer, lembrando que o apetrecho deve ser trocado a cada quatro horas.

Como "o ser humano tem bactérias normais na boca e nas narinas", "quando falamos expelimos gotículas de saliva e pode ser que haja fungos e bactérias que fiquem na máscara", diz Daniel Pahua, professor de saúde pública da Universidade Nacional Autônoma do México.

Mas “a maioria desses agentes não causa doenças, porque são bactérias que nós (já) temos na boca” normalmente, ressalta.

- Elas deixam o vírus passar: FALSO -

A teoria de que as máscaras deixam os vírus passarem porque os buracos do tecido são maiores do que os vírus também é muito popular.

Em primeiro lugar, "o tamanho da partícula viral não é relevante. É o tamanho das gotículas que contêm o vírus que conta", e as máscaras as filtram com folga, explica o médico Julian Leibowitz, professor de imunologia microbiana na Texas A&M University.

Por outro lado, a máscara cirúrgica não funciona como um coador, ela filtra de acordo com outros princípios físicos, como o efeito da inércia e da captura eletrostática, de forma a conter ao máximo as gotículas, mesmo as pequenas, segundo Jean-Michel Courty, professor de física na Universidade de Sorbonne em Paris e pesquisador do laboratório Kastler Brossel.

Além disso, "as máscaras não precisam ser 100% eficazes para desempenhar um papel significativo na redução da epidemia", aponta o virologista Benjamin Neuman, da Texas A&M University.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) as considera uma medida eficaz para limitar a propagação, junto com o distanciamento físico e a lavagem das mãos. E mais ainda quando são utilizadas em massa, já que seus usuários protegem uns aos outros.

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