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Uma espécie de sapo da floresta tropical brasileira, o "Thoropa taophora", tornou-se o primeiro anfíbio registrado vivendo em um harém, onde um macho acasala com duas fêmeas que permanecem leais a ele.

A chamada poliginia é considerada o sistema de acasalamento mais comum entre os animais e já foi encontrada em peixes ósseos, répteis, mamíferos, aves e até mesmo alguns invertebrados, disse à AFP Fábio de Sá, zoólogo da Universidade Estadual de Campinas.

Sá é um dos autores de um novo estudo publicado na revista Science Advances na quarta-feira (12), que agora mostra que a poliginia está presente em todos os tetrápodes, ou animais de quatro patas.

Os sistemas de acasalamento animal se mantêm entre a poligamia - que está associada a um estágio anterior da evolução - e a monogamia, que surge quando os filhotes de uma espécie exigem intenso cuidado dos pais.

A poliginia tende a ocorrer quando os machos são forçados a competir entre si pelas fêmeas e por recursos ambientais irregulares, como água e comida.

Sá e colegas decidiram investigar se essa espécie de sapo, encontrada na Mata Atlântica e conhecida por ser polígama em áreas de abundância, poderia exibir poliginia sob certas circunstâncias.

- Guerra de polegares -

Esses sapos preferem ficar em pedras e têm uma coloração marrom-avermelhada que os ajuda a se camuflar no ambiente. Os machos têm espinhos longos nos polegares, que usam em combate.

Os pesquisadores registraram os sapos em afloramentos rochosos nas margens da floresta tropical, onde existem relativamente poucas fontes de água doce ou "infiltrações" disponíveis e eles estão mais expostos ao sol. Com certeza, o cenário de poucos recursos teve um impacto.

Os machos patrulhavam suas áreas de reprodução e emitiam sons agressivos para afastar os intrusos, permanecendo perto de seus ovos e girinos para protegê-los. Quando invasores do sexo masculino ignoravam seus avisos, eles se lançavam sobre eles em ataque, com chutes e o uso dos espinhos para agarrar e arremessar seus oponentes.

- Relacionamento longo -

A equipe descobriu que os machos cruzavam com apenas duas fêmeas, em especial com uma dominante, mas também com uma secundária. As fêmeas dominantes tentavam induzir o acasalamento respondendo aos chamados de cortejo dos machos com suas próprias vocalizações. Enquanto isso, as fêmeas secundárias ficavam de lado, imóveis.

Entre outras descobertas, os pesquisadores viram que os girinos eram todos meio-irmãos do mesmo pai e uma das duas mães e, a partir da presença de girinos muito mais velhos dos mesmos pais, confirmaram que as relações de acasalamento eram de longo prazo.

O arranjo parece ter benefícios para ambos os sexos. Os machos precisam evitar que outros machos usem seus criadouros que não foram fáceis de encontrar, e é vantajoso diversificar a genética tendo várias parceiras.

“A vantagem para a fêmea é que é melhor ter um macho de boa qualidade e um criadouro de boa qualidade compartilhando-o com outra fêmea do que ficar exposta e não encontrar outro sapo ou encontrar um sapo de qualidade inferior”, acrescentou Sá.

A situação também gerou competição entre as fêmeas, o que é raro entre sapos: as fêmeas dominantes realmente respondiam aos chamados dos machos e pareciam empurrar as secundárias durante o cortejo.

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